“Lula vai iniciar 2026 apagando incêndios gigantescos”, alerta Fernando Horta
Historiador afirma que crise institucional, juros elevados e escândalo financeiro pressionam o governo Lula
247 - O historiador Fernando Horta afirmou que o presidente Lula chegará a 2026 enfrentando um ambiente político e institucional adverso, marcado por crises simultâneas no sistema financeiro, nas instituições e na economia. A avaliação foi feita em entrevista ao programa Bom dia 247.
Segundo o historiador, o país atravessa um período de forte tensão institucional. “O Brasil já vem passando por uma série de estresses institucionais”, disse, ao situar o episódio em um contexto mais amplo. Para ele, esse cenário impõe custos diretos à atuação do presidente. “Ele inicia 2026 tendo que apagar incêndios gigantescos para que as instituições brasileiras tenham alguma folga”, afirmou.
Fernando Horta explicou que o escândalo do banco Master revela problemas estruturais do sistema financeiro e político. “O Master captava dinheiro no mercado num sistema semelhante ao de pirâmide, onde o de cima vai pagando os rendimentos do de baixo e ele precisa ficar captando o tempo inteiro”, afirmou. Ele ressaltou que esse tipo de operação é ilegal e insustentável. “Esse processo é muito complicado de você manter por longo tempo, tanto que é ilegal você fazer esse tipo de coisa”, disse.
Horta destacou ainda que o caso envolve diferentes setores do poder. “Tem gente de esquerda, de direita, de frente, de reta, todo mundo enfiado no tal do escândalo do Master”, afirmou, ao apontar que a amplitude do esquema amplia seus efeitos políticos e institucionais.
STF, estabilidade democrática e pressão política
Para o historiador, a crise também recai sobre o Supremo Tribunal Federal. “O STF está no centro disso tudo. E no centro do STF está o Alexandre de Moraes”, disse. Ele alertou que a exposição do caso pode ser explorada por forças que buscam desestabilizar a democracia.
“Tudo o que bolsonaristas, o que Donald Trump, o atual presidente dos Estados Unidos, e todas essas pessoas que foram seguradas pelas decisões institucionais do STF querem é balançar esse pilar que hoje é Alexandre de Moraes”, afirmou.
Horta avaliou que o impacto dessa pressão institucional acaba recaindo sobre o governo Lula, que precisa administrar crises que não estavam no horizonte inicial. “O problema é que, no meio dessa confusão toda, você pega essa partezinha e expõe”, disse, acrescentando: “Essa exposição vai doer demais não só ao Alexandre de Moraes e ao STF, mas vai doer demais à democracia brasileira”.
Juros altos e impacto direto na governabilidade
Para Fernando Horta, a manutenção de taxas elevadas compromete a economia e a capacidade política do governo. “Isso é um suicídio financeiro, um suicídio eleitoral, um suicídio econômico”, afirmou. Ele foi categórico ao criticar o patamar atual. “Nenhum país do mundo consegue suportar taxas reais de dez por cento de juros ao ano”, disse.
O historiador explicou como a taxa Selic afeta a população e a atividade econômica. “Essa taxa Selic é só para organizar os contratos entre esses agentes financeiros e o governo. Depois, isso entra em cascata até chegar na gente”, afirmou. Segundo ele, “se a Selic está em 10% ao ano real, vai chegar em você 400%”, ao se referir ao custo final do crédito.
Para Horta, esse cenário ajuda a explicar o baixo crescimento econômico recente. “O empresário não tem acesso a um crédito de melhor qualidade para poder alavancar o seu negócio”, afirmou, relacionando a política monetária aos dados de crescimento reduzido do PIB.
Banco Central e efeitos políticos
Horta também criticou a atuação do Banco Central, especialmente de Gabriel Galípolo. “Ele devia proteger o real. E ele não fez, ele deixou o real ser atacado especulativamente”, afirmou, ao mencionar episódios de forte valorização do dólar.
Apesar do apoio inicial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do próprio presidente Lula, o historiador avaliou que os resultados foram negativos. “Na prática, não só não ajudou na parte econômica, como segue estabelecendo um limite impagável para os juros brasileiros”, disse. Para ele, esse contexto “acaba prejudicando a eleição do presidente Lula” e dificulta a construção de um ambiente político mais estável.
Horta afirmou que há uma contradição crescente entre o desejo de reduzir a centralidade de Lula e a realidade institucional do país. “A cada ano que passa, o plano dele é para que o Brasil dependa menos dele, mas a gente vai enxergando todas as nossas instituições dependendo, na realidade, cada vez mais dele”, disse.
O historiador encerrou sua análise com um alerta. “A situação está muito, muito complicada”, afirmou, indicando que os próximos desdobramentos do escândalo, da política econômica e da crise institucional devem continuar pressionando o governo e a governabilidade do presidente nos próximos anos.



