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Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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Bolsonaro de focinheira é tão nefasto quanto o que late alto

"Alguém quer motivos para decretar que Bolsonaro é incapaz de governar, como aconteceu com Collor e Dilma, e que é necessário removê-lo (até fabricando motivos, como fizeram com Dilma)?", indaga o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa - PR)
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Que risco de golpe corre o Brasil? É real a ameaça, há indícios sólidos de que os militares querem tomar o poder e colocar o capitão no trono? Ou os arreganhos golpistas do próprio, de seus amarra-cachorro palacianos e de alguns oficiais aposentados são blefes? 

A crer nas declarações das lideranças do Congresso e do Judiciário, o risco não existe e podemos ignorar os rosnados. Os comentaristas, editorialistas e articulistas da “grande” imprensa dizem o mesmo, assim como os especialistas em política do mercado financeiro. Todos estão, provavelmente, certos, nem que seja por enquanto.  

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Os argumentos são muitos. Por exemplo, que Bolsonaro fala barbaridades apenas para açular sua tropa e não é para levá-lo a sério. Que as Forças Armadas deram (ou tentaram dar) vários golpes de estado ao longo da história, mas nunca para inventar um ditador (e não seria agora, com um capitãozinho). Que o mundo se transformou dos anos 1960 para cá e pega mal um golpe militar à moda antiga. É ruim para os negócios. 

Depois que recrudesceu a retórica golpista do bolsonarismo, uma parte das elites se assustou, no entanto. Foram acalmadas, com os mesmos argumentos usados na época da eleição: que não há motivos para temer Bolsonaro, um falastrão que late, mas não morde. Que nossas instituições são suficientemente fortes para contê-lo (daí, aliás, o motivo de haverem votado nele sem dor de consciência).

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Quem não acredita nisso e sempre se preocupou com o golpismo intrínseco ao bolsonarismo é a esquerda e os democratas sinceros. Mas ficaram dois anos falando sozinhas, apresentadas como “alarmistas” ou “aproveitadoras”, inventoras de riscos imaginários.

De repente, os tempos mudaram. Não com Bolsonaro, que permaneceu onde esteve a vida inteira: orgulhoso de seu autoritarismo tosco, suas influências ideológicas obscurantistas, sua proximidade com as milícias, o militarismo e o policialismo. Nem com a esquerda, que tampouco mudou, pois nunca teve a ilusão de que o cargo o civilizaria. Papagaio velho não aprende a falar. 

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Quem mudou foi a direita, promovendo manifestos, editoriais de página inteira, declarações ominosas, civismo virtual. Ela agora quer dar aulas de boas maneiras à sua criatura, ensinando-a a não falar palavrões, como “ditadura”, “censura”, “prender ministros do Supremo” e outras obscenidades. Porque, de resto, é apenas isso que deseja de Bolsonaro. No fundamental, ele faz o que queriam dele.

O Brasil está indo para o fundo do poço, incapaz de responder a uma gravíssima crise sanitária e econômica. Nossa construção institucional mais próxima de um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social mal sobrevive, depois de quatro anos de desmonte promovido pela dupla Temer e Bolsonaro. As regras de convivência civilizada se deterioraram completamente. Temos picaretas e idiotas destruindo anos de políticas sociais, ambientais e culturais.

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Na pandemia, estamos contabilizando, diariamente, mais mortes que China, Índia, toda a Europa (incluindo a Rússia) e a África, somadas. Ou seja: o Brasil, sozinho, nos últimos dias, ultrapassa o número de mortes notificadas nos lugares onde vive mais de 60% do mundo, apesar de representar apenas 2,7% da população mundial. Esse é o tamanho do buraco em que nos meteram a incompetência e a irresponsabilidade do capitão e sua tralha.

Alguém quer motivos para decretar que Bolsonaro é incapaz de governar, como aconteceu com Collor e Dilma, e que é necessário removê-lo (até fabricando motivos, como fizeram com Dilma)? Precisa haver mais algum, além da catástrofe humanitária que experimentamos e que apenas começa? Quem se dispuser a procurar, terá muito a encontrar. 

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A esta altura da conversa, sempre aparece alguém dizendo que Bolsonaro “ainda tem uma base”, os tais 30%, apesar de todas as pesquisas mostrarem que seu apoio efetivo mal chega à metade disso. Como se houvesse uma regra aritmética que estabelece o ponto em que a sociedade está autorizada a se livrar de alguém como ele. Como se consensos e maiorias não fossem formadas e redefinidas no jogo democrático. 

A lorota dos 30% é uma das desculpas para preservar o que interessa às elites no bolsonarismo: a ortodoxia neoliberal na politica econômica e a promessa de erradicar a esquerda. Querem somente que, enquanto isso, não morda a mão do dono. Para o Brasil, todavia, um Bolsonaro de focinheira é tão nefasto quanto o que late alto. 

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