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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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Somos todos índios! Somos?

Capítulo à parte dessa tragédia secular é a morte de crianças indígenas. A mortalidade indígena-infantil atinge a inacreditável marca de 41,9 mortes por mil nascimentos; a média brasileira é de 22 mortes por mil nascidas vivas. A mensagem está clara... É preciso matar! Matar todos!

Somos todos índios! Somos? (Foto: Andressa Anholete / 247 - 03.11.2011)

O que se viu hoje em Brasília não é novidade! Por mais de quinhentos anos os índios brasileiros são recebidos exatamente assim: na bala ou no cutelo; são precisamente e desta maneira, decapitados; envenenados com pragas e epidemias dos brancos onde mulheres e crianças indígenas são sistematicamente violentadas e assassinadas. Porque é preciso matar!

De fato, não é novidade! Essa é a relação original e que historicamente o estado brasileiro, em seus mais distintos níveis de aperfeiçoamento, organização ou representação tem tratado estes povos e que, por sinal, vivem e andam por esta triste terra tropical a mais de dez mil anos.
O que acabamos de ver em Brasília é um aperitivo, uma palhinha, uma "canja" do que vem acontecendo por infames cinco séculos do domínio branco/luso/católico por esta pindorama e que não cessa mas que segue, segue, segue...

Boa dica de leitura para uma compreensão mais atual e arguta do drama indígena é o documento intitulado "Violência contra os Povos Indígenas no Brasil", elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e que mostra o morticínio, sobretudo, de líderes indígenas. O relatório revela que no ano de 2013, 53 indígenas foram mortos; em 2014, foram 138; em 2015, 137 assassinatos.

O texto elenca que o Mato Grosso do Sul (MS) é o estado com a maior quantidade de assassinatos e de suicídios de indígenas. Destaca que o confinamento precário, aviltado e inseguro de comunidades indígenas inteiras é asseguradamente, o motivo principal dos suicídios.

"Curumim chama cunhatã" porque... É de chorar! O Brasil, país notadamente racista e abertamente preconceituoso faz vistas grossas para o genocídio dos nossos índios e é exatamente essa trágica tradição cultural que alimenta o ódio, a violência e o extermínio dessa gente inocente e que só quer viver em paz no que lhes restou de terra e meio ambiente.

De outro modo para a garantia de alguma vida ou sobrevida para esses povos, não tem jeito, é preciso que suas terras sejam demarcadas; é necessário que os limites de suas aldeias e reservas sejam efetivamente, respeitados para que vivam da forma que lhes aprouver. É do que se trata! A lástima disso é que nem a esquerda escapa... Para vaga ideia do drama da demarcação e do respeito às milenares terras dos índios, foi exatamente com Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) que a maior quantidade de áreas foram demarcadas: 42 milhões de hectares homologados, segundo dados do próprio CIMI; Itamar Franco: 5,4 milhões de hectares; Lula: 14,3 milhões de hectares e; Dilma: 3,3 milhões de hectares.

Capítulo à parte dessa tragédia secular é a morte de crianças indígenas. A mortalidade indígena-infantil atinge a inacreditável marca de 41,9 mortes por mil nascimentos; a média brasileira é de 22 mortes por mil nascidas vivas. A mensagem está clara... É preciso matar! Matar todos!

E por fim, durmam com esse barulho: Dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) demonstram que desde 2007, quarenta por cento dos assassinatos de indígenas brasileiros são de crianças de até quatro anos.

Pois é... Somos todos índios! Somos mesmo?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.