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Pix faz 5 anos e entra em nova fase com mais segurança, novas funções e pressão por internacionalização

Ferramenta criada pelo Banco Central revolucionou pagamentos no Brasil, ampliou inclusão financeira e virou motor do comércio digital

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247 - O Pix completa, neste domingo (16), cinco anos de operação — e chega à meia década como o sistema que mais transformou o comportamento financeiro dos brasileiros neste século. Com mais de 170 milhões de usuários e quase 890 milhões de chaves cadastradas, a plataforma idealizada pelo Banco Central (BC) se tornou onipresente na economia nacional, ao mesmo tempo em que impulsionou a concorrência bancária e reduziu custos de transações.

Desde o lançamento, em 2020, o Pix movimentou R$ 85,5 trilhões até setembro de 2025. Somente em 2024, a cifra superou R$ 26 trilhões — valor equivalente a quase dois PIBs e meio do país. A adoção massiva transformou a ferramenta no principal meio de pagamento do Brasil, superando cartões e boletos e provocando mudanças profundas tanto para consumidores quanto para empresas.

Inclusão financeira e transformação de hábitos

O que começou como uma alternativa rápida para transferências entre pessoas ultrapassou expectativas e criou oportunidades econômicas inéditas. Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, afirma ao G1 que o sistema surpreendeu porque acabou permitindo “novos modelos de negócio” e ampliou a inclusão financeira.

Aplicativos de mensagem se tornaram vitrines de microempreendedores, que passaram a fechar vendas em segundos com o envio de um comprovante instantâneo. A facilidade também alcançou trabalhadores informais, ampliando o fluxo do comércio de pequeno porte.

A economista Carla Beni, professora da FGV, destaca que a simplicidade e o baixo custo democratizaram o acesso aos pagamentos digitais: o Pix virou ferramenta de participação econômica para pessoas de todas as idades, níveis de escolaridade e faixas de renda.

O uso frequente alterou até a relação dos brasileiros com o dinheiro físico: os saques caíram 35% desde 2020. Para os lojistas, o alívio é adicional — aceitar Pix custa, em média, um quarto do valor pago em taxas de cartão.

No segundo trimestre de 2025, o sistema somou 19,3 bilhões de pagamentos. 

A transformação provocada pelo Pix em apenas cinco anos mostra que sistemas de pagamento podem alterar rapidamente hábitos econômicos e estruturas de mercado. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado expõe fragilidades e obriga reguladores, bancos e empresas a aperfeiçoarem controles, processos e comunicação com os usuários. Para o Banco Central, a tarefa imediata é equilibrar inovação com proteção — introduzindo ferramentas que reduzam fraudes sem tolher a usabilidade que tornou o Pix um sucesso.

Especialistas ouvidos pelo mercado destacam que os próximos passos terão impacto direto no cotidiano dos consumidores: a padronização do Pix Parcelado pode dinamizar o crédito ao consumo; o Pix Duplicata pode reduzir custos e acelerar pagamentos entre empresas; e a internacionalização, se de fato implementada, ampliaria o alcance competitivo do modelo brasileiro. Por outro lado, só medidas efetivas de rastreamento e devolução, como o MED 2.0, serão capazes de reduzir a atratividade do sistema para quadrilhas especializadas em fraudes.

No plano prático, o desafio também passa pela educação financeira. Usuários mais informados e plataformas que investem em checagens preventivas formam a primeira linha de defesa contra golpes. Enquanto isso, a pressão por uma resposta rápida do setor financeiro em casos de fraude continuará a moldar novas regras e responsabilidades, com potencial para redefinir relações entre clientes, instituições e o regulador.

Cinco anos depois, o Pix deixa claro que a inovação em infraestrutura financeira não é um evento isolado, mas um processo contínuo — que requer atualização regulatória, tecnologia resiliente e cooperação entre autoridades e o mercado. O futuro do sistema dependerá, acima de tudo, da capacidade do Brasil de traduzir as lições desses primeiros anos em ferramentas concretas de proteção e em modelos que ampliem inclusão sem abrir mão da segurança.

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