Tempos de apreensão
Um alerta sobre as ameaças à soberania nacional e a hipocrisia internacional
Na última quarta-feira, 13, o Supremo Tribunal Federal elegeu o ministro Edson Fachin como o novo presidente da Casa, devendo cumprir o período que vai de 2025 a 2027, tendo como vice o ministro Alexandre de Moraes. No dia que antecedeu a eleição, o ministro falou sobre as recorrentes tentativas de erosão democrática em países das Américas. Fachin não deu nome aos bois, mas não é difícil entender quais são os bois que tentam insistentemente furar a cerca da democracia. O futuro presidente do STF disse ainda que vivemos tempos de apreensão. Quem não está entendendo isso não está entendendo nada.
A fala do ministro deve soar como alerta para os ataques que o Brasil tem sofrido e que não se arrefecerão tão cedo, uma vez que o objetivo do governo que nos ataca é, entre outros, meter a mão nas riquezas nacionais. Para tanto, é preciso fazer com que o Brasil volte a ser o quintal dos Estados Unidos. Sim, os mesmos Estados Unidos que patrocinaram a ditadura de 1964 no Brasil, destroçando milhares de vidas. Trata-se do mesmo país que criou a famigerada Escola das Américas, especializada em formar torturadores, que assumiram governos e transformaram a América do Sul em um mar de sangue, tortura, dor e morte. E são essas pessoas que agora ousam falar em democracia e liberdade. Pois é!
Os Estados Unidos que hoje falam em nome dos direitos humanos e da liberdade de expressão são o mesmo país que persegue com mão de ferro seu próprio povo pobre, usando a força policial para banir mendigos e moradores de rua em nome da beleza de suas cidades. Os Estados Unidos que hoje acusam o Brasil de não respeitar as liberdades individuais e políticas são o mesmo país que perseguiu de forma implacável Edward Snowden, Julian Assange e Chelsea Manning, sem o devido processo legal. É também a mesma nação cujo Secretário de Estado, para bajular o chefe, se orgulha de ter revogado 6 mil vistos de estudantes. Não esqueçamos que o país que é tigrão com o Brasil e a Venezuela é o mesmo que é tchutchuca com a China e a Rússia!
Os Estados Unidos que hoje criticam o Brasil, dizendo haver “execução política” com Bolsonaro, são os mesmos que cometeram as maiores atrocidades contra prisioneiros ilegalmente encarcerados em condições desumanas nos porões da prisão de Abu Ghraib. Mas sobre as torturas e execuções ocorridas lá, o governo do senhor Donald Trump prefere guardar silêncio, ou seja, “acuse os outros daquilo que você faz, chame-os daquilo que você é”.
Por sua vez, a embaixada norte-americana no Brasil tem estado muito preocupada em soltar notinhas intimidatórias, reproduzindo as baboseiras nonsense da extrema direita brasileira, atacando o país enquanto nação soberana e fazendo isso em defesa de meia dúzia de perigosos bandidos golpistas, os únicos que, voltando ao poder, escancariam de vez as porteiras das nossas riquezas minerais, dando tudo de mão beijada ao governo do supremo líder bufão. Mas no meio do caminho tinha um estadista, tem um estadista no meio do caminho! E podem continuar soltando notinhas e sancionando deus e o diabo na terra do sol, que não passarão.
É claro que do lado de baixo do Equador há aqueles e aquelas que defendem que seu próprio país seja usurpado e se ponha de joelhos diante do poderoso império. Há uma proliferação de lambe-botas de americano, que nada objetivam a não ser o bem-estar do próprio bolso. Muitos foram, inclusive, democraticamente eleitos e se aproveitam disso para atacar a própria pátria a partir de suas entranhas (alguns a atacam direto dos castelos da Disney). Quanto a isso, pouco se pode fazer, pois em todas as situações, tempos e lugares sempre haverá uma quinta-coluna, com ou sem esparadrapo na boca.
Sim, vivemos tempos de apreensão. Os EUA enviam suas tropas para o sul do Caribe. “A maior democracia do mundo” oferece uma recompensa milionária pela captura de um presidente eleito. O Secretário de Defesa da “maior democracia do mundo” publica vídeo em que defende o fim do voto feminino nos EUA, mas é o Brasil que é contra a liberdade de expressão e que é “o pior país do mundo”. Estamos no ano de 2025 do século XXI, e isso é tudo que determinados políticos têm a dizer ao povo do seu país. Qualquer semelhança com o que ocorre em O conto da aia, de Margaret Atwood, não é mera coincidência.
Em tempo: o julgamento dos réus do “núcleo crucial” do plano de golpe contra a democracia brasileira foi agendado pelo ministro Zanin para começar no dia 2 de setembro. Até lá, haja nota, ameaça, tarifaços e esperneios. O choro é livre!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

