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André Del Negri

Constitucionalista, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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Tempo de ‘maus poemas’

Uma coisa é certa. O “ignoródio” anda de mãos dadas com a misoginia, a homofobia, a tortura, o genocídio e o racismo. Em direção a 2022, Bolsonaro que só usa o microfone para escoicear, fará a única coisa que conhece: fiar a eleição no “ignoródio” para mover eleitores.

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Em “A flor e a náusea”, uma das obras-primas do mestre mineiro Drummond, do livro “A rosa do povo”, de 1945, na segunda estrofe, há o trecho: “Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera”. Como se vê, o traço de Drummond possui abrangência o suficiente para ser lido em todos os tempos.

Em meados de abril de 2020, inúmeras pessoas participaram de carreatas pelo país afora. O que se viu foram empresários reunidos em grupos de encontro pelas avenidas das mais diversas cidades brasileiras. De seus carros eles regiam a malta contra as medidas de isolamento social. A cena foi uma paulada nos intrépidos profissionais da saúde que estão esgotados na luta contra o coronavírus.

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Quase um ano depois, a conjuntura nunca esteve tão degradante com a escalada exponencial de mortes por Covid-19. Ao ver as recentes e medonhas imagens da selvageria brasileira (refiro-me aos manifestantes apoiadores do presidente Bolsonaro em 14 de março do corrente ano, que voltaram a promover atos em capitais pelo país) com cores da bandeira nacional e muitos não usando máscaras, ou usando de forma incorreta.

Se me permitem, precisamos parar um pouquinho nessa insanidade que tomou parte do Brasil. Trata-se de uma choldra, uma súcia catastrófica que se lambuza na pulsão de morte; e ainda usam a desfaçatez para falar em “amor ao país” e sair em defesa de fajutos tratamentos precoces contra o coronavírus.

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No meio do pior colapso sanitário da história, enquanto se defende a necessidade de desafogamento do sistema hospitalar, ver a promoção de atos pelas ruas, avenidas e o presidente compartilhando vídeo dos atos a favor dele e de intervenção militar, e contra o Congresso e o STF, é realmente algo escabroso. Surreal é pouco! É muito, muito difícil.

A tragédia social é enorme e visível a olho nu. Não bastasse ver filas de carros buzinando pela ditadura, o que já seria um primor de imbecilidade, assistimos aos milicianos digitais ameaçar com violência quem hoje diz que acredita na ciência, aconselha medidas de isolamento, refuta a cloroquina e defende o uso de máscara.

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A democracia constitucional convive com ondas de protestos diversos. Mas vá lá. Ocorre que num país com cerca de 20% dos mortos de Covid do planeta, quando o extremismo – com claros ecos fascistas – tem por intenção a prática de atos de lesa-humanidade, as ameaças com concretude atraiçoam a liberdade de expressão.

Pudera. No Brasil o fascismo sempre existiu. É um quadro triste. E sem moldura. Basta recapitular que nas terras brasileiras tivemos a maior célula nazista fora da Alemanha (aqui). Trata-se de um processo histórico do qual não se sai sem feridas. O problema é que, com Bolsonaro na função presidencial, a massa hipnotizada se sente livre para pôr para fora todo “ignoródio” acumulado (“ignoródio” é o elo da ignorância com o ódio, como diz o psicanalista Antonio Quinet).

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Uma coisa é certa. O “ignoródio” anda de mãos dadas com a misoginia, a homofobia, a tortura, o genocídio e o racismo. Em direção a 2022, Bolsonaro que só usa o microfone para escoicear, fará a única coisa que conhece: fiar a eleição no “ignoródio” para mover eleitores. 

Em tempo de “maus poemas”, como Drummond diz, mesmo que nossos olhos estejam contaminados pela barbárie, um futuro melhor é possível. Tal qual a flor que nasce e pode furar “o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.

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