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Perseguição bolsonarista: justiça arquiva denúncia contra Garotos Podres após constatar ausência de provas

Na última semana, o vocalista Mao afirmou nas redes sociais que a banda havia sido alvo de um inquérito motivado pela canção “Papai Noel, Velho Batuta”

Perseguição bolsonarista: justiça arquiva denúncia contra Garotos Podres após constatar ausência de provas (Foto: Divulgação)

247 - A banda paulista de punk rock Garotos Podres teve o inquérito aberto por bolsonaristas contra ela arquivado pela Justiça da Paraíba após a constatação de que não havia provas que sustentassem as acusações relacionadas ao repertório executado em um show em João Pessoa. A decisão, datada de 28 de novembro, foi revelada pelo g1.

A denúncia foi registrada na Delegacia de Repressão a Crimes Homofóbicos, Étnico-Raciais e de Intolerância Religiosa após a apresentação do grupo em uma casa de shows privada na capital paraibana, no dia 15 de fevereiro de 2025. O denunciante alegava que algumas músicas compostas na década de 1980 seriam “controversas” e teriam sido tocadas na ocasião — o que não se confirmou na investigação.

Na última semana, o vocalista Mao afirmou nas redes sociais que a banda havia sido alvo de um inquérito motivado pela canção “Papai Noel, Velho Batuta”, de 1985, o que ampliou a repercussão do caso. O g1 destacou, porém, que não conseguiu contato com a defesa do grupo para esclarecer se essa declaração se referia especificamente à denúncia apresentada na Paraíba.

Durante a apuração, integrantes da banda e o produtor foram ouvidos e negaram que as canções mencionadas pelo denunciante integrassem o repertório do show. A gravação completa da apresentação também foi analisada, reforçando a versão da banda. A decisão judicial reproduz o entendimento unânime dos envolvidos: “As testemunhas e os integrantes/produtor da banda foram uníssonos em afirmar que as músicas apontadas como controversas (‘Fernandinho Viadinho’, ‘Führer’ e ‘Voltem pro Nordeste’) não foram executadas na data, sendo esta última sequer pertencente ao repertório autoral do grupo. Ademais, ‘Fernandinho Viadinho’ teria sido excluída do set há décadas, e ‘Führer’ não integra o setlist há mais de 30 anos”.

Outro ponto decisivo foi a admissão do próprio denunciante, que, segundo o documento, “confessou não ter assistido ao show e baseou sua notícia em conteúdos de internet”. Com isso, a polícia concluiu que nenhuma das canções citadas havia sido tocada na noite em questão, o que resultou no arquivamento do inquérito por ausência de elementos que justificassem sua continuidade.

O caso reacendeu discussões sobre a interpretação das letras históricas da banda, que marcaram a cena punk dos anos 1980. Entre as músicas mencionadas no inquérito, “Fernandinho Viadinho” traz uma narrativa de crítica irônica à violência de gênero, enquanto “Führer” aborda os horrores da Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva do algoz. Já “Voltem para o Nordeste”, também citada, não faz parte do repertório autoral dos Garotos Podres.

Com a decisão, a Justiça encerra oficialmente o caso e afasta qualquer responsabilização criminal relacionada ao show realizado em João Pessoa.

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