Se Bolsonaro for eleito, a culpa será dos eleitores de Bolsonaro, da mídia e da direita
Entende-se que a direita queira jogar o anti-petismo nas costas do próprio PT, mas ver o campo progressista acusar Haddad e o Partido dos Trabalhadores de ‘dançar à beira do abismo’ é desonesto; se alguém empurrou o Brasil para o abismo, certamente foi a direita golpista e o fascismo crescente alimentado pela mídia hegemônica
Há um movimento em curso que busca em atribuir ao candidato do PT à presidência, Fernando Haddad, ao próprio Partido dos Trabalhadores e os eleitores que declaram voto a ele de, a culpa de uma virtual eleição presidencial do candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL). Tal movimento advindo de setores conservadores da sociedade já seria considerado uma covardia, além de uma injustiça, mas quando a iniciativa parte de eleitores e setores progressistas, a covardia é ainda mais inaceitável.
O PT errou e errou muito em suas três gestões e meia no comando do país, e esses erros são inegáveis. Coloca-se na conta a falta de esforço em promover reformas estruturantes como a política, a tributária e a dos meios de comunicação, o pragmatismo exacerbado em troca de governabilidade e certa inaptidão para do governo Dilma em lidar com o baixo clero e o Centrão (o que não é um erro per se, entenda-se). Tudo isso está na conta do PT e deve ser colocado em debate no período eleitoral para que o partido e seus representantes se posicionem sobre o assunto.
Mas o debate aqui não é esse. O debate que se propõe é o do anti-petismo pelo anti-petismo, é o do ódio à esquerda e ao projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social que estes governos propuseram por 13 anos no Brasil.
É o ranço de ter ‘transformado o aeroporto em rodoviária’, de do morado do condomínio de classe média ter de encontrar o porteiro do prédio nas férias em Nova Iorque, é do filho negro da empregada estudar na mesma universidade que o filho branco da madame. É a raiva de o pobre ter carro, luz elétrica, casa, raiva de o miserável receber um programa social para não morrer de fome. É um ódio de classe, com traços de racismo, machismo, homofobia e xenofobia, que perpassa o PT e atinge todo o campo progressista, e que foi construído pela direita fascista e setores de mídia hegemônica.
Não se pode culpar o PT pela escalada reacionária no país. Quem puxou a corda primeiro foi o PSDB, um dia depois de ser derrotado nas urnas, em 2014, questionando o resultado das eleições, desestabilizando a recém reeleita Dilma; depois, o MDB forçou ainda mais a polarização, em 2016, juntando-se aos derrotados nas urnas e ao volúvel Centrão para tramar o golpe contra a presidenta; o impulso final foi dado pela mídia hegemônica, os movimentos artificiais patrocinados pela direita e os partidos citados anteriormente, que provocaram a convulsão social dos protestos naquele ano. Tudo isso alimentou o cão raivoso do fascismo, que já seguia crescendo graças a uma conjuntura internacional de crescimento dos neo-nazistas, dos nacionalistas e da extrema-direita na Europa e nos Estados Unidos.
Quem criou o anti-petismo, o anti-esquerdismo e o anti-progressismo não foi o Partido dos Trabalhadores. Se o Brasil cair nos braços do fascismo de Jair Bolsonaro, os culpados direitos serão seus eleitores, influenciados por uma construção midiática de que ‘todos são iguais’ e que ‘a política não tem solução’, impulsionada pela imprensa hegemônica. Os culpados serão os setores da direita que alimentaram Bolsonaro a pão de ló, achando que poderiam desconstruí-lo a hora que bem entendessem, mas que perderam o controle do monstro que criaram.
O PT é vítima do anti-petismo, não seu inventor. Não sejamos desonestos entre nós, aliados do campo progressista, camaradas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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