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“A direita quer criminalizar o lulismo para voltar ao poder”, diz José Dirceu

O ex-ministro afirma que setores conservadores tentam retomar a narrativa da Lava Jato para deslegitimar Lula e fortalecer o bolsonarismo

“A direita quer criminalizar o lulismo para voltar ao poder”, diz José Dirceu (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

247 - Em entrevista concedida ao programa Boa noite 247, o ex-ministro José Dirceu fez uma análise sobre a atual conjuntura política brasileira e alerta para o avanço da extrema direita, a disputa narrativa contra o governo Lula e a tentativa de setores conservadores de “criminalizar o lulismo” como estratégia para retomar o poder.

Dirceu afirma que há um projeto político organizado, nacional e internacionalmente, que busca deslegitimar as conquistas sociais e institucionais dos governos petistas. Segundo ele, essa ofensiva tem como eixo central a criminalização do lulismo, revivendo parte da estratégia que sustentou a Lava Jato. “A direita quer criminalizar o lulismo para voltar ao poder”, disse, destacando que o objetivo não é apenas atacar o governo, mas destruir a liderança social e eleitoral que Lula representa.

Dirceu avalia que, embora Bolsonaro esteja fragilizado judicialmente, o bolsonarismo permanece ativo, organizado e financiado, e segue influenciando o debate público. Para ele, a extrema direita brasileira se insere em um movimento global que ganha força com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e com o crescimento de forças conservadoras na Europa.

“O bolsonarismo continua aí. Ele não depende do Bolsonaro”, afirma, destacando que a articulação política e digital do campo conservador segue operante, apostando na desinformação, na radicalização e na criação de crises artificiais para desgastar o governo.


Batalha da comunicação

O ex-ministro afirma que há uma fragilidade na comunicação progressista diante do aparato digital da extrema direita e defende uma estratégia nacional de comunicação, articulada entre governo, partidos, movimentos sociais e influenciadores.

“A batalha principal é a comunicação”, enfatizou, lembrando que o bolsonarismo domina redes, narrativas e estruturas de mobilização. Para ele, sem presença consistente na comunicação digital, o campo progressista continuará perdendo terreno na opinião pública, mesmo com bons resultados econômicos e sociais.


Lógica lavajatista

Dirceu revisitou os anos de perseguição judicial que marcaram sua trajetória e a do PT, alertando que a lógica da Lava Jato ainda não foi totalmente superada. Ele considera que setores do Judiciário, da mídia e da elite econômica seguem utilizando denúncias infundadas e processos midiáticos como arma política.

“A justiça virou instrumento de luta política. Isso não terminou com a Lava Jato”, afirmou, argumentando que a criminalização do lulismo é parte desse processo. Para Dirceu, a tentativa de criar novos escândalos tem como objetivo minar a confiança popular no governo Lula antes de 2026.

Dirceu avalia que Lula continua sendo a figura mais importante do cenário político brasileiro, mas enfrenta uma conjuntura hostil, com um Congresso conservador, pressões econômicas e forte atuação da extrema direita. Ele defende maior ousadia nas reformas sociais, fortalecimento do Estado e mobilização popular.

“O povo tem que sentir a mudança. Se o governo não mostrar isso, a direita toma o discurso”, alertou.


Cenário internacional

A ascensão de Trump nos Estados Unidos é vista por Dirceu como um fator de grande impacto na política global. Segundo ele, um segundo mandato do republicano empoderará forças conservadoras em todo o mundo, inclusive no Brasil, ampliando pressões contra governos progressistas e iniciativas de integração internacional.

Ele alerta que o Brasil precisa manter sua política externa soberana, fortalecer os BRICS e consolidar sua estratégia de desenvolvimento independente: “Sem projeto nacional, viramos colônia”, disse.


Organização política

Dirceu reforçou que apenas comunicação digital não basta: é necessário organizar a base social, fortalecer sindicatos, movimentos populares e presença territorial. Para ele, a direita está tentando reescrever a história recente do país para justificar seu retorno ao poder, e isso só será enfrentado com participação política ativa.

“Não é só defender o governo. É defender o projeto de país. A direita quer voltar como se fosse salvadora, mas é responsável pelas maiores crises que vivemos”, resumiu.

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