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      “O Equador já é uma ditadura”, afirma Amauri Chamorro

      Analista político denuncia fraudes eleitorais, estado de exceção e domínio do narcotráfico sobre instituições do Equador

      Jornalista Amauri Chamorro fala no painel o painel "As Experiências Internacionais", durante o evento "A Política Nacional sobre Drogas: um Novo Paradigma", realizado pelo Brasil 247, TV 247 e Consultor Jurídico, com apoio do grupo Prerrogativas - Brasília (DF) - 18/02/2025 (Foto: Log Filmes/Brasil 247)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Sobreira, da TV 247, o analista político e estrategista de comunicação equatoriano Amauri Chamorro denunciou o que considera ser a consolidação de uma ditadura no Equador sob o governo do presidente reeleito Daniel Noboa, reeleito no último domingo, sob fortes acusações de fraude eleitoral. A conversa tratou de temas como alegações de fraude, militarização do Estado, controle territorial por grupos narcotraficantes e a perda de mobilização da esquerda.

      Chamorro é uma figura recorrente nos debates da TV 247 sobre América Latina e, com vasta experiência eleitoral na região, oferece uma visão contundente da crise institucional equatoriana. “O Equador já é uma ditadura”, afirmou. “A estrutura democrática foi totalmente fragilizada e há uma captura do Estado pelo narcotráfico.”

      Alegações de fraude e sistema eleitoral arcaico

      Na avaliação do analista, as alegações de fraude feitas por Luisa González, candidata derrotada por Noboa, são fundamentadas na fragilidade estrutural do sistema eleitoral equatoriano. Diferente do modelo eletrônico do Brasil, o voto no Equador ainda é em papel, facilitando manipulações e dificultando a fiscalização efetiva. “É um sistema arcaico, que permite fraudes como já ocorreu em outros países da região”, disse Chamorro.

      Ele também apontou que o controle paralelo das atas eleitorais por partidos de oposição se torna inviável devido aos altos custos e à ausência de fiscalização em milhares de urnas.

      Estado de exceção e repressão institucional

      Chamorro denunciou ainda o uso recorrente do estado de exceção por Daniel Noboa, inclusive com a proibição de reuniões públicas durante o período eleitoral. "A Constituição não prevê a renovação permanente do estado de exceção, mas ele tem sido usado como instrumento para reprimir a oposição e controlar o território", alertou.

      Para o analista, o decreto é uma ferramenta de coerção: “Com esse mecanismo, o exército ganha papel de polícia, e qualquer manifestação pode ser dissolvida com violência”.

      Narcotráfico como poder paralelo

      Segundo Chamorro, as instituições equatorianas estão profundamente infiltradas por organizações criminosas ligadas ao narcotráfico. “O exército, a polícia, o Ministério Público e até a presidência estão capturados. Não há controle do Estado nem mesmo sobre esquinas das cidades”, afirmou.

      Ele traça uma conexão direta entre a geografia do Equador, o subsídio à gasolina e o uso de embarcações pesqueiras como meio de transporte de drogas para o México e os Estados Unidos. “O Equador virou uma rota logística perfeita para o tráfico internacional”, declarou.

      Acordo com os EUA e presença de mercenários

      Chamorro criticou ainda a aliança entre o governo Noboa e os Estados Unidos, especialmente a presença da empresa de segurança Blackwater, conhecida por suas operações militares privadas. “Mais de 500 agentes da Blackwater chegaram ao país às vésperas das eleições. Isso não é coincidência. É parte de uma tentativa de controle regional e das rotas de narcotráfico”, afirmou.

      Ele também comentou a controversa aproximação entre Noboa e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Pagaram US$ 200 mil para que Noboa pudesse tirar uma foto com Trump em um restaurante. Foi uma encenação para legitimar uma vitória manchada por suspeitas.”

      Enfraquecimento da esquerda e desgaste do correísmo

      Chamorro analisou com franqueza o declínio da influência da Revolução Cidadã, movimento liderado por Rafael Correa. “Houve erros próprios e também lawfare. A perseguição judicial desmobilizou a militância e criou uma nova geração que vê o correísmo como corrupção e conservadorismo”, afirmou.

      Ele apontou que a esquerda perdeu conexão com os movimentos indígenas e com os jovens, sendo percebida por muitos como “antiambientalista e patriarcal”.

      Crítica ao modelo global da guerra às drogas

      No encerramento da entrevista, Chamorro abordou a geopolítica do narcotráfico, criticando a hipocrisia das potências ocidentais. “Os Estados Unidos lucram em todas as pontas: compram barato, lavam dinheiro e não penalizam seus consumidores ou empresários. Quem morre é o latino-americano pobre com um fuzil na mão”, denunciou.

      Chamorro defendeu que o debate sobre drogas seja globalizado e centrado na justiça social: “Não se trata de criminalizar a folha de coca, como se fosse a mandioca. Trata-se de enfrentar os verdadeiros beneficiários do tráfico: os que ganham com a proibição e a repressão.” Assista:

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