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Ricardo Cappelli

Ricardo Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes

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Quem sobreviverá ao novo tsunami?

"Já são mais de 30 anos de democracia e o país parece um motor engasgado, desorientado. Dá uns pulos pra frente, 'tosse' e recua", escreve o jornalista Ricardo Cappelli

Manifestação em Brasília (Foto: Ricardo Stuckert)
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Seu João é aposentado. Recebe um salário mínimo. Tem pressão alta e um inchaço nas pernas que limita seus movimentos. Dona Maria, sua esposa, é diabética. Possuem três filhos. 

Moram todos numa casa de cinco cômodos. Cozinha, sala, banheiro e dois quartos apertados. O filho do meio está preso por tentativa de feminicídio. O mais novo foi demitido no início da pandemia. Mora com a esposa e os dois filhos pequenos num dos quartos. Ela é diarista. Seus dias de trabalho foram reduzidos drasticamente.

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A filha mais velha é auxiliar de enfermagem. Está enfrentando uma rotina extenuante no hospital. Quando retorna do trabalho, toma um banho e dorme na sala. Sabe do risco de estar infectada, mas o isolamento da família não é uma possibilidade real.

No sábado à noite o clima é de desânimo. Pouco dinheiro e medo do vírus ameaçador. Ligam a TV e veem os políticos trocando tapas. O presidente critica os governadores. O STF critica Bolsonaro. Briga por todo lado. Além da polícia federal "autônoma e imparcial" muito ativa nos estados.

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A família não entende muito de política, nem gosta. Na matéria seguinte, fica assustada vendo manifestações de rua com brigas e até apedrejamento. Tudo parece fora do lugar. 

Muita gente não entendeu o que estava acontecendo quando multidões ocuparam as ruas em junho de 2013 – há quem diga que o movimento foi construído de fora para dentro do país, orquestrado através das mídias sociais. 

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No Rio, a esquerda tentou desfraldar suas bandeiras vermelhas no meio da massa. Foi expulsa aos safanões. Em São Paulo, por muito pouco os Tucanos não foram depenados em plena Avenida Paulista.  Dilma, deposta, foi a primeira vítima da incompreensão. 

A poderosa onda antissistema foi capturada pela extrema direita e cresceu. Chegou ao pico com o discurso “udenista-libertador-salvacionista” da Lava Jato e com o extermínio da política pela grande mídia. 

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Duas quedas históricas do PIB empobreceram a família do seu João e da dona Maria. Para eles, a culpa é dos políticos.  A onda de ressentimento popular engoliu o sistema, abrindo um imenso buraco. 

Dele emergiu um personagem falando “absurdos originais”, “muito diferente dos políticos que pioraram a nossa vida”. Que tal arriscar? 

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Se as estimativas forem confirmadas, teremos, infelizmente, mais de 100 mil brasileiros mortos. Fecharemos o ano com 23 milhões de desempregados. Um cenário dramático. 

Quem sobreviverá ao novo tsunami? Já são mais de 30 anos de democracia e o país parece um motor engasgado, desorientado. Dá uns pulos pra frente, “tosse” e recua. 

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Seu João escolheu Lula, viu seus sonhos derreterem com Dilma e votou em Bolsonaro. Nunca esteve tão ansioso. Discute todo dia com o seu otimismo teimoso. 

O capitão é o surfista que remou na onda. Como domá-la? Enfurecida, ela pode acabar engolindo-o. Ele irá sozinho? Os que ocupam o centro do ringue serão poupados pela dona Maria? Se a onda decidir tragar o sistema novamente, o que virá?

É hora de dormir. Cada um vai para o seu cômodo. O “boa noite” com um beijo na testa toca o coração. A angústia brota. Ninguém sabe como o dia seguinte amanhecerá.

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