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Brasil busca apoio da China para cortar emissões de carbono no transporte marítimo

Governo brasileiro aposta em aliança estratégica com Pequim para aprovar plano da ONU e enfrentar resistência dos Estados Unidos

Navio de contêineres da China rumo à África (Foto: VCG)

247 – O Brasil está intensificando esforços diplomáticos para assegurar o apoio da China na aprovação do Marco de Emissões Líquidas Zero da Organização Marítima Internacional (OMI), iniciativa da ONU que pretende reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa no transporte marítimo. A informação foi divulgada pelo jornal South China Morning Post (SCMP) e reproduzida pela Sputnik Brasil nesta quinta-feira (21).

A votação decisiva do plano ocorrerá em outubro, e o governo brasileiro considera fundamental a posição chinesa para consolidar a maioria necessária à aprovação. O ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Filho, reafirmou o compromisso do país com a agenda climática. Segundo ele, a proposta prevê que, a partir de 2027, navios oceânicos que não atendam aos padrões de eficiência energética passem a pagar taxas sobre suas emissões de carbono. Os valores irão variar entre US$ 100 (R$ 547) e US$ 380 (R$ 2.080) por tonelada de CO₂ equivalente, de acordo com o nível de conformidade.

Receita para combustíveis limpos e apoio a países em desenvolvimento

O plano da OMI estabelece que a receita obtida com as taxas será destinada ao fomento de combustíveis limpos e ao financiamento da transição justa nos países em desenvolvimento. Caso seja aprovado em outubro, o cumprimento pleno das exigências será obrigatório a partir de 2028.

Atualmente, 63 países já apoiam a proposta, incluindo Brasil, China e União Europeia. Em contrapartida, os Estados Unidos rejeitaram o marco climático, classificando-o como um "imposto global de carbono sobre os norte-americanos". Washington ainda ameaçou retaliar nações que aderirem ao acordo, impondo tarifas comerciais e restrições de visto.

China muda de posição e se aproxima do Brasil

Historicamente contrária a medidas mais rígidas no âmbito da OMI, a China mudou de postura em abril deste ano e passou a apoiar o plano. Até então, Pequim se opunha à fixação de prazos e à taxação do transporte marítimo, sob o argumento de que essas medidas penalizariam desproporcionalmente países em desenvolvimento.

A mudança, segundo analistas, tem caráter estratégico e fortalece o Brasil em sua busca por alianças. O embaixador chinês em Brasília, Zhu Qingqiao, deve se reunir com autoridades brasileiras para discutir alternativas e reforçar o apoio de Pequim ao projeto.

Porto de Santos como exemplo da disputa global

No Porto de Santos, o maior da América Latina e principal hub de exportação agrícola para a China, a disputa entre Washington e Pequim já tem reflexos práticos. Enquanto os Estados Unidos ameaçam com sanções, empresas chinesas como a COFCO vêm investindo em iniciativas sustentáveis e no cumprimento de normas ambientais locais.

De acordo com o SCMP, o presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, ressaltou que a parceria com companhias chinesas vai além da infraestrutura logística: “Elas aderiram ao programa de certificação de sustentabilidade do porto e contribuíram para projetos comunitários, como a recuperação de áreas degradadas e a revitalização de espaços públicos”.

Brasil aposta em liderança climática

A ofensiva diplomática em torno da OMI mostra a disposição do Brasil de assumir protagonismo nas negociações climáticas multilaterais. A estratégia de aproximação com a China reforça a posição brasileira diante da resistência dos Estados Unidos, cujo governo insiste em adotar medidas de pressão econômica para proteger interesses comerciais.

Se aprovado, o plano poderá redefinir a competitividade no setor de transporte marítimo, impulsionando investimentos em energia limpa e acelerando a transição para práticas mais sustentáveis em escala global.

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