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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Vitória do Talibã desespera imperialismo, fortalece China e impulsiona resistência árabe

Em meio a um processo da mobilização popular, o Talibã terá de atender às reivindicações do povo para se manter e, por isso, já indica um governo mais democrático do que no primeiro mandato

Combatentes do talibã (Foto: Parwiz Parwiz / REUTERS)
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Por Juca Simonard

Após a insurreição do Talibã, que expulsou as forças militares imperialistas do país e derrubou o governo fantoche apoiado pelos EUA, um novo governo começa a se formar no país. Como foi dito anteriormente, a derrota humilhante dos norte-americanos enfraquece o imperialismo mundialmente e o Afeganistão deve se incluir na aliança de governos nacionalistas liderada pela Rússia e a China.

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Os dois países já demonstraram que vão estabelecer boas relações diplomáticas com o governo talibã, assim como o vizinho Irã. Para eles, o Afeganistão é um país estratégico pelo seu posicionamento central na Ásia, sendo um ponto de translado entre o Extremo Oriente e o mundo árabe. A intervenção norte-americana, além disso, era uma ameaça constante à soberania de seus próprios países.

A vitória do Talibã no Afeganistão permite alianças econômicas e políticas, principalmente para os chineses. Dois projetos da China foram bastante comentados pela imprensa: uma estrada que ligará Cabul a Peshawar, no Paquistão, e outra rodovia que conectará a província de Xinjiang, de maioria muçulmana, ao Afeganistão e ao Paquistão. 

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Para os chineses, inclusive, não vale entrar numa guerra contra o país, já que isso pode desestabilizar a região de Xinjiang, onde os EUA estão promovendo um processo contra o governo com a justificativa do suposto “genocídio uigur” — grupo étnico muçulmano que se encontra na região.

Os novos dados derrubam “teorias” de uma parte da esquerda pequeno-burguesa de que os EUA permitiram a volta do Talibã para usá-los contra China e o Irã — no último caso, aproveitando-se do racha entre sunitas e xiitas.

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Não é isso que ocorre. Ao contrário dos que atacam a insurreição talibã contra o imperialismo, a tomada do poder pelo grupo inspirou novamente o processo de resistência árabe no Oriente Médio. O Hamas, por exemplo, que lidera parte importante do movimento pela libertação da Palestina, parabenizou a tomada do poder pelo Talibã. Da mesma forma, a resistência popular no Iraque e as lutas do Hezbollah, no Líbano, e dos Houthis, no Iêmen, devem sair fortalecidas pela vitória do Talibã.

Alguns analistas dizem que, ao abandonar o Afeganistão, os EUA tinham como interesse concentrar suas forças na luta contra Rússia e China, mas isso não será possível. Ao contrário do que acreditavam os norte-americanos, ao perder o Afeganistão, seu poder em relação aos dois países enfraqueceu.

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O jornalista britânico Tom Fowdy, no Russia Today, destacou que a radicalização do nacionalismo islâmico permitida pelo sucesso do Talibã no Afeganistão vai levar a novos problemas envolvendo o Oriente Médio, nos quais o imperialismo terá de intervir para garantir seus interesses, despendendo um enorme contigente de recursos humanos e econômicos.

“O novo inimigo dos EUA pode ser a China, mas o drama dos últimos dias sugere que não será fácil deixar de lado o dano que foi feito com suas aventuras em terras muçulmanas”, argumentou.

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Desespero dos capitalistas

A situação colocada levou ao desespero dos capitalistas. Porta-voz do imperialismo, o jornal Financial Times destacou que “a queda de Cabul para o Talibã [...] vai acabar com a influência americana no Afeganistão por décadas. Nesse sentido, é comparável à derrubada do Xá do Irã em 1979, a queda de Saigon em 1975 ou a revolução cubana de 1959”.

O Wall Street Journal afirmou que “a conquista do Afeganistão pelo Talibã embaralha o mapa diplomático”, destacando o avanço da aliança do Talibã com a China. Sugere que a crise do governo de Joe Biden (EUA) enfraquece seu poder de influência na política do Afeganistão. “A ascensão do Taleban redesenhou o mapa diplomático dos EUA e de seus rivais enquanto competem para moldar o futuro do Afeganistão”, lamenta o WSJ, jornal dos especuladores de Nova Iorque. Enquanto o The Economist, do imperialismo inglês, culpa Joe Biden pela derrota no Afeganistão.

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O Talibã e o povo

Em época de golpes promovidos pelo imperialismo — Honduras, Brasil, Equador, Ucrânia, Egito etc. — a derrota no Afeganistão pode ser um marco para a mudança da correlação de forças no mundo. Fato é que os norte-americanos saíram humilhados com a vitória do Talibã, que vai formar mais um governo nacionalista na região. 

Desta vez, no entanto, não chegam ao poder para impor uma ditadura teocrática tão feroz quanto no seu primeiro governo, que ascendeu com o apoio do imperialismo. Agora, voltam ao poder num amplo movimento popular de resistência e, portanto, serão pressionados pelas massas populares do país.

Ao jornal India Today, o porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen, destacou o apoio popular ao movimento e a impossibilidade de os talibãs cometerem as atrocidades realizadas pelo governo fantoche e a invasão imperialista, e mesmo as barbaridades cometidas por alguns outros grupos que foram, falsamente, atreladas ao Talibã.

“Não é possível para nós. Se fizermos isso, não poderemos viver no meio do povo, porque nosso principal apoio vem do povo”, disse.

Para a CNN, Shahenn destacou que o Talibã pretende formar um governo com outras forças afegãs para promover a “inclusão” popular no Emirado Islâmico do Afeganistão. Claro, não será, naturalmente, um governo amplamente democrático e popular, como nem seria possível num país quase tribal e extremamente atrasado como o Afeganistão, onde a população ainda faz sua experiência com o nacionalismo burguês. Mas, de qualquer forma, o governo precisará governar para as massas que tutelam o novo regime. “Nós temos raízes entre o povo porque foi uma insurreição popular”, destacou.

Por isso, por exemplo, ao contrário do que foi feito no primeiro governo Talibã, Shaheen garantiu que as mulheres continuarão tendo o direito à educação. O Talibã também disse que que não vai exigir uso de burca para mulheres. Obviamente, não seria bom para o novo governo entrar em conflito com quase metade da população. Ainda mais porque grande parte do setor apoiou a insurreição talibã.

Algumas outras medidas devem ser anunciadas ao longo dos dias e das semanas que seguirão à medida que o governo for se formando e criando estabilidade. No entanto, para se manter no poder, no meio de um processo de mobilização popular, o Talibã terá de atender às revindicações do povo.

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