HOME > Geral

Suspeito de ter jogado companheira do 10º andar recebeu R$ 12 milhões de produtora ligada à cinebiografia de Bolsonaro

Alex Leandro Bispo foi preso na terça-feira (9/12) após ter a prisão preventiva decretada

O companheiro dela, Alex Leandro Bispo dos Santos, de 40, foi preso na terça-feira (9/12) – ele é investigado pelo crime de feminicídio consumado (Foto: Reprodução- Polícia Civil)

Uu247 - Alex Leandro Bispo dos Santos, preso por espancar a mulher momentos antes de ela cair do décimo andar de um prédio na zona sul de São Paulo, movimentou R$ 12 milhões em contratos firmados com o Instituto Conhecer Brasil (ICB), organização presidida por Karina Pereira da Gama, produtora executiva do filme “Dark Horse”, cinebiografia de Jair Bolsonaro. As informações são do Metrópoles. 

O valor repassado à empresa de Alex, a Favela Conectada, tem relação com um contrato de R$ 108 milhões firmado pelo ICB com a prefeitura de São Paulo, na gestão Ricardo Nunes (MDB), para instalar e manter 5 mil pontos de wi-fi gratuito em regiões de baixa renda. A contratação, realizada em junho do ano passado, é alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Município (TCM), que apontou ao menos 20 irregularidades no edital, incluindo critérios genéricos para a escolha de uma ONG como executora do serviço, apesar de a Prodam — empresa pública especializada no setor — já oferecer solução semelhante por valores significativamente menores.

Pelos termos da prefeitura, o ICB recebeu R$ 1.800 por ponto instalado e mais R$ 1.800 por mês para manutenção — valores muito superiores aos praticados pela Prodam, que cobra cerca de R$ 306 mensais para manter esse tipo de serviço funcionando. O plano inicial previa que as instalações começassem em janeiro de 2025, mas o cronograma foi alterado a pedido da própria gestão municipal, permitindo que os trabalhos tivessem início já em setembro, em pleno período eleitoral. Até junho deste ano, segundo o ICB, 3.200 pontos estavam em operação.

Outra mudança controversa foi a autorização para considerar 30 de junho de 2024 como data-base de instalação de todos os pontos, mesmo que os relatórios registrassem datas reais diferentes. Assim, segundo The Intercept, a prefeitura desembolsou R$ 26 milhões por manutenção de pontos que ainda não existiam.

É nesse cenário que aparece a Favela Conectada, empresa de Alex, já condenado anteriormente pelo sequestro de um sobrinho do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT). A firma foi contratada pelo ICB como terceirizada responsável pela manutenção e chegou a receber 12 mensalidades referentes a 218 pontos instalados entre 22 e 28 de abril de 2025 — embora o contrato previsse vigência somente até 30 de junho. Mesmo com o serviço funcionando por pouco mais de dois meses, a Favela Conectada recebeu pagamentos equivalentes a um ano inteiro.

No total, a ONG presidida pela produtora do filme sobre Bolsonaro ganhou R$ 2,7 milhões apenas pela manutenção desses 128 pontos, enquanto o custo efetivo do serviço entregue aos moradores — no máximo três meses de internet — foi estimado em R$ 273 mil. A Favela Conectada, por sua vez, foi contratada para atender até 2 mil pontos e funcionava no mesmo prédio de um escritório cujo aluguel também era pago com recursos do contrato municipal. Até o cheque caução do imóvel, de R$ 18 mil, aparece na prestação de contas.

A documentação do contrato ainda chama atenção: apesar do montante de R$ 12 milhões, a assinatura da Favela Conectada aparece apenas como “Alex”, acompanhada de um CPF ocultado. O nome completo e o documento de Alex Bispo só surgem posteriormente, em um termo de operação de dados também assinado por Maria Katiane Gomes da Silva, sua esposa — que acabou morta no fim de novembro.

O feminicídio

Alex Leandro Bispo foi preso na terça-feira (9/12) após ter a prisão preventiva decretada. Imagens de segurança mostram o agressor espancando Maria Katiane, de 26 anos, no estacionamento e no elevador do prédio onde viviam. A jovem tentou se defender, mas foi dominada e arrastada para fora do elevador. Minutos depois, caiu da janela do décimo andar. Alex retorna sozinho ao elevador, coloca as mãos na cabeça e se senta, aparentando desespero. O caso é investigado pela 89ª DP (Jardim Taboão) como feminicídio.

A prefeitura de São Paulo informou, em nota ao Intercept, que considera “irresponsável qualquer associação entre as autorizações mencionadas para filmagens” e o programa WiFi Livre SP. A gestão afirmou ainda que a ONG “cumpriu todas as exigências previstas no edital” e que o serviço está em andamento com 3.200 pontos implementados e outros 1.800 previstos para 2026. Também defendeu a contratação de uma OSC, alegando que a Prodam “não pode atuar em ambientes privados” e que organizações sociais teriam “maior expertise” para trabalhar diretamente nas comunidades.

Artigos Relacionados