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Brasil conseguiu a triste façanha de transformar a pandemia em um sistema de epidemias, avalia professor Naomar de Almeida Filho

Para o médico epidemiologista, não é totalmente correto falar em “segunda onda” da Covid-19 no Brasil porque “não tivemos a experiência de outros países de praticamente zerar a mortalidade. Nós mantivemos patamares muito elevados. Nós colocamos uma segunda onda sobre a primeira onda”. Assista na TV 247

Naomar de Almeida Filho (Foto: Divulgação)

247 - Médico professor de Epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ex-reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Naomar de Almeida Filho falou à TV 247 sobre a atual situação do Brasil em meio à pandemia de Covid-19.

O especialista chamou a atenção para o fato de que o Brasil não vive exatamente uma "segunda onda” da doença, visto que os elevados números de contaminação pelo coronavírus e de mortes diárias continuaram em patamares elevados desde o auge da pandemia em 2020 até hoje. “Quando começou no Brasil o recrudescimento, eu fui cauteloso em dizer que era uma ‘segunda onda’. Nós não tivemos a experiência de outros países de praticamente zerar a mortalidade. Nós mantivemos patamares muito elevados. Nós colocamos uma segunda onda sobre a primeira onda, porque conseguimos a triste façanha de transformar no Brasil a pandemia em um sistema de epidemias em função dos muitos equívocos, erros e dos despropósitos. Isso permitiu uma dinâmica muito peculiar que é possível que nenhum outro país do mundo tenha”. 

Para o professor, o Brasil chegou a esta situação porque não cumpriu com as medidas básicas de contenção de vírus, como o isolamento social, o uso de máscaras e as tantas outras recomendações sanitárias divulgadas no país há mais de um ano. “A ‘segunda onda’ atinge o Brasil em uma situação em que a disseminação dessa nova variante foi fomentada pela não utilização do conhecimento secular, um conhecimento já assumido sobre as formas de controlar processos epidêmicos desse tipo”. 

Por fim, Naomar Filho confirmou a mudança no perfil de internados pela Covid-19 nos hospitais do país. Os mais jovens passam a desenvolver casos mais complexos e as comorbidades ainda são fator decisivo para o agravamento da doença. “O que a variante faz? Traz dinâmicas de transmissão que são diferentes da original. Então está havendo uma mudança no perfil etário. As pessoas que têm outras doenças continuam sendo muito vulneráveis, mas essa mudança de perfil etário pode ser devido a mudança da capacidade do microrganismo de produzir casos graves”.

Naomar está entre os especialistas do Nordeste que pensaram como a nova cepa migrou de Manaus para Araraquara, interior de São Paulo, uma das cidades com piores níves de infecção e mortes proporcionais do País.

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