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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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PSOL, PSB, PDT, Podemos, PSDB vivem lutas fratricidas. Semana é decisiva: favoritismo de Lula é o eixo das discórdias

Divisões internas em diversas legendas foram ampliadas ou aguçadas porque ex-presidente domina a cena como nunca ocorreu antes, em ano de eleição presidencial

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Por Luís Costa Pinto, do 247 – Na História desse País, só em 1994 o início de um ano em que se votará para presidente da República registrou os percentuais de intenções de voto, a dinâmica dos fatos políticos e a emergência da sociedade tão alinhados numa conjunção astral como a atual. Diferente do ocorrido há 28 anos, contudo, agora é o favorito da largada quem movimenta todas as cartas desse tarô eleitoral com o objetivo de produzir uma força cósmica destinada a confirmar tamanho favoritismo – e não a desafiá-lo.

Todas as variáveis “temperatura e pressão” que exercem força de ajuste na cena política operam naquela que se pode chamar “Casa 13”. O fenômeno está fazendo diversos satélites mudarem o eixo de suas órbitas e regularem o trânsito para fugirem da força de atração gravitacional da estrela maior desse sistema solar, ou para negociarem uma incorporação sem maiores danos, permitindo-lhes conservar intactas suas estruturas.

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Negociações por São Paulo e pela Câmara

O PSOL, que lida com a mais acirrada divergência interna desde que foi criado, contabiliza 56% dos filiados à sigla favoráveis a uma aliança com o PT já no primeiro turno mesmo que o ex-governador paulista Geraldo Alckmin seja o vice do ex-presidente Lula. É o que defendem Guilherme Boulos, candidato presidencial em 2018, e Juliano Medeiros, presidente do partido, desde que o compromisso programático dos petistas para um 3º mandato lulista tenha claros contornos de esquerda. Lula e seu entorno no PT topam o desafio e não consideram o pleito uma exigência. 

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Uma aliança eleitoral inédita do PSOL, ainda no primeiro turno de um pleito presidencial, tende a ser anunciada até março. Glauber Braga, maior líder dos 44% que não desejam essa união agora, admite até retirar a pré-candidatura a presidente caso os petistas chancelem determinado rol de programas apresentados pelos psolistas. Braga ressalva: "se a campanha de Lula, do PT, apresentar um programa de esquerda com uma frente de esquerda, a nossa tese de candidatura prórpia perde força interna por incorporação". Embora, no atual estágio das negociações, ressalte "que não é isso o que está ocorrendo". 

Boulos quer preservar a candidatura dele ao governo de São Paulo, o que os petistas consideram um erro, mas, aceitam em derradeira cartada sobre o pano azul do tarô. Caso retire o nome do baralho a partir do qual se decidirá o Executivo paulista, o psolista concorreria a deputado federal (primeira hipótese), ou a vice-governador (improvável) ou ao Senado (também improvável), dependendo do espectro de composição com o PSB do ex-vice-governador Márcio França, que tem a primazia da pedida e com quem as conversas estão mais avançadas. 

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Dos dois, França e Boulos, aquele que se acertar primeiro com o PT de Fernando Haddad, cuja candidatura é irremovível, terá o direito de organizar e liderar a união de todos em torno da disputa pela Prefeitura da capital paulista em 2024. Ambos têm interesse na carta – uma espécie de valete de ouro posto sobre a mesa.

Concorrer à Câmara dos Deputados daria a Guilherme Boulos a oportunidade de se converter em valioso puxador de votos para sua legenda. O perfil combativo e a pauta de interesses afinados com a sociedade moderna o transformarão, rapidamente, em polo de convergência e liderança no Congresso a partir de 2023. 

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Mas, França não descarta de forma absoluta também se contentar com uma disputa ao Parlamento, ao Senado ou, o que seria surpreendente para o estágio atual do jogo, à Câmara. Hábil e com grande capacidade de fazer amigos, ex-deputado, ele sabe que num eventual governo Lula e com o PSB tendo crescido a bancada no pleito proporcional, muito provavelmente caberá à sigla socialista designar o nome que disputaria pela base do futuro governo a presidência da Câmara dos Deputados no próximo ano. Retornando ao Congresso como deputado, na legenda de França só um nome tem tanto trânsito quanto o paulista: o carioca Alessandro Molon, que deve abrir mão da pré-candidatura ao Senado no Rio de Janeiro para uma composição entre o PSB de Marcelo Freixo e o PT do presidente da Alerj André Ceciliano.

PDT vive momento de tensão, apesar de Ciro Gomes negar a realidade

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Lançado formalmente candidato a presidente da República na última sexta-feira, com esquálidos 3% de intenções de voto segundo a empresa PoderData, vinculada ao site Poder360, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), não sem repetir as grosserias habituais que marcam sua trajetória política, disse em entrevista coletiva que não apoiará Lula nem em eventual segundo turno. “Estou cansado de ajudar o Lula”, declarou, certamente confuso ante a intensidade do fracasso de seus índices de intenção de voto. 

A declaração foi feita antes de Ciro contar mais uma de suas proverbiais mentiras sobre a forma de manutenção do portal Brasil 247 e da TV 247. No dia seguinte, sábado, enquanto coordenava a linha de ataque à aguerrida reação que recebeu de diversos setores da política, da imprensa e dos leitores e telespectadores dos canais 247 (a reação de nosso grupo, a maior das empresas no ecossistema da mídia digital independente, pode ser lida clicando aqui), o pedetista celebrou a desfiliação do deputado David Miranda (RJ) ao PSOL e o anúncio de que ele concorreria a deputado pelo PDT com o apoio de seu companheiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald.

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Em 2013, em parceria com o norte-americano Edward Snowden, Greenwald tornou públicos documentos que provavam a existência de um sistema de espionagem e vigilância global promovidos pelos Estados Unidos a partir da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). As publicações se deram por meio do jornal britânico The Guardian. 

Fundador do site The Intercept e do co-irmão brasileiro The Intercept Brasil, em 2019 Glenn Greenwald foi o eixo central do vazamento de mensagens do aplicativo Telegram nos perfis usados pelo ex-juiz Sérgio Moro e pelo procurador Deltan Dallagnol, além de outros procuradores da desmoralizada “República de Curitiba”, apelido midiático da “Força Tarefa da Lava Jato”. Tornadas públicas, as mensagens levaram o Supremo Tribunal Federal a declarar o ex-juiz Moro como parcial e persecutório. 

A partir daí, as sentenças de Moro contra o ex-presidente Lula começaram a ser anuladas uma a uma, processo que culminou na devolução dos direitos políticos ao petista. Tais direitos haviam sido retirados de forma ilegítima e imoral, pelo ex-juiz, em 2018. Com a candidatura cassada, Jair Bolsonaro venceu o pleito de 2018 em 2º turno com o auxílio de Moro, que virou ministro da Justiça dele logo depois. Ciro Gomes, 3º colocado no 1º turno, há quatro anos, omitiu-se da cena eleitoral no 2º turno, recusou apoio a Fernando Haddad (PT) e refugiou-se em Paris para evitar costurar uma maior ampliação dos palanques da esquerda contra Bolsonaro.

De forma direta, grupos de apoiarores de Ciro Gomes nas redes sociais passaram a associar diretamente a imagem e a reputação de Glenn Greenwald ao candidato pedetista. Advogado e jornalista, Greenwald jamais escondeu a vaidade e as opiniões fortes. Ainda este ano, e antes da eleição, o cineasta José Padilha lançará uma obra de ficção documental sobre o papel do The Intercept e de Glenn Greenwald na Vaza Jato. O hacker Walter Delgatti Neto, que foi o responsável direto por todo o processo, colabora lateralmente com o roteiro, entretanto, não conservou boa relação com o norte-americano. O gênio centralizador de Greenwald provocará ondas de choque cósmico com o publicitário João Santana, que cuida do marketing de Ciro e é igualmente irascível e centralizador. No lugar de se fundir, esse núcleo tende a terminar a campanha fissurado.

David Miranda, companheiro de Glenn Greenwald, cujo apoio foi intensamente comemorado por Ciro como se o anúncio fosse suficiente para apagar os rastros da lambança e das grosserias dele nas redes sociais, não se elegeu diretamente deputado federal: herdou a vaga de Jean Willys, que no início de 2019 renunciou ao mandato conquistado pelo PSOL do Rio no pleito do ano anterior. Miranda era o primeiro suplente. A construção da viabilidade eleitoral de Miranda é, agora, um desafio para o PDT fluminense.

Rodrigo Neves, candidato a governador do Rio pelo PDT, luta para ampliar seu palanque e sonha com o apoio formal do PT no estado. Ex-integrante das hostes petistas, Neves deixou o partido e foi para o PV para conseguir se reeleger prefeito de Niterói. Tem muitos simpatizantes na antiga sigla. Contudo, a escalada das agressões de Ciro a Lula pode tornar um apoio do PT a ele um caminho sem volta. Ou, o PT pode exigir a ruptura dele com o PDT para apoiá-lo. Trocas partidárias têm de se dar até 31 de março, para quem deseja disputar o pleito, e Rodrigo Neves não indica até aqui que pretenda trilhar esse caminho. 

No Maranhão, o candidato do PDT ao governo do estado, o senador Weverton Rocha, tomou o rumo da dissidência e assumiu que apoiará o ex-presidente Lula já no primeiro turno. Na Bahia, parte considerável do PDT estadual quer apoiar a candidatura do petista Jaques Wagner a governador e largar a aliança costurada por Ciro Gomes e por Carlos Lupi, presidente do partido, com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). “Até aqui, vamos manter o compromisso com ACM Neto”, disse Ciro na coletiva da última 6ª feira, encerrada brevemente depois da grosseria dele como 247 e por causa de ameaças explícitas de falanges pedetistas à liberdade de jornalistas fazerem perguntas. Leia aqui o relato do ocorrido.

Podemos de Moro e PSDB de Doria lutam por se manterem viáveis

Acossado pelas investigações do Tribunal de Contas da União em torno dos aspectos escandalosos de seu contrato com a empresa norte-americana Alvares&Marsal, que herdou contratos e espólios técnicos de diversas empresas que ele ajudou a quebrar e inviabilizar financeiramente, sobretudo Odebrecht e OAS, o ex-juiz Sérgio Moro passa por calor e exposições inéditas no “sistema solar” eleitoral em que Lula reina como estrela de primeira grandeza. Hoje, começam a ser coletadas assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados destinada a investigá-lo. Proposta pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP), a CPI ganhou apoio do próprio governo e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), comandante do Centrão.

A exposição negativa de Moro o transformou numa espécie de carta “O Enforcado” do tarô eleitoral. Com magérrimos 8% de intenção de voto (segundo o último levantamento PoderData), com dificuldades para chegar nos dois dígitos e se consolidar como alternativa real ao ex-chefe Bolsonaro, o ex-juiz pode largar a cena nacional e contentar-se em disputar uma vaga ao Senado ou a deputado pelo Podemos do Paraná. 

Ex-presidente da Câmara e idealizador original da fusão do DEM com o PSL, dando contornos ao União Brasil, legenda milionária e com maior tempo de TV do que todas as outras, Rodrigo Maia tenta costurar o apoio da sigla – à qual ainda não está filiado – a João Doria (PSDB). Antônio Rueda, vice-presidente do PSL que será o controlador do União Brasil, é simpático à ideia e trabalha por ela. Para conservar seu poder sobre a sigla, Luciano Bivar, que era o “dono” do PSL até alugá-lo para Bolsonaro em 2018, procurou a presidente do Podemos, Renata Abreu, e ensaiou uma aliança entre as siglas com Abreu de candidata a vice-presidente. É jogo de cena – Bivar quer mostrar a Rueda e a Maia que também sabe dar as cartas. 

Doria, por sua vez, está condenado a ser candidato a presidente. Venceu a prévia do PSDB, mas, desuniu seu partido como nunca antes havia ocorrido. Em 2002, Tasso Jereissati foi impedido de disputar prévias com José Serra e aceitou a decisão da cúpula partidária imposta pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Porém, traiu o PSDB apoiando e dando estrutura financeira à candidatura de Ciro Gomes pelo PPS. 

Depois de estender o tapete vermelho a Geraldo Alckmin, ex-governador tucano de São Paulo cujo empenho não economiza para torná-lo vice em sua chapa, Lula se encontrou com o ex-vice-governador paulista, ex-senador e ex-ministro de FHC e de Michel Temer Aloysio Nunes Ferreira. Já havia retomado os contatos diretos – pessoais e telefônicos – com Tasso Jereissati e com o próprio ex-presidente Fernando Henrique. 

Com Doria capaz de crescer até ultrapassar Ciro e Moro – o que é provável – contudo, sem que o ainda governador paulista revele força para se viabilizar como antagonista direto de Jair Bolsonaro e fazê-lo descer do segundo lugar nas pesquisas, os diálogos abertos e francos de Lula com a fina flor do antigo PSDB são as vésperas de um movimento de atração potente e radiante: constrói-se uma grande frente de reconstrução nacional em torno do ex-presidente, com ondas de energia que impactam todos os protagonistas e coadjuvantes da cena eleitoral. J

Já parece não haver “mercúrio retrógrado” com força para desorganizar o alinhamento planetário. Ao menos, com os fatos dados até aqui e com as cartas desse atual tarô de campanha.

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