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Jean Wyllys

Jornalista, doutorando em Ciência Política pela Universidade de Barcelona, pesquisador no ALARI at Hutchins Center de Harvard e escritor baiano

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Se buscamos paz, precisamos rever a guerra às drogas

Enquanto o governo só propõe mais do mesmo e oferece como única solução uma intervenção militar que todos sabem que não vai funcionar, o parlamento brasileiro continua acovardado e preso de interesses que o impedem de debater soluções reais para o caos da segurança pública

Rio de Janeiro - Militares fazem operação na favela da Rocinha após guerra entre quadrilhas rivais de traficantes pelo controle da área (Fernando Frazão/Agência Brasil) (Foto: Jean Wyllys)
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A nefasta política de guerra às drogas, que só produz violência, milhares de mortes por ano, encarceramento de um número absurdo de pessoas — principalmente jovens negros e pobres —, e desperdiça milhões de reais de recursos públicos, está ultrapassando também todos os limites do ridículo. O professor Elisaldo Carlini, de 88 anos, um dos maiores especialistas do país no estudo desse problema, foi acusado de apologia ao crime em razão do 5º Congresso Maconha – Outros Saberes, realizado no final do ano passado. 

Carlini, docente da Universidade Federal de São Paulo, dedicou 50 anos ao estudo dos efeitos de entorpecentes sobre o organismo humano, especialmente a maconha. Ele já foi citado 12 mil vezes em artigos internacionais e recebeu grandes prêmios, como as duas condecorações entregues no Palácio do Planalto pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

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Contudo, mais uma vítima dessa política criminosa de proibição, ele precisou comparecer no 16º Departamento de Polícia, na zona sul de São Paulo, na última quarta-feira. “Ninguém sabia sobre mim. Eles não tinham a mínima ideia porque ninguém lê artigo científico no Brasil”, contou o professor ao UOL. “A coisa começou a ficar mais clara ao perceberem que eu sou um professor emérito condecorado pelo presidente. Ficou meio ridículo.”

Tudo começou quando o professor enviou uma carta ao Centro de Progressão Penitenciária, em Hortolândia, pedindo a participação de Ras Geraldinho, preso desde 2012. De acordo com o UOL, Ras, cujo nome de batismo é Geraldo Antônio Baptista, é o fundador da primeira igreja Rastafari do Brasil, uma religião jamaicana que utiliza a maconha como sacramento. “Foram 13 dias de congresso e sete mesas, entre elas uma chamada ‘Maconha e Filosofia'”, contou o professor ao site. “Ela contava com a presença de religiosos, como católicos e evangélicos, e gostaríamos de saber a opinião do fundador da igreja Rastafari no país.”

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Embora a presença do religioso tenha sido vetada pela Justiça, uma promotora desconfiou da carta e pediu a instalação de um inquérito policial, que resultou na intimação. A situação é tão absurda que parece uma obra de ficção, mas é o Brasil.

Em 2014, meu mandato apresentou o PL 7270, que legaliza e regulamenta a produção e comercialização da cannabis e propõe uma mudança radical em toda a política sobre drogas do país. O projeto, de mais de 60 páginas, foi resultado de um trabalho muito sério de pesquisa sobre a legislação nacional e inclusive, que incluiu consultas e participação de organizações não governamentais, especialistas e ativistas contra a proibição, mas o a Congresso ainda não teve a coragem de colocar em pauta para que seja debatido.

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Nosso projeto impediria que acontecessem barbaridades como esta que levou o professor Carlini injustamente à delegacia e serviria para mudar uma política que vem dando errado há décadas. Não podemos aceitar essa ilegalidade que mais parece a criminalização do conhecimento científico. Nosso mandato tomará as medidas legais e cabíveis para questionar essa arbitrariedade cometida contra o cientista.

Enquanto o governo só propõe mais do mesmo e oferece como única solução uma intervenção militar que todos sabem que não vai funcionar, o parlamento brasileiro continua acovardado e preso de interesses que o impedem de debater soluções reais para o caos da segurança pública.

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É hora de mudar!

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