Repressão contra aposentados incrementa inferno astral de Milei
'Manifestações contra Javier Milei têm sido mais frequentes e com maior número de participantes', escreve a colunista Marcia Carmo
Nesta quarta-feira, o governo Milei enviou centenas de policiais da tropa de choque para combater uma nova manifestação dos aposentados em frente ao Congresso Nacional. As imagens de aposentados, que reclamam contra os baixos benefícios, sendo agredidos por policiais, têm marcado as quartas-feiras em Buenos Aires. A repressão incluiu (novamente) gás lacrimogêneo e gás pimenta, mas, desta vez, até caminhões hidrantes. Uma multidão de diferentes clubes de futebol, incluindo o Boca Juniors, o River Plate e outros, aderiu, pela primeira vez, ao protesto dos aposentados.
A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, avisou, na véspera, que seria aplicado o chamado protocolo contra piquetes e que os torcedores poderiam ser detidos. A advertência não alterou os planos das torcidas, que chegaram ao local com cartazes e vestindo as camisetas dos seus clubes. O respaldo dos torcedores, organizados, é uma novidade nos protestos argentinos. O governo atribui a participação dos hinchas (torcedores) aos kirchnerismo, seu principal opositor.
Os torcedores argumentam que o objetivo é apoiar os aposentados. Na multidão em apoio aos aposentados estavam também várias agrupações de esquerda e federações de outros esportes, como o boxe – “Nós, do boxe, apoiamos os aposentados”, dizia um cartaz. O nosso vizinho tem a tradição de realizar manifestações de repúdio contra perdas salariais, perdas de direitos. Mas as ruas andavam tranquilas até recentemente desde a posse de Milei em dezembro de 2023. Resultado do temor contra o protocolo contra os piquetes, além da lua de mel dos que votaram em Milei para a Casa Rosada. Neste ano, porém, as manifestações têm sido mais frequentes e com maior número de participantes, desde que Milei assumiu.
Em janeiro, foi realizada uma imensa caminhada do Congresso à Casa Rosada condenando as palavras do presidente argentino, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, quando associou a homossexualidade com a pedofilia. No fim de semana, no Dia Internacional da Mulher, uma multidão criticou os cortes das políticas públicas contra o feminicídio e o fim do Ministério da Mulher.
As ruas se manifestam num momento em que a imagem negativa de Milei cresce. Nos últimos dias foram divulgadas pesquisas apontando o impacto do escândalo da criptomoeda $LIBRA na imagem presidencial. Milei fez uma postagem no dia 14 de fevereiro promovendo a desconhecida ‘meme coin’, dizendo que seria positiva para pequenas e médias empresas. Nesta sua jogada, muitos ganharam dinheiro e outros perderam, de acordo com as primeiras investigações que estão sendo realizadas na Argentina e nos Estados Unidos.
Em Buenos Aires, foram apreendidos celulares e computadores dos empresários argentinos envolvidos na $LIBRA e que, segundo a imprensa local, visitaram Milei e sua irmã algumas vezes na Casa Rosada e na residência presidencial de Olivos. Milei eliminou a postagem e passou um fim de semana em silêncio.
Ao explicar o caso, em uma entrevista a uma televisão, disse que não dominava muito bem o assunto e, então, comparou a ferramenta que promoveu com um “cassino”. O fato atingiu sua popularidade em cheio. Foram derrubados dois mitos, principalmente para aqueles que votaram em Milei com pouca convicção – que ele domina o mundo financeiro e digital e que ele é diferente da chamada ‘casta política’, que tanto repudia, como revelaram as pesquisas. Nos bastidores do poder, comenta-se que a situação é inusitada para Milei. Desta vez, ele não tem a quem responsabilizar.
A postagem e os contatos com os empresários da criptomoeda são de sua autoria e de sua irmã, a secretária-geral da Presidência, Karina Milei. Com a oposição fragmentada e muitos argentinos preocupados, principalmente, com a economia, fatos reprováveis, como os frequentes insultos de Milei e o aumento nos índices de pobreza, pareciam ser ignorados por setores do eleitorado.
Uma pesquisa da Atlas Intel, por exemplo, mostrou que a imagem negativa de Milei cresceu quase 10% entre janeiro e fevereiro, após o escândalo da criptomoeda $LIBRA – aliás, o signo do presidente no zoodiaco. Ainda faltam sete meses para o aniversário de Milei, mas ele parece estar no seu inferno astral. E as pesquisas ainda não refletiram o impacto da violenta repressão contra os aposentados e as torcidas organizadas, nesta quarta-feira.
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