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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Tuca desaba com seus arquivos sobre a extrema direita

“A estrutura criminosa das emendas secretas vai desmoronar com o pé na porta dos assessores, de Brasília aos municípios”, escreve Moisés Mendes

Arthur Lira (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Pegaram a Tuca do Arthur Lira, que até o primo do estagiário do diretório do PP conhecia em Brasília. Muitas outras Tucas irão cair, também nos Estados. Essas figuras são manjadas.

Os aposentados jogadores de xadrez da praça de Carapicuíba, as filhas de Maria de São Luiz do Anauá, os amigos do Bossa Café do centro de Macapá. Muitos deles sabem onde foram parar os milhões das emendas, porque tem alguma Tuca local na jogada.

Também os moradores e os tios do zap de São João de Meriti, Iracema, Sena Madureira, Camaçari e Coração de Maria conhecem as Tucas e sabem ou desconfiam onde está o dinheiro das emendas enviadas a obras imaginárias.

Essas são cidades empanturradas com milhões das emendas parlamentares investigadas pela Polícia Federal. Também sabem onde está a dinheirama, mesmo que ainda não tenham sido abertas investigações, os moradores de cidades gaúchas, catarinenses, alagoanas, sergipanas e mineiras beneficiadas pelas verbas públicas desviadas pelas máfias emendadeiras.

Quem morou nos interiores do Brasil sabe como essas informações circulam de boca em boca nas praças e nas redes sociais de localidades pequenas e médias. A corrupção encoberta, aquela que ficava subterrânea, saiu de catálogo.

As quadrilhas das emendas inauguraram a corrupção ostensiva, exibicionista, mesmo que os destinos das verbas sejam aparentemente secretos. São ocultos para os órgãos de controle. 

Mas são visíveis para quem sabe quem desfruta dos esquemas criminosos locais, que movimentam boa parte dos R$ 50 bilhões anuais manipulados pelos congressistas.

Com a PF chegando a Mariângela Fialek, a Tuca, ex-assessora de Arthur Lira e hoje alta assessora do PP, que fazia a gestão do dinheiro destinado às facções da extrema direita, saberemos o que cidadãos de cidades de Alagoas já sabem. 

Serão identificados e tornados públicos os rementes e os beneficiados pelos desvios administrados por Mariângela. Tuca era profissional, mas pode ter cometido o erro do excesso de tarefas, de interlocutores e de poder operacional. Foi o que aconteceu com Mauro Cid.

A assessora poderá dizer, se decidir falar, com quem lidava a mando de Arthur Lira e de outros participantes do esquema. É muita gente. Outras Tucas, que se dedicam a destinar dinheiro para Estados e municípios, devem aparecer.

Temos Tucas em Brasília, nas capitais e nas cidades do Interior, cuidando da rede de circulação dos desvios. Não há como fazer os esquemas das emendas funcionarem sem as Tucas.

Há Tucas no Rio Grande do Sul, em Goiás, Mato Grosso, no Pará. As estruturas profissionais de captação e distribuição das emendas só existem com o suporte de gente competente na administração de verbas, interesses, partilhas, conflitos e rachadinhas.

Gaúchos, paulistas, acreanos, todos sabem em suas cidades quem são as superassessoras que viabilizam a circulação dos dinheiros que somem sem que ninguém, dos organismos de controle, saiba onde foram parar. Mas nas cidades os moradores sabem.

Sabem quem mudou de vida, quem ficou rico, quem de repente foi agraciado pelo milagre da prosperidade. Os assessores poderosos de Brasília têm seus representantes nas províncias.

O cerco fechado por Flávio Dino vai comer as máfias das emendas pelas bordas dos assessores, dos operadores que cumpriam ordens. É só chegar nas  Tucas e nos Tucas das Carapicuíbas e Camaçaris. 

Cada mafioso tem o Mauro Cid que merece, aquele assessor que tudo resolve. E todo Mauro Cid que falar e contar o que sabe pode escapar, como aconteceu com o Cid de Bolsonaro, o único dos condenados do golpe que está livre e solto. 

O Cid de Bolsonaro lidava com problemas, de joias e cartões de vacinas até recados do plano para o golpe. A versão Cid de Arthur Lira lidava com dinheiros e soluções. Que a operadora Tuca entregue os esquemas de Lira e do PP.

E que outras assessoras e outros assessores nos contem o que acontece também nos QGs de Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Gilberto Kassab e Antonio Rueda. Que Tuca seja uma delatora prestativa e confiável.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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