Sobre Flávio Sartori

O ano era 1987, eu era apenas um jovem advogado com vinte e dois ou vinte e três anos que, recém-formado, vestia um terno tamanho “48 médio” (hoje o “manequim” é “um pouco” maior) comprado na Casa Ezequiel na Rua General Osório, pelo “crediário próprio” da loja; eu me sentia capaz de enfrentar qualquer questão, em qualquer tribunal do planeta.

Contudo, a realidade se impôs e me vi solitário, com um processo aberto nas minhas mãos, sem saber que decisão tomar e o que deveria de fato ser importante naquele momento (aquele “friozinho” na barriga tornava-se um “friozão”).

Eu estava no balcão de uma das secretarias da antiga Junta de Conciliação e Julgamento, foi um dos muitos momentos que duvidei da correção da minha escolha profissional: “será que eu serei mesmo um bom advogado?”. Então apareceu um anjo e apontou com delicadeza o caminho; o nome dele é Flávio Sartori, eu já o conhecia da PUCC ele assumiu a cadeira de ética profissional por algum tempo na nossa turma, tive a honra de ser seu aluno.

Vou contar a história.

Antes esclareço: não acredito em duendes, mas sei que anjos existem, pois “esbarrei” com alguns deles ao longo da minha vida. Acredito que, em essência, as pessoas não são “isso ou aquilo” e não podem ser definidas apenas pela sua formação acadêmica, profissão, cargo, posição social ou econômica, pois somos palavras, ações, pensamentos, desejos, riso, lágrima e alma.

Tendo como ponto de partida a premissa de que temos uma natureza plúriama, posso pensar ser possivel termos algo de etéreo, que somos - ou contemos - partícula do divino, e, se for assim, Deus vive em cada um de nós; ou, que nossas palavras e ações trazem criaturas espirituais para perto de nós, produzindo efeitos fantásticos na nossa vida.

Me refiro aos anjos.

Talvez os anjos – criaturas espirituais, dotadas de inteligência e de vontade -, vivam em algumas pessoas, ou ao lado delas e a influenciá-las. E se o poder, segundo o catecismo da igreja católica, está “... na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus”, a minha teologia criativa pode fazer algum sentido.

Feita essa introdução, e já pedindo perdão a Deus e desculpas ao monsenhor Roberto Frezolin pelo meu atrevimento, passo a falar sobre um ser humano cujas palavras e ações são, a meu juízo, inspiradas pelos Anjos: me refiro ao advogado Flávio Sartori.

Eu poderia discorrer sobre o currículo do doutor Flávio, afinal não lhe faltam méritos, mas ele é mais do que sócio fundador de uma importante banca de advogados, com sede em Campinas e atuação em todo o estado; o que o define não é apenas ter exercido o cargo de Gerente de Contencioso e Consultivo Jurídico na Bosch por mais de duas décadas, ter sido professor universitário na PUC de Campinas, ou ter sido agraciado com a Honra Láurea António Álvares Lobo pela Ordem dos Advogados do Brasil; mas o que o define é a elegância, polidez e reconhecida generosidade.

Segundo o filósofo Comte-Sponvile a generosidade é uma virtude divina; a generosidade é um ato da vontade e, por isso, é libertária.

Ser generoso, é virtude principal do Dr. Flávio, que é diferente de ser apenas justo, pois, a justiça, trata de atribuir a cada um o que é seu, mas, a generosidade, cuida de oferecer o que é de quem oferece e falta ao outro, noutras palavras, a justiça está ligada ao que é objetivo, universal, intelectual, e a generosidade é mais subjetiva, afetiva, espontânea, divina. A justiça pode estar preservada numa declaração de direitos humanos e o justo pode guiar-se por ela.

Quando o Dr. Flavio Sartori, que já era um advogado de reconhecido sucesso, conhecido e muito respeitado, me percebeu ao seu lado vivendo um pânico silencioso, ele estendeu a mão e o fez de forma tal que, além da orientação, me senti capaz de seguir e perseguir meu sonho na advocacia.

A generosidade do Dr. Flávio ocorreu não em razão de um determinado mandamento ou lei, mas por generosidade e, como disse o Comte-Sponville, ela vai além deles e segue unicamente as exigências do amor, da moral e da espiritualidade.

Reconheci no Dr. Flávio naquele momento e em muitos outros, a generosidade como uma sua característica, por isso agradeço à sorte, força divina reguladora dos acasos, tê-lo conhecido e poder tê-lo como referência de como deve portar-se um advogado no trato com outros advogados e com a sociedade.