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Cúpula dos Povos denuncia crise climática e reforça unidade internacional

Declaração final em Belém reúne demandas por justiça socioambiental, fim das guerras e protagonismo dos povos na resposta global

Cúpula dos Povos pela Paz (Foto: Fernanda Forgerini/Opera Mundi)

247 - A Declaração da Cúpula dos Povos rumo à COP30, realizada em Belém entre 12 e 16 de novembro, sintetiza meses de debates, mobilizações e atividades culturais envolvendo milhares de participantes. O documento expressa a visão política e as propostas que movimentos sociais e comunidades tradicionais levaram para a capital paraense durante o encontro.

A declaração original informa que mais de 70 mil pessoas de diferentes territórios do Brasil e do mundo contribuíram com o processo. Representantes de povos originários, comunidades tradicionais, camponeses, quilombolas, trabalhadores urbanos, juventudes, movimentos feministas, coletivos LGBTQIAPN+ e moradores de periferias reafirmaram o compromisso com a construção de um mundo justo, democrático e orientado pelo “bem viver”.

A Cúpula afirma que o avanço da extrema direita, do fascismo e dos conflitos armados acelera a degradação ambiental e intensifica a exploração de populações vulneráveis. O texto responsabiliza países do Norte Global, corporações transnacionais e elites econômicas pela profundidade da crise climática e manifesta solidariedade a povos atingidos por ofensivas militares e violações de direitos, incluindo palestinos, países do Caribe e nações africanas.

O documento denuncia a atuação imperial dos Estados Unidos em operações militares na região do Caribe e se solidariza com países que enfrentam pressões externas e intervenções, como Venezuela, Cuba, Haiti, Panamá, Colômbia e El Salvador. Ao mesmo tempo, critica a exploração de recursos naturais sob o modelo capitalista, apontando mineradoras, indústrias bélicas, agronegócio e Big Techs como principais agentes da degradação ambiental.

Outro eixo central é o feminismo, apresentado como pilar ético e político do projeto defendido pelos movimentos. A declaração valoriza o trabalho de cuidado, descrevendo-o como essencial para a manutenção da vida e contraponto à lógica econômica baseada no lucro e na acumulação privada.

Os participantes afirmam ainda que somente o internacionalismo popular — construído por meio de trocas de saberes e experiências entre povos — pode alinhar as soluções capazes de enfrentar a crise global. Nesse sentido, celebram a criação do Movimento Internacional de Atingidos por Barragens como exemplo de articulação transnacional.

A partir de um processo que se estendeu por mais de dois anos, a Cúpula dos Povos lista 15 diagnósticos sobre as causas estruturais da crise climática. Entre os pontos destacados estão a centralidade do capitalismo nas dinâmicas de destruição ambiental, a vulnerabilidade das periferias aos eventos extremos, o fracasso do multilateralismo e a financeirização das políticas climáticas.

A declaração também apresenta uma agenda de propostas. Defende o enfrentamento às “falsas soluções” de mercado, como mecanismos financeirizados que, segundo os organizadores, desviam a atenção das mudanças necessárias. Cobra ainda que saberes tradicionais orientem as políticas climáticas e exige a demarcação e proteção de terras indígenas e territórios de povos e comunidades tradicionais.

A Cúpula reivindica a reforma agrária popular, o fomento à agroecologia e políticas que assegurem soberania alimentar. Nos espaços urbanos, propõe ações estruturais para enfrentar o racismo ambiental, com investimentos em moradia, saneamento, arborização, transporte público e regularização fundiária, especialmente nas periferias.

A declaração exige o fim das guerras e a desmilitarização global, defendendo que recursos destinados a arsenais bélicos sejam redirecionados para a recuperação de áreas devastadas por desastres climáticos. Também pede reparações integrais às populações atingidas por barragens, mineração, combustíveis fósseis e crimes socioambientais.

O texto reforça a necessidade de fortalecer instrumentos internacionais de proteção dos povos e dos ecossistemas, incluindo um tratado vinculante sobre empresas transnacionais e direitos humanos. A implementação integral da Declaração dos Direitos Camponeses é apontada como fundamental para enfrentar a crise do clima.

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