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Lula: ‘Jards Macalé fez história contra o autoritarismo’

'Uma visão de mundo me aproximou de Jards: política e amor devem andar juntos. Não podem ser separados', afirmou o presidente em homenagem ao cantor

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cerimônia de Entrega do Projeto de Lei do Plano Nacional de Cultura (PNC 2025–2035). Salão Nobre do Palácio do Planalto – Brasília (DF) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu nesta segunda-feira (17) uma mensagem para destacar o legado do cantor Jards Macalé, que morreu aos 82 anos no Rio de Janeiro, onde tratava um enfisema pulmonar.  “Sempre defendeu a valorização da cultura e transformou seu talento e sua arte em uma luta constante contra o autoritarismo”, afirmou o petista na rede social X.  

"Jards Macalé dizia que o amor é um gesto político. E que em tempos de ódio e de intrigas como os que vivemos recentemente, pouca gente falava do amor, e por isso era tão importante cantá-lo. Essa visão de mundo me aproximou de Jards: política e amor devem andar juntos. Não podem ser separados. 

O presidente comentou sobre como conheceu o músico. “Estive com Jards na luta pela redemocratização. Nos reencontramos várias vezes ao longo dos anos. Foi uma honra tê-lo entre os artistas que se apresentaram em minha posse em 2023. Jards Macalé fez história como cantor e compositor de algumas das músicas mais brilhantes de nossa MPB. A todas e todos que estão sentindo a falta de Jards Macalé, deixo um abraço carinhoso”.

Trajetória

Jards Anet da Silva nasceu em 3 de março de 1943, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, perto do morro da Formiga. Sua atuação no meio cultural teve início na década de 1960. Cantor, músico, compositor e ator, cresceu em um ambiente marcado por referências musicais: no morro, ouviu o ritmo dos batuques do samba; na casa vizinha, ressoavam as vozes de Vicente Celestino e Gilda de Abreu.

Dentro de casa, era influenciado pelas valsas, modinhas e foxes tocados ao piano por sua mãe, Lígia, que também cantava, e pelo acordeom de seu pai. O ambiente musical familiar incluía ainda o irmão mais novo, Roberto, com quem formava um pequeno coro. Na juventude, acompanhava a programação da Rádio Nacional e os grandes nomes do rádio, como Silvio Caldas, Francisco Alves, Cauby Peixoto, Orlando Silva, Marlene e Emilinha, que se apresentavam no Programa César de Alencar.

Ainda jovem, mudou-se com a família para Ipanema, onde recebeu o apelido de Macalé — referência a um jogador do Botafogo conhecido por seu desempenho ruim. Na adolescência, formou o duo Dois no Balanço, seu primeiro grupo musical. Depois criou o Conjunto Fantasia de Garoto, voltado ao jazz, à serenata e ao samba-canção.

Buscando aprimoramento técnico, estudou piano e orquestração com Guerra Peixe, violoncelo com Peter Daueslsberg, guitarra com Turibio Santos e Jodacil Damasceno, além de análise musical com Esther Scliar. Sua carreira profissional começou em 1965 como guitarrista do Grupo Opinião. Atuou como diretor musical das primeiras apresentações de Maria Bethânia e teve composições gravadas por artistas como Elisete Cardoso e Nara Leão.

Ao lado de Gal Costa, Paulinho da Viola e do parceiro José Carlos Capinam, fundou a Agência Tropicarte para administrar seus espetáculos. No cinema, participou como ator e compositor das trilhas de Amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres, dirigidos por Nelson Pereira dos Santos. Também assinou trilhas para filmes como Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade; Antonio das Mortes, de Glauber Rocha; A Rainha Diaba, de Antonio Carlos Fontoura; e Se Segura, Malandro!, de Hugo Carvana.

Entre suas obras musicais estão “Vapor Barato”, “Anjo Exterminado”, “Mal Secreto”, “Movimento dos Barcos”, “Rua Real Grandeza”, “Alteza”, “Hotel Estrela” e “Poema da Rosa”. Suas composições foram interpretadas por nomes como Gal Costa, Maria Bethânia, Clara Nunes, Camisa de Vênus e O Rappa.

Em 2019, o álbum Besta Fera foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de MPB e incluído entre os 25 melhores lançamentos brasileiros do primeiro semestre pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Já em 2023, a APCA destacou Coração Bifurcado entre os 50 melhores álbuns do ano, e, em 2024, apontou Mascarada: Zé Kéti, parceria com Sérgio Krakowski, também entre os 50 melhores lançamentos do período (com informações da Abr).

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