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Jeová Silva Santana

Professor e escritor

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Por que Alagoas sangra?

Porque não estendeu às quebradas o amor às palavras de Aurélio Buarque de Holanda.

 (À memória dos 1.146 assassinatos até o fechamento deste poema)

Porque não ouviu as chaleiras sonoras de Hermeto Pascoal

 Porque não sentiu os desgostos de filha de Djavan

 Porque não chorou com o mundo coberto de penas de Graciliano Ramos

 Porque não leu o cavalo de chamas que lia a mesma página de Jorge de Lima

 Porque não dividiu a solidão do morto e da lua de Jorge Cooper

 Porque não se espantou com os malabares concretos de Edgar Braga

 Porque não entrou e saiu da amada com a lírica de Sidney Wanderley

 Porque não se irmanou à bruteza ternura de Jofre Soares

 Porque não ouviu o canto denúncia de “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues

 Porque não mergulhou no azul piscina de Carlos Moura

 Porque não teve na boca a cor das penas do tiê de Heckel Tavares

 Porque não atentou para os volteios atonais de Chau do Pife

 Porque não se ligou no pandeiro negra fulô de Rogério Dias

 Porque não deu lugar ao baticum solar de Carlos Bala

 Porque não compartilhou o amor aos loucos de Nise da Silveira

 Porque não sorriu com a siribobéia  de Eliezer Setton

 Porque não percebeu a trilha gonzaguiana de Tião Marcolino

 Porque não captou os dedos milagrosos de dona Irinéia

 Porque não acolheu o varal de versos de Ricardo Cabús

 Porque não levou às escolas o corpo-poema de Eliana Kefalás

 Porque não se enterneceu com a “Monalisa” da banda Gato Zarolho

 Porque não escutou a fala recital de Chico de Assis

 Porque não sacou o som psicodélico da banda Mopho

 Porque não se entortou à ferragem lírica de Ronaldo Aureliano

 Porque não lançou mão do canto pop-agreste de Wado

 Porque não adoçou a língua com os trava-línguas de Jacinto Silva

 Porque não se filiou ao partido à liberdade de Théo Brandão

 Porque não se torceu de rir com as presepadas musicais de Jararaca

 Porque não transou o trombone transcendental de François de Lima

 Porque não reconheceu o som quilombola-rastafari de Thiago Correia

 Porque não estendeu às quebradas o amor às palavras de Aurélio Buarque de Holanda.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.