Rotas de coalizões
Em Cuba, repercute no tempo e entre o povo a provocação de Fidel: “Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana”
A conversa avançava pela madrugada de Havana em névoas, poucas luzes acesas nas casas. Então, frei Betto questionou nas barbas de Fidel: se Cuba é socialista, deve ser um Estado para todos que professam alguma fé ou para os que não professam nenhuma. Da entrevista de 1985 com “el Comandante”, Frei Betto escreveu o livro Fidel e a religião.
Em 1992, a Constituição cubana, em larga consulta popular, alterou o regime para Estado laico. Era o reconhecimento formal da liberdade religiosa. De João Paulo II a Francisco, papas desceram no país, e líderes evangélicos e ortodoxos também lá estiveram.
Há muitos lugares considerados sagrados em Cuba, e de visitas piedosas, mas é importante que se olhe sem preconceitos para a ilha. Em 1961, foi frustrada a invasão americana pela Baía dos Porcos; por isso, os EUA impuseram embargos até hoje. Atualmente, Trump, em evidente teimosia e erro histórico, tenta atacar a Venezuela, alvejando com mísseis barcaças de pesca indefesas. Ao contrário do libertador Simón Bolívar, o senador brasileiro Flávio B. oferece a Baía da Guanabara aos mísseis de Trump – um acinte ao povo carioca e brasileiro.
Não há religião que possa contrariar os direitos básicos de uma nação e sua defesa solidária. Em Cuba, repercute no tempo e entre o povo a provocação de Fidel: “Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana”. A política inclusiva de Cuba provê as necessidades básicas de seus cidadãos. Ainda que sob embargo americano e pobre, o país garante a todos alimento, moradia, saneamento, educação e saúde — esta gratuita a cubanos e a estrangeiros. Muitos americanos descem na ilha para se tratar.
No Brasil, apesar de políticas de Estado e programas sociais exitosos dos governos de esquerda, os governantes da ultradireita delegam as demandas sociais a empresas privadas, cuja finalidade é o lucro e nada mais. Muitas vezes, nem são do ramo, como a Equatorial Energia, que comprou a Sabesp de São Paulo e manteve como nome de fantasia “Sabesp”. Assim como a “BR Distribuidora”, nos postos, é apenas marca e não pertence mais à Petrobras — põe o preço que quiser na bomba.
A selvageria do capitalismo, com todo o respeito aos animais e povos das florestas, se diz assim porque esse sistema de competição não respeita nem a necessidade mais básica: a fome. De forma que “Homem primata, capitalismo selvagem”, bem sonorizada pelos Titãs (Homem primata), é a contundência do humano instintivo numa selva de pedra — aliás, digam as imobiliárias construtoras em beiras de rio e de mangues.
A fome é uma arma de guerra, das mais cruéis. Na verdade, uma profanação ao direito à vida. Nenhuma pessoa minimamente religiosa ficaria indiferente — ainda que maiores desprendimentos se vejam em pessoas que nada professam. O governo de J.B., por ora detido em casa com tornozeleira, colocou o Brasil no mapa da fome. Deixou 37,4% dos brasileiros famintos pelas ruas. Entretanto, e mais uma vez, com o retorno de Lula, o país saiu do mapa da fome, atesta a ONU.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




