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Ataque armado mata indígena no Mato Grosso do Sul

Violência atinge comunidade guarani kaiowá e reacende alerta sobre conflitos fundiários na região

Indígena Guarani-Kaiowá de 36 anos é morto com tiro na testa em ataque atribuído a pistoleiros no MS (Foto: Reprodução/Comunidade Pyelito Kue)

247 - Um ataque ocorrido na madrugada deste domingo deixou um indígena guarani kaiowá morto e outros quatro feridos na Terra Indígena Iguatemipeguá I, em Iguatemi, no Mato Grosso do Sul. A investida criminosa, realizada por um grupo armado, provocou pânico entre famílias que vivem no local e se soma à série de episódios de violência registrados nas últimas semanas.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) confirmou o ataque e a morte de Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá e Guarani, de 36 anos. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) relatou que cerca de 20 homens armados teriam invadido a área por volta das 4h, atacando a retomada de Pyelito Kue, território identificado pela Funai em 2013, mas ainda sem demarcação concluída.

Segundo o Cimi, o ataque durou aproximadamente duas horas. Conforme relatos colhidos pela organização, os atiradores tentaram levar o corpo de Vicente, mas foram impedidos pela própria comunidade. Outros quatro indígenas ficaram feridos — entre eles dois adolescentes e uma mulher — atingidos principalmente por disparos nos braços e no abdômen. Um dos jovens foi baleado com munição letal, enquanto as demais vítimas sofreram ferimentos por balas de borracha.

A Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu), vinculada à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), lamentou a escalada de violência e afirmou que a retomada vem sofrendo investidas há dias. Em nota, a organização repudiou os ataques e reforçou que não aceita ser tratada “como invasores em nossas próprias terras”. A entidade destacou ainda que “a Constituição Federal garante nossos direitos, e o Estado brasileiro tem o dever de proteger nossos povos”.

A Funai declarou “profundo pesar” pela morte de Vicente “após ataques de pistoleiros, em contexto de recente retomada realizada nos dias anteriores”. A instituição informou que acionou os órgãos de segurança pública e que atua junto ao Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas. Uma equipe da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) chegou ao local ainda pela manhã. Em nota, o órgão ressaltou a urgência de uma “investigação rigorosa” e reforçou a importância de políticas que fortaleçam a proteção territorial. Destacou também que um Grupo de Trabalho Técnico (GTT) acompanha as tensões no Mato Grosso do Sul.

A Funai afirmou que “é inaceitável que indígenas continuem perdendo suas vidas por defender seus territórios” e relacionou o ataque ao contexto internacional de reconhecimento da importância dos povos originários para o enfrentamento da crise climática, tema discutido na COP30.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) relatou que, ao chegar ao local, a FNSP encontrou duas pessoas feridas e confirmou o óbito de Vicente. “As providências de socorro foram adotadas, e a Força Nacional reforçou o patrulhamento na região, em apoio às ações da PF e da Funai”, disse a pasta. A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul não respondeu até o fechamento da reportagem.

O povo guarani kaiowá havia retomado no início de outubro uma área da Fazenda Cachoeira, sobreposta à TI Iguatemipeguá I. Desde então, foram registrados quatro ataques, sendo o deste domingo o mais violento. Após a nova investida, os indígenas recuaram para a aldeia, mas enfrentaram novos disparos e tiveram dificuldades para acionar apoio, já que pistoleiros destruíram uma ponte e bloquearam acessos, atrasando a chegada da FNSP.

Durante o ataque, uma mulher guarani kaiowá, cujo nome não foi divulgado por segurança, relatou a situação desesperadora vivida pela comunidade: “Os pistoleiros tomaram a ponte e fizeram um cerco. Estamos cercados. Estão atirando. Seguiram atirando até aqui na aldeia, fora da retomada, nas nossas casas. Estamos cercados. Sem chance de defesa”.

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