"O que estamos vendo pode ser a morte da diplomacia e das relações internacionais", diz Reynaldo Aragon
Aragon analisa cenário global, influência das grandes potências e impactos da tecnologia na soberania dos países
247 - O jornalista e diretor executivo da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática (UFF/CNPq), Reynaldo Aragon, concedeu uma entrevista ao programa Boa Noite 247, onde fez uma análise sobre a conjuntura política internacional, a ascensão da extrema direita, os conflitos globais e a influência da tecnologia no domínio da informação e na geopolítica. Entre os diversos temas abordados, destacou o risco de colapso da diplomacia como a conhecemos e a forma como os Estados Unidos utilizam sua influência para moldar conflitos e alianças ao redor do mundo.
"O que estamos vendo pode ser a morte não somente do que entendemos como processo civilizatório, mas também da própria concepção de diplomacia e relações internacionais", afirmou Aragon ao discutir o alinhamento das potências ocidentais em conflitos como os da Ucrânia e da Palestina. Segundo ele, a condução das relações geopolíticas atuais favorece a deterioração das instâncias de negociação e a imposição de uma lógica de força.
A entrevista abordou o papel dos Estados Unidos na geopolítica, destacando o governo de Donald Trump e suas movimentações estratégicas. Aragon lembrou que, apesar da retórica pacifista que Trump tenta adotar em alguns momentos, suas ações e posicionamentos indicam outra realidade. "O Trump vem com um discurso de pacifista, nitidamente tentando ganhar o Nobel da Paz, mas o que vemos é um alinhamento geopolítico que apenas fortalece o poderio de seus aliados, sem promover uma paz real e duradoura", explicou.
Sobre o conflito no Oriente Médio, Aragon criticou a falta de um debate mais amplo sobre as ações de Israel e a postura passiva das nações árabes em relação à Palestina e à Síria. "O silêncio dos povos árabes é ensurdecedor. Enquanto vemos uma cobertura crítica em mídias como Al Jazeera, no Ocidente e até no BRICS, esse tema não é devidamente debatido", apontou. Ele também mencionou o dilema brasileiro na manutenção de relações diplomáticas e comerciais com Israel, alertando para os riscos de sanções e retaliações caso o Brasil tome uma posição mais contundente.
A tecnologia e a soberania digital foram outros temas centrais na entrevista. Aragon destacou como países como China e Rússia investiram fortemente no desenvolvimento de tecnologias próprias, enquanto o Brasil teve seu avanço sabotado ao longo da história. "Até 2003, o Brasil não tinha um desejo real de desenvolvimento tecnológico soberano. E quando tentou, foi sabotado", afirmou. Ele mencionou o papel das forças de extrema direita e da influência norte-americana na desestabilização do Brasil e no controle das plataformas digitais, citando a atuação do Supremo Tribunal Federal na busca por maior regulação. "Se pegarmos o inquérito das fake news, o inquérito da Covid-19 e a denúncia do PGR sobre o 8 de janeiro, temos um enorme volume de provas da necessidade de regulação das plataformas. Não é à toa que Alexandre de Moraes se tornou um dos principais alvos da extrema direita mundial", disse.
A ascensão do Vale do Silício como um polo ideológico de extrema direita também foi discutida. "O pessoal de tecnologia da informação, em grande parte, é bolsonarista porque essa é a cultura do Vale do Silício. É a cultura tecnolibertária, de que a tecnologia salvará o mundo e eliminará a burocracia. O problema é que, sem regulação, essas ferramentas são usadas para desinformação e controle social", alertou Aragon.
Por fim, o jornalista reforçou a importância de uma soberania tecnológica compatível com a realidade brasileira, aprendendo com os acertos de outras nações sem cair na armadilha de trocar uma dependência por outra. "Pensar em um mundo multipolar não é simplesmente escolher um patrão menos ruim. Precisamos desenvolver uma soberania compatível com nossa história, cultura e necessidades", concluiu.



