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“O Supremo tem que ter autonomia de poder”, afirma Rogério Correia sobre ingerência estrangeira e ameaça golpista

Deputado do PT defende independência do Judiciário, critica aliados de Bolsonaro e projeta julgamento histórico do ex-presidente por tentativa de golpe

“O Supremo tem que ter autonomia de poder”, afirma Rogério Correia sobre ingerência estrangeira e ameaça golpista (Foto: Divulgação | Mario Agra/Câmara dos Deputados)

247 - Durante entrevista ao programa Brasil Agora, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) afirmou que a autonomia do Supremo Tribunal Federal é cláusula essencial da democracia brasileira e que qualquer tentativa de interferência, seja interna ou externa, configura grave ameaça ao Estado de Direito. A fala foi motivada pelas recentes pressões vindas do entorno de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e por declarações de aliados de Jair Bolsonaro que, segundo Correia, continuam tentando “chantagear o Brasil” em defesa da anistia do ex-mandatário.

O parlamentar foi direto ao comentar a tentativa de setores bolsonaristas de transformar a alta corte brasileira em objeto de barganha internacional. “O Supremo tem que ter autonomia de poder. Um país estrangeiro querer dizer pra alta corte brasileira o que ela interpreta de lei é um absurdo completo”, declarou. Correia relacionou a tentativa de pressionar o Judiciário brasileiro às recentes falas de Flávio Bolsonaro, que usou o exemplo do Japão e das bombas atômicas para justificar uma suposta rendição nacional aos Estados Unidos. “Ameaçar o Brasil com bomba atômica é o fim da picada”, reagiu o petista.

Segundo ele, esse tipo de retórica escancara o caráter antidemocrático da extrema direita. “Eles querem fazer agora a intervenção com a cavalaria norte-americana, com bomba atômica e tudo mais dentro do Supremo Tribunal Federal no Brasil”, ironizou, lembrando que essa narrativa de ruptura institucional tem longa data. “É o que o Eduardo Bolsonaro disse: fechar o Supremo com um cabo e um soldado. Agora evoluíram para ameaças internacionais.”

Na avaliação do deputado, esse movimento se dá num momento em que o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado está prestes a começar. Correia detalhou o trâmite jurídico: o procurador-geral da República já apresentou as alegações finais — “uma peça histórica”, segundo ele — e agora os réus têm prazos sucessivos de quinze dias para suas manifestações. A previsão, de acordo com o petista, é que a sentença seja proferida até setembro, e a expectativa é de uma condenação severa. “A CPMI estimou 29 anos de cadeia só pelos crimes contra a democracia”, recordou.

Ao rememorar os atos golpistas, Correia alertou para a tentativa de apagamento da gravidade dos fatos. “Eles foram para frente dos quartéis pedir ditadura militar, interromperam estradas, tentaram explodir um avião em Brasília, invadir a sede da Polícia Federal, quebraram tudo no dia da diplomação do Lula. Tentaram matar o presidente da República, o vice e o presidente do Supremo. E contrataram hacker para fraudar a urna. Isso que eu lembro de cabeça.”

Além da questão judicial, o deputado também abordou pautas econômicas e trabalhistas, como a revogação da jornada 6x1. Ele considera urgente que o Congresso aprove propostas que devolvam dignidade ao trabalhador, como o fim da escala semanal que obriga milhões a trabalharem de segunda a sábado sem folga adequada. “É uma jornada estressante. E os que não têm carteira assinada vivem a chamada pejotização, trabalhando para terceiros sem direitos”, disse.

Na avaliação do parlamentar, as recentes pesquisas que mostram crescimento de popularidade do presidente Lula são resultado direto da retomada de pautas populares e da clareza na disputa política. “O governo resolveu colocar como prioridade a divisão de renda. Isentar quem ganha até R$ 5 mil, aliviar a classe média e tributar os super-ricos. Isso unifica o povo em torno de bandeiras importantes.”

Correia também aproveitou para criticar o governador Tarcísio de Freitas e sua tentativa de se equilibrar entre o bolsonarismo e o empresariado paulista. “Ele está em apuros. Se abandona o Bolsonaro, perde apoio da base radical. Se fica com ele, perde os empresários. Está igual urubu namorando carniça”, afirmou. E ampliou o ataque ao classificar Tarcísio, Romeu Zema e Ronaldo Caiado como “os três patetas da ultradireita”. “Estão encalacrados. Querem a herança de Bolsonaro, mas o ex-presidente não aceita ser sucedido.”

Ao final da entrevista, Correia ainda defendeu que o Ministério Público reabra a investigação sobre a atuação de Bolsonaro durante a pandemia. Segundo ele, o então procurador Augusto Aras blindou o ex-presidente, ignorando o relatório contundente da CPI da Covid. “Não pode ficar impune o genocídio praticado. Ele sabotou a ciência, incentivou aglomeração, promoveu cloroquina e foi responsável por milhares de mortes. Isso precisa ser cobrado.”

A fala de Rogério Correia é um alerta direto contra o avanço da extrema direita, nacional e internacionalmente, e um chamado à mobilização popular. “Ou o povo vem com a gente nas redes sociais, nas ruas, ou vamos ficar tentando minimizar um mal que já é muito grande.” Assista: 

 

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