PF deflagra operação contra desvios de FGTS de treinadores e jogadores de futebol
Nova fase da investigação mira bancários e elos que teriam facilitado saques irregulares, segundo a PF
247 - A Polícia Federal realizou novas diligências no Rio de Janeiro como parte da terceira etapa da Operação Fake Agents, que apura um esquema de desvio de FGTS envolvendo atletas de futebol, informa o g1. Nos primeiros movimentos desta fase, agentes da PF estiveram em endereços de três bancários — na Tijuca, em Ramos e em Deodoro — além de uma agência da Caixa Econômica Federal no Centro do Rio.
A PF suspeita que os funcionários do banco eram acionados pela advogada Joana Costa Prado de Oliveira para liberar saques irregulares. A corporação investiga crimes de falsificação de documentos públicos, estelionato e associação criminosa. O caso começou a ser apurado após um banco privado comunicar uma possível fraude em 2024, dando origem à primeira fase da operação, deflagrada em maio daquele ano.
Segundo a PF, o golpe teria usado documentos adulterados para abrir uma conta em nome do atacante peruano Paolo Guerrero, com o objetivo de sacar recursos do FGTS. “Documentos falsos teriam sido usados para abrir uma conta em nome de um jogador peruano, que acabou usada para receber ilegalmente recursos do FGTS. O prejuízo estimado apenas nesse caso é de R$ 2,2 milhões”, informou a corporação. Guerrero, que atuou no Corinthians, Flamengo e Internacional, é uma das vítimas identificadas.
A ação é conduzida pela Unidade de Investigações Sensíveis da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários no Rio, com apoio da inteligência e da área de segurança da Caixa. A ofensiva busca aprofundar a identificação de suspeitos e rastrear a rota dos valores desviados.
Rede de vítimas e prejuízos
Joana Costa Prado de Oliveira já é investigada em dois inquéritos principais: um envolvendo o treinador Oswaldo de Oliveira e outro referente ao zagueiro Christian Chagas Tarouco, o Titi, atualmente no Goiás. As apurações também alcançam outros atletas, como o zagueiro Juninho (ex-Botafogo), o meia Ramires, o equatoriano João Rojas e o peruano Cueva. O total de prejuízo sob análise chega a R$ 7,7 milhões, retirados de contas de FGTS entre 2022 e 2024.
Em alguns casos, como o de Titi, os saques só foram descobertos quando os jogadores tentaram acessar seus extratos. Eles relatam que valores foram transferidos para contas associadas ao escritório da advogada.
O treinador Oswaldo de Oliveira afirmou que contratou Joana para representá-lo em ações trabalhistas contra Corinthians e Fluminense. Segundo relata, ela recebeu R$ 2,3 milhões do clube paulista e R$ 220 mil do carioca, mas não repassou os valores. Documentos apresentados à Justiça registram que, em novembro de 2024, a advogada firmou um acordo reconhecendo que “recebeu, reteve e deixou de repassar os valores”, comprometendo-se a devolvê-los — algo que, conforme o técnico, não ocorreu.
Atuação no meio esportivo e uso de cargos
As investigações mostram que Joana manteve presença constante no ambiente esportivo: foram 12 anos de trabalho no Botafogo, onde atuou como diretora jurídica, além de integrar o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio e a Comissão de Direito Desportivo da OAB-RJ, da qual está suspensa. A PF apura se sua posição privilegiada permitiu obter procurações e acessar documentos que facilitariam os saques fraudulentos.
O que diz a defesa
Em nota divulgada anteriormente, Joana negou todas as acusações: “A defesa da advogada Joana Prado recebeu com surpresa as informações veiculadas recentemente.
Sem prejuízo de dedicar o maior respeito ao direito à informação e à liberdade de imprensa, ressalta que os processos disciplinares instaurados no âmbito da Ordem dos Advogados do Brasil tramitam sob sigilo, justamente para resguardar a dignidade e a imagem dos profissionais envolvidos.
Cumpre informar que já foram adotadas todas as medidas jurídicas cabíveis, inclusive com a interposição de recurso contra a decisão que determinou a suspensão preventiva de sua inscrição na Ordem.
Ainda de acordo com a defesa, o ato é objeto de contestação por sua natureza arbitrária e por afronta ao devido processo legal e ao direito de ampla defesa e contraditório.
A defesa reitera sua plena confiança na reversão da decisão e na pronta restauração da justiça, reafirmando o compromisso da advogada Joana Prado com a ética, a legalidade e o exercício responsável da advocacia”.
As investigações seguem em andamento, enquanto a PF tenta esclarecer a extensão da rede criminosa e recuperar parte dos recursos desviados de contas vinculadas ao FGTS de atletas profissionais.


