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Exclusivo: estudo mostra em detalhes a repercussão da CPI da Covid no Twitter

Análise feita entre abril e junho por pesquisadores da UFRJ e da UFF identifica quem são os principais influenciadores, em quais grupos se dividem e qual a principal linha de seus argumentos. Publicado com exclusividade pelo Brasil 247

Estudo de redes sobre a CPI da Pandemia (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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Por Gisele Federicce

As redes sociais foram espaço de intensa discussão desde o início da CPI da Covid no Senado, dia 27 de abril. Alguns frequentes e outros mais esporádicos, os debatedores do Twitter viraram até informantes dos senadores durante os depoimentos, onde eram exibidos vídeos e cronologias trazidos pelos parlamentares após exposição dos depoentes no conhecido “tribunal da internet” - onde nada é esquecido, mesmo que apagado.

Um estudo bastante completo feito por pesquisadores da rede Conecta e dos grupos CiteLab e Lamide, da UFF (Universidade Federal Fluminense) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é publicado agora com exclusividade pelo Brasil 247 (íntegra abaixo), numa parceria entre academia e mídia que muito agrega aos leitores, e que 

revela as entranhas desse ambiente, quem são seus personagens e em quais grupos eles se dividem - não, não são apenas “esquerda” e “direita”.

O estudo de hoje dá continuidade a outros levantamentos publicados anteriormente no 247 sobre a CPI e a pandemia, na mesma parceria com as universidades. Foram eles: “Análise de redes do embate entre Sputnik V e Anvisa”, em 29 de abril; “Análise da primeira semana da CPI mostra ampliação dos setores anti-Bolsonaro”, em 17 de maio, e o terceiro, que reforça a tese do crescimento da oposição - “Estudo nas redes mostra crescimento da oposição ao governo Bolsonaro”, em 25 de maio. Além de alguns artigos científicos, como o do doutorando Rodrigo Quinan, sobre fake news.

Com dados coletados entre 1º de abril e 28 de junho - portanto, até um pouco antes do início formal dos trabalhos da CPI - os estudiosos das mídias digitais revelam um cenário de discussão que tinha como foco o comando do governo de Jair Bolsonaro sobre a pandemia de coronavírus - acusação de “genocídio” da população de um lado, negacionismo de outro -, enquanto a CPI tentava entender os motivos de tanto descaso no combate à maior crise sanitária da história, passando de fases do desprezo pelas vacinas, do “tratamento precoce” até finalmente à corrupção no Ministério da Saúde, ainda em andamento.

É intrigante observar as diferentes reações e emoções, de todos os lados, diante dos fatos. Como a moralidade é o mote central do grupo que se identifica como aliado de Bolsonaro e como este grupo reagiu às denúncias de propina na compra de vacinas por integrantes do governo: tentativa de deslegitimar ou desmentir as denúncias e seus autores - como alguns senadores - e como uma espécie de ‘efeito manada’ é observado para que uma narrativa seja amplamente espalhada - os famosos “robôs”. Além disso, vale o destaque do crescimento da oposição a Bolsonaro na questão da pandemia, já revelado nos estudos anteriores, mesmo que nessa oposição estejam incluídas pessoas de vertentes políticas diversas.

Afinal, como as redes sociais (especificamente o Twitter) estão reagindo aos acontecimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito que pode derrubar o governo em boa parte responsável pelas mais de 525 mil mortes por Covid-19 no Brasil? Confira abaixo:

CPI da Pandemia: Negacionismo, corrupção e a crise civilizatória dentro das instituições

Estudo realizado por pesquisadores do CiteLab (UFF) e LAMIDE (UFF) laboratórios que integram a Rede Conecta de Educação Científica e Midiática, como parte do projeto que acompanha as movimentações nas redes sociais sobre os debates relacionados à política e ciência durante a CPI da Pandemia e seus desdobramentos. 

Por Reynaldo Aragon Gonçalves, Janderson Pereira Toth, Rodrigo Quinan, Thaiane Oliveira e Wanderley Anchieta (Pesquisadores da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática e dos laboratórios CiteLab (UFF) e LAMIDE (UFF)

Midiatizada ao extremo, a CPI da Pandemia se tornou um evento de grande audiência junto à sociedade, e passou a pautar o debate público nas mais variadas esferas institucionais, políticas e ideológicas, se transformando em palco de uma disputa que tem como seu principal objeto a ciência. A crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19 colocou a política e a ciência no que deveria ser a conjuntura ideal para o combate à pandemia em rota de colisão. No momento em que ultrapassamos a infeliz marca de meio milhão de vítimas fatais da Covid-19 no Brasil, sem perspectivas de melhora no cenário em médio prazo, a ciência é colocada no centro do debate como a instituição capaz de oferecer as respostas necessárias para tomadas de decisão em políticas públicas de saúde. Porém o que se viu no Brasil desde que a pandemia começou, no início de 2020, foi a negação por parte do governo federal das práticas e políticas públicas baseadas nos princípios científicos.  

Em especial, a CPI da Covid-19 vem sendo marcada por quatro temas centrais voltados a políticas públicas de saúde: o distanciamento social, a ideia falsa e repetida ad infinitum sobre o tratamento precoce - tendo como protagonista a cloroquina, ivermectina e azitromicina; compras e políticas públicas de vacinação e também a relação do governo Bolsonaro com as orientações científicas. Um quinto tema, surgido no debate nas últimas semanas, é a corrupção relacionada à compra superfaturada da vacina indiana Covaxin que, após denúncias de um deputado da base governista, entrou na pauta da CPI e do debate público. 

Período de coleta de dados: 01/04/2021 a 28/06/2021 

Sobre a coleta: 

Os dados foram coletados através do acesso de pesquisadores à API do Twitter através de linguagem de programação R e Python. Foram coletadas 9.073.314 de conversações, onde 571.353 usuários trocaram entre si os tuítes que serviram de base para a construção do estudo. Aplicamos um recorte temático: somente os tuítes que contivessem os termos “CPIdaPandemiaJa ou camarotedacpi ou CPIdaCovid ou CPIdaCovid ou CPIdaPandemia ou CPIdoGenocidio ou CPIdaCovidJa ou CPI” foram utilizados. Grafos e métricas foram gerados através de programação na linguagem R, organizada em redes complexas em imagens que trouxessem leitura mais facilitada. Como método para o desenvolvimento deste estudo nós faremos três análises com o material coletado, são elas: análise de clusterização, análise das métricas e análise do discurso. Desta forma, teremos uma melhor compreensão de como as redes têm se organizado política e ideologicamente em torno dos temas relacionados à CPI da Pandemia. 

1 - Análise dos grupos ilustrados no grafo completo:

Trabalhamos com categorias e subcategorias que envolvem as relações político-ideológicas dos principais atores que geraram engajamento mais forte nas redes através das suas contas no Twitter. Após a coleta,  foi feita a análise do discurso que se apresenta nas redes, identificando atores de maior influência e o comportamento dos campos através das narrativas, para entender as movimentações políticas que se formaram online. 

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O debate sobre a CPI da Pandemia  é sensível aos espectros políticos presentes na análise, divide opiniões e gera reações diversas por parte dos atores envolvidos no debate público sobre a crise dentro do Twitter. A repercussão da comissão parlamentar vem provocando reações das mais diversas, desde o apoio incodicional ao governo federal e suas políticas públicas de saúde até ódio, preocupação, revolta, humor e proposições técnicas. 

Dentro do grafo gerado na análise, se destacaram quatro clusters principais, graças aos seus potenciais de conversação e interação no Twitter durante o processo de coleta sobre a CPI da pandemia e seus desdobramentos a cada depoimento e polêmica durante as sessões. 

1.1 - Campos políticos-ideológicos presentes nos clusters 

Cluster: Progressista/Liberal - Ilustrado em laranja no grafo. Campo composto por perfis que fazem oposição ao governo Bolsonaro, principalmente no que diz respeito à condução da crise sanitária, políticas e das instituições democráticas. 

Cluster: Viral - Ilustrado em azul no grafo. O grupo viral, em sua maioria, é crítico ao governo federal e às políticas públicas de saúde implementadas por ele, mas faz uso de um tom menos politizado na crítica e não permanece nas discussões por mais do que breves períodos. 

Cluster: Conservador/Reacionario - Ilustrado em verde no grafo. Campo composto por atores que fazem parte da base de apoio ideológico nas redes sociais ao governo federal e a imagem de Jair Bolsonaro.

Cluster: Liberal/Punitivista - Ilustrada em roxo no grafo. Esse grupamento também é crítico ao governo Bolsonaro, à condução da crise sanitária e à quebra institucional promovida por ações do governo. Atores deste grupo compartilham valores econômicos e até pouco tempo estavam majoritariamente alinhados ao bolsonarismo.   

Durante a análise do corpus discursivo da coleta, padrões na construção do discurso de cada campo foram detectados, nos indicando quais posicionamentos políticos-ideológicos os mesmos apresentam e de que forma esses atores lidam com determinado assunto. Todos os clusters, exceto o que representa o campo conservador, se posicionam de forma crítica às posições tomadas pelo governo Bolsonaro e pela forma como a crise sanitária foi conduzida pelo governo federal.

1.2 - Métricas gerais:      

O debate sobre a CPI da Pandemia no Twitter gera milhões de dados a cada dia, expondo a forma e a intensidade com que os temas relacionados são debatidos dentro dos campos de disputa político-ideológica na rede. Esses dados nos permite entender as métricas e estatísticas que compõem este cenários de disputas que se reflete de forma objetiva como um termômetro social das percepções sobre a política. As métricas nos permitem quantificar como se dá o processo de discursivos, as ações políticas  e as estratégias utilizadas por cada campo presentes no estudo, desta forma expondo as estratégias utilizadas em cada grupamento. 

Volume e quantidade de usuários por cluster:

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Volume de conversas:

A disputa pela narrativa acontece principalmente entre o campo progressista e o conservador, grupos com perfil ideológico mais latente, pautando nas redes o apoio e a crítica ao governo Bolsonaro e a suas políticas. 

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Novos usuários:

Apesar do debate estar sendo conduzido sobretudo entre os campos de apoio e crítica ao governo, vale ressaltar o poder do grupo viral em expandir a mensagem. Há uma relação muito grande entre o grupo progressista e o viral, crescendo juntos nos picos. Percebemos também que é a esquerda que está angariando mais usuários para o seu grupo a cada semana da CPI. 

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Permanência:

Assim como no gráfico de volume de conversas, devido a disputa pela narrativa mais convincente, há um aumento tanto do volume, quanto da permanência pela direita e esquerda, com a direita permanecendo no debate por mais tempo de forma engajada. 

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Saída de usuários:

É interessante observar que a métrica de saída do grupo progressista é crescente. Sempre entram novos usuários, fazendo com que o grupo esteja em constante renovação. 

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2 - Análise do Campo progressista: 

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O  cluster que representa o campo dos progressistas e liberais, hoje, é o mais influente nas redes, somando em seu espaço atores formadores de opinião e internautas críticos ao governo Bolsonaro, no que diz respeito à condução da crise sanitária pelo governo federal. Se apresentando como um campo de amplo espectro político-ideológico, o campo dos progressistas e liberais é composto por atores que transitam da esquerda como por exemplo Marcelo Freixo e Guilherme Boulos, até mesmo na direita liberal, como Ricardo Noblat e Uol Notícias entre outros.

Entre os usuários mais retuitados neste grupamento estão perfis anônimos como @jairmearrependi, @desmentindobozo e @direitasiqueira. Esses são perfis críticos, criados para fazer oposição às políticas de Jair Bolsonaro e contrapor as redes bolsonaristas no Twitter. Nesse campo aparecem, com grande poder de alcance, perfis de políticos de esquerda como no caso de @MarceloFreixo, @samiabomfim, @IvanValente e @GuilhermeBoulos, conhecidos por fazerem o embate nas redes sociais em oposição ao governo. Aparecem também perfis tanto da mídia democrática como no caso de @brasil247 e @DCMonline, como também perfis de representantes da mídia tradicional como @blogdonoblat, @folha e @Metropoles. 

Em nosso estudo sobre a CPI da Pandemia, o cluster do campo dos progressistas e liberais é reunido em torno de construções discursivas críticas à posição do Governo Bolsonaro e de suas políticas públicas. Por um lado, sobretudo levantado por atores do campo progressista, as críticas em torno do tema se apresentam de forma politizada, com muitas referências à legislação, à ciência e à politização dos temas ligados à pandemia, apontando para a crise institucional causada pelo governo nos mais diversos setores institucionais.

Atores mais voltados para um campo liberal trazem a questão econômica como centro do debate, questionando a suposta economia na compra de vacinas, auxílio emergencial, subsídios para empresas e sobre o furo do teto fiscal, pautando valores mais ligados à accountability do que preocupações sociais. Recorrem também aos gastos do Ministério da Saúde na construção de hospitais de campanha, compra de insumos, de medicamentos sem eficácia comprovada, etc. 

2.1 - Análise das métricas do campo progressista: 

Usuários mais retuitados:

As páginas mais retuitadas pelo campo progressista refletem diretamente os posicionamentos de esquerda, anti-bolsonaro e pró-ciência dos usuários. O primeiro lugar é o deputado Marcelo Freixo (então no Psol, agora no PSB), o segundo de Randolfe Rodrigues (Rede), com Guilherme Boulos (Psol), Ivan Valente (Psol), Sâmia Bonfim (Psol) e Humberto Costa (PT) também presentes na lista. Os políticos têm sido ativos no twitter durante a CPI. Com a Mídia Ninja em 3º, páginas informais de oposição ao governo Bolsonaro (@desmentindobozo, @jairmearrependi) também figuram perto do topo.

A página de humor Sensacionalista aparece ao lado do divulgador científico Átila Iamarino; o influencer Felipe Neto também consta na lista. Páginas de mídia mais retuitadas incluem Revista Fórum, Metrópoles, Eixo Político, Folha, Brasil 247 e UOL Notícias, além do perfil pessoal do jornalista Kennedy Alencar e do blog de Ricardo Noblat.

Usuários que mais retweetaram:

As páginas que mais retuitaram os conteúdos analisadas foram majoritariamente páginas pessoais, onde encontramos 10 contas de usuários de esquerda e/ou do PT. Optamos por não divulgar seus nomes. As demais páginas são pertencentes a militantes, igualmente de esquerda: Matheus Freire (@MATHFREIREB_TW), ativista socialista e LGBT; mOEMA Lula Haddad (@moema4), militante petista; Erbl (@Erbl1958), ator e produtor petista; Kiko Azevedo (@kabokiko), ativista de esquerda e José Aloise Bahia (@JoseAloiseBahia), ativista de esquerda.

Páginas entre as que mais retuitaram foram DEMOCRACIA (@odio_nao), Ele Não (@instaelenao), Marx Boladão (@esquerdades2), todas se identificando como de esquerda e em oposição ao governo Bolsonaro.

2.2 - Principais discursos:

A desconstrução do negacionismo como método: entre os principais atores dentro do campo progressista fica claro o objetivo de desconstruir valores bolsonaristas que neguem a crise institucional, política e econômica que afeta o Brasil. As informações que surgem na CPI são instrumentalizadas de forma a apontar para os erros e irresponsabilidades do governo na condução da crise sanitária, fazendo o contraponto dentro do Twitter a  rede bolsonarista. A midiatização da CPI, assim como as parcerias inusitadas entre senadores de oposição com perfis do Twitter, vem  possibilitando respostas rápidas e paramentada com vídeos, memes e áudios, desmentir depoentes que tentam driblar os questionamentos dos senadores.

O valor da vida em resposta a banalização do caos: muitos dos discursos dentro do campo progressista atentam para o fato de que as políticas públicas e a ideologia bolsonarista enxergam a tragédia social de forma eugenista, desqualificando o sofrimento do outro, maculando simbologias próximas ao darwinismo social. Esse grupamento clama em seus discursos valores ligados à vida, à dignidade e ao combate a ideologias totalitárias, colocando o governo Bolsonaro como um regime fascista e que pratica atos de desestabilização proposital das estruturas democráticas no Brasil. 

O apelo às emoções como forma de enfrentar a crise no país: identificamos que no campo progressista  se utiliza muitos discursos irônicos ou de humor, assim como também Identificamos falas carregadas de emoção - como por exemplo em relação ao falecimento de alguma personalidade pública, vítima da doença, momentos esse que causam grande consternação junto à sociedade, o que é representado nas redes por depoimentos e protestos de vários setores. As redes, geralmente são muito sensíveis à situação que causam comoção social, reagindo de forma proporcional à relevância do ocorrido, ressoando as percepções sobre o ocorrido e, dessa maneira, mobilizando os debates com maior ênfase e emoção nas redes. Percebemos um apelo mais emocional que se junta com a consternação quanto à condução política do país em relação, por exemplo, a fraca atuação na aquisição de doses de vacinas e/ou o nenhum estímulo à produção das mesmas em solo nacional, assim como a falta de empatia por parte do governo em relação às mortes e ao caos social e econômico que se encontra o Brasil.

O enaltecimento dos preceitos científicos e apropriação dos valores da ciência como discurso: o campo progressista apresenta um padrão discursivo mais voltado para a busca da autoridade científica. Observamos o fenômeno através do uso de palavras que levam a um entendimento mais técnico e objetivo, como exemplos, “explicar”, “elucidar”, “depoimento”, “democracia”, “fato”, “apontado como” “verdade” e “resultados”. A utilização destas  palavras indicam uma maior preocupação com o debate científico. Nessa rede podemos observar que a concepção do que é “verdade” sobre algo vem embasada nas evidências que a própria CPI vem produzindo; ademais de como a comissão corrobora com o discurso da ciência em relação ao combate à pandemia. 

A invasão liberal do campo progressista: os setores liberais presentes dentro do campo progressista, constroem seus discursos em torno de uma legalidade de ordem institucional, apontam para o risco da condução da crise sanitária e de como o governo Bolsonaro vem conduzindo as políticas públicas de saúde. Conforme os atores mais ligados ao campo liberal presentes no campo progressista, apelam para a lógica da lei e da moralidade política, se atendo a questões ligadas à economia e sobre gastos do governo durante a gestão da crise sanitária.   

Como esse grupamento está enxergando as denúncias de corrupção na compra de vacinas? O campo progressista dá enorme urgência ao caso da Covaxin, chegando a mencioná-lo como “a hora em que tudo mudou [na CPI]”. Pede o impeachment de Bolsonaro e convoca seguidores a acompanharem a CPI ao vivo, com uma cobertura em tempo real e páginas como a Mídia Ninja produzindo boletins informativos. Os tweets buscam desenvolver o caso imediatamente acrescentando cada nome envolvido na conspiração, como por exemplo: Rodrigo de Lima, Flávio Bolsonaro, Regina Célia, Onyx Lorenzoni, Élcio Franco, ressaltando sempre que Bolsonaro tinha ciência do processo. A grande diferenciação do campo progressista é também dar ênfase em fatores científicos e humanos do caso Covaxin, não apenas na corrupção e no desvio de dinheiro: esses tweets lembram frequentemente, também, o número de mortos (em 511 mil na altura da coleta), o fato que a Anvisa não aprovou a Covaxin e a ligação do caso com o desdém do governo pela vacina Pfizer e por investimentos ao Butantan. 

3 - Análise do Campo Viral

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O campo viral tem sua atuação marcada pela natureza efêmera e bem humorada. São atores que entram no debate quando acontecem situações polêmicas e que viralizam nas redes e nas mídias. A título de exemplo podemos citar a ameaça de prisão do depoente Weingarten por parte de alguns senadores. Então, tão rapidamente quanto chegam ao debate, costumam se retirar após alguns tuítes e retuítes. Devemos destacar que a maioria das publicações desse grupo são realizadas por pessoas comuns, sem cargas político-ideológicas viscerais e com técnicas em seus discursos - cujos tuítes ganham relevância exatamente pelo seu poder de viralização junto às redes. Esse grupamento tende a se posicionar sobre pautas progressistas, e na maioria das vezes não compartilham visões conservadoras e reacionárias, assim como não costumam fazer discursos de ódio. Esse grupamento costuma debater temas políticos em sua superfície, um bom exemplo disso é que tratam o assunto de modo genérico.

No levantamento realizado, destaca-se a presença de perfis que não são voltados a debates sobre temas políticos, mais pautados em temas gerais como perfis de artistas, humoristas, influencers e anônimos. O perfil do grupamento viral, por não serem atores engajados dentro do campo de debates políticos-ideológicos, indica parte da sociedade brasileira que ainda está em disputa para as eleições de 2022 - algo em torno de 40% do eleitorado, como vem indicando pesquisas de voto recentes. 

Entre os usuários mais ativos dentro do campo viral, temos em sua maioria perfis anônimos que entram no debate, como dissemos, em seus momentos de pico, como: @ivanildoiii, @barreiragabriel e @o_weverton. No campo viral aparece perfis @rafinhabastosl e @emicida, como também o perfil @oatila. 

3.1 - Análise das métricas do campo Viral:

Mais retuitados:

Os maiores retuitados do campo viral, como de certa forma era esperado, são influencers e profissionais na área de comunicação. Entre os influencers: Luide, Paulo Vieira, Bruno Bock, Iuri K., Rebecca Gaia, Caiuscio, Wanhedaa e Igor Aquino estiveram entre os que mais viralizaram conteúdo. O repórter Gabriel Barreira, o jornalista Danilo Paulo e a especialista em comunicação política Ananda Miranda representaram a área, enquanto Atailton e Rafavnt se apresentam como pesquisadores e contam com bastante engajamento. A página  Quebrando o Tabu, a página de cultura pop BCharts e a grife alternativa Sound and Vision complementam a lista, que também conta com 4 perfis pessoais (optamos não divulgar) e o militante Erick Santos. Todos os perfis se identificam em oposição a Bolsonaro.

Mais retweetaram:

Entre os usuários que mais retuitaram conteúdos virais, identificamos 5 bots (@bozo_bot, @carlaobot, @brisabot, @macaquinho_bot, @caraioBot); uma página de memes (@xaconha); o psicólogo, analista de dados e usuário verificado Ananias Oliveira; uma fanpage (@wavsgirl) de Juliette Freire, vencedora do Big Brother Brasil 21 e 15 páginas pessoais, que optamos por omitir os nomes. Dentre estas, pelo menos cinco contas se identificavam como fãs de Juliette (especialmente pelo emoji de um cactus, que se tornou marca do ativismo em torno da participante). A advogada continuamente se posicionou contra o governo Bolsonaro. Todas as contas pessoais, mesmo as não-relacionadas a Juliette, pareciam também ser contra o governo, mesmo as que pouco se identificavam como de esquerda.

3.2 - Principais discursos: 

Humor e efemeridade na ação política: o campo viral se apresenta como um dos grupamentos mais interessantes para se observar na ação política nas redes, utilizando-se muito do humor e de uma efemeridade constante em suas pontuações políticas, desta forma consegue dialogar de forma efetiva com um grande número de perfis dentro do Twitter. Os tuítes deste grupo costumam culpabilizar o governo federal pelas mortes em meio a pandemia, assim como pela crise econômica que se instalou no país nos últimos anos, apontando para o fato de que Bolsonaro é omisso e incopetente na condução do país. Questionamentos sobre políticas públicas de combate à pandemia aparecem em tom de humor, cobrança e revolta, apontando para o governo Bolsonaro como o principal fator da crise e das mortes por Covid-19 no Brasil. 

Um quê de politização descomprometida: o grupo viral, diferente dos demais, não são pautados pela política e ideologia, geralmente são perfis pessoais que volta e meia participam do debate político, principalmente quando aparece uma pauta relevante e que envolve a sociedade de forma ampla. Apesar de não apresentar traços de profunda politização, o grupo viral demonstra conhecimento sobre a conjuntura atual, apontando de forma assertiva para os erros cometidos pelo governo federal à frente da crise sanitária.

O poder do viral no cenário político é a joia da coroa: o grupamento viral por não ser pautado na política e nos debates institucionais a todo tempo, aparece como um grupo não homogêneo e que apresenta visões políticas distintas, porém em seus discursos apresenta certa aversão ao tema como ódio, preconceitos e autoritarismo. Esse padrão coloca o viral como um grupo próximo aos preceitos progressistas dentro da sociedade hoje exposta a todo tipo de discursos reacionários.  Em estudo recente sobre a crise envolvendo as forças armadas que você pode acompanhar aqui, o perfil oficial do ex-presidente Lula aparece com grande força dentro do grupo viral, desta forma indicando que Lula está saindo na frente na conquista de mentes e corações dentro desse grupamento. 

Como esse grupamento está enxergando as denúncias de corrupção na compra de vacinas? Naturalmente, o campo viral é bem pautado na repetição de tweets que receberam engajamento massivo durante o escândalo da Covaxin, como por exemplo tweets de choque quando o tema veio na CPI, pedindo para usuários ligarem a televisão. Tweets com frases fortes como “[Bolsonaro] sabia de um dos maiores esquemas de corrupção [da história]” também viralizam, ao lado de notícias que chamam a atenção, como a de que a deputada Carla Zambelli deletou tweets mencionando a Covaxin. Memes ironizando a rejeição anterior da Pfizer em detrimento, agora sabido, do superfaturamento da Covaxin também viralizam, com uma thread informativa sobre o dia específico da CPI também aparecendo nos resultados. A maioria dos virais relacionados a Covaxin, na nossa coleta de dados, são relacionáveis ao campo progressista.

4 - Análise do Campo Conservador/reacionário: 

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O cluster do campo conservador é representado por atores conhecidos por seu apoio ao bolsonarismo nas redes sociais: jornalistas, formadores de opinião e influencers ligados a grupos de extrema-direita que tem como uma de suas principais bandeiras a exaltação ao militarismo, a defesa de um estado de exceção e traços de populismo, e a exaltação de ícones políticos . Entre os usuários mais retuitados, perfis anônimos como @BrazilFight e @taoquei1, criados para apoiar o governo, aparecem junto com os deputados Carla Zambelli, Carlos Jordy, Senador Marcos Rogério que aparece com grande força no grupo reacionário, assim como próprio perfil oficial do presidente Jair Messias Bolsonaro.

A mídia partidária da extrema-direita, como Jornal da Cidade Online, Terça Livre e jornalistas como Rodrigo Constantino também estão entre os mais retuitados. Entre os perfis mais seguidos estão a família Bolsonaro, Alexandre Garcia, Damares, Malafaia, além das mídias Portal R7 e Jovem Pan. 

4.1 - Análise das métricas do campo Conservador/reacionario:

Mais retuitados: 

As contas que mais tiveram conteúdo conservador retuitaram foram em grande parte de integrantes e aliados do governo Bolsonaro. Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Raquel Stasiaki (deputada federal suplente, PSL), Alan Lopes (candidato a vereador, PSD), Bia Kicis (deputada federal, PSL), Eduardo Girão (Senador, PODEMOS), Carmelo Neto (vereador, Republicanos), Graciela Nienov (vice-presidente do PTB), Carlos Jordy (deputado federal, PSL) e Marcos Rogério (senador, Democratas) foram os políticos representados na lista.

A imprensa conservadora foi representada através da Revista Oeste, da Gazeta Brasil, Jornal da Cidade Online, do analista político Rodrigo Constantino e de Kim Paim, autor da Gazeta Brasil. Páginas bolsonaristas estiveram presentes com FamíliaDireitaBrasil, Te Atualizei (canal do Youtube) e Nelson Paffi. 

Mais retweetaram:

As contas que mais retuitaram conteúdo conservador são suspeitas, altamente descaracterizadas, com imagens de apoio a Bolsonaro ao lado de nomes de usuário pouco identificáveis (às vezes contraditórios a seus @s), acima de um feed exclusivamente composto por retweets de conteúdo favorável ao governo. Fica em aberto a cada página se elas são fakes, bots ou realmente pertencentes a apoiadores. Elas geralmente ilustram os nomes de usuário com a bandeira do Brasil, símbolo apropriado pelo bolsonarismo, também pregando reverência às principais referências idealizadas: Estados Unidos e Israel.

As páginas @geraldo1963, @AleDireita e @LigiaDeAssis se destacam por ter um número elevado de seguidores (27 mil, 12 mil, 12 mil), mas seus feeds não são tão diferentes de tantas outras páginas menores: @LucianneDalsec1, @AriquermeS, @SrgioHerculano4 (afirma que teve outra conta banida), @Souza43419194, @agathagatosa, @PAULOPARMM, @AguinaldoPetrin, @Djan00392004, @LuizOificalFe25, @AC_Moreiraa, @LimaDoc. Omitimos da lista páginas com conteúdo que indicasse a possibilidade maior de ser, de fato, uma conta pessoal.

4.2 - Principais discursos:

Que dó do nosso mito injustiçado: negando a crise sanitária e institucional, o grupamento bolsonarista engendra seus discursos de forma a culpabilizar o outro, STF, governadores e prefeitos e a oposição, por supostamente impedirem o governo federal de conduzir políticas públicas de forma assertiva.  Minimizando a crise que se abateu sobre o governo, a militância da extrema-direita nas redes reforçam a imagem de seu líder, mistificando as atitudes públicas do presidente como de um homem corajoso que fala a verdade doa a quem doer. Atores deste grupo absorvem a ideia de que um grande homem solitário, na luta para moralizar a nação em nome da família e de Deus deva ser defendido a qualquer custo, princípio este muito semelhante ao que Reich conceituou como “a ideologia do führer”. 

Eis que a ciência é minha e ninguém tasca: quando citados em relação à ciência, o grupo bolsonarista é visto como negacionista e anticiência, porém ao utilizar de sua força nas redes, Bolsonaro é eficiente para engajar boa parte da sua base dentro de uma narrativa construída a partir de uma inversão dos valores. Desta forma o que de fato ocorre é uma apropriação dos valores científicos por seus atores dentro das redes reacionárias que utilizam de supostas bases conceituais e metodologias científicas como forma de moldar sua própria episteme. Para esse setor, Nise Yamaguchi e Capitã Cloroquina são verdadeiras representantes da ciência que combatem a outra ciência, essa corrupta e ligada a interesses de big pharmas e governos “esquerdistas”.

Corruptos são os que não estão ao nosso lado: a moralidade é o mote central dentro dos debates nesse grupo ideológico, temas como corrupção, posições liberais e progressistas são colocados como uma espécie de depravação moral, sendo culpabilizados pela crise política, econômica e sanitária no Brasil. O diversionismo bolsonarista utiliza de sentenças como “vagabundo”, “corrupto”,  “esquerdistas” etc como forma de desqualificar a oposição ao governo federal e com isso taxar como ladrão e vendilhão todos os que não estão ao seu lado.

Como esse grupamento está enxergando as denúncias de corrupção na compra de vacinas? O campo busca deslegitimar as denúncias, desmentindo as acusações e afirmando que o processo de compra da Covaxin foi regular. Se por um lado certos perfis acusam “erro formal” no valor, “consertado em poucos dias”, “nenhum centavo foi gasto”, outros buscam transferir responsabilidade para figuras da oposição, trazendo de volta o infame bordão “sabia de tudo!” para Renan Calheiros e apontando que servidores envolvidos no caso foram apontados ao cargo no governo Lula. Randolfe Rodrigues e Omar Aziz também são vítimas. Reacionários também acusam que a investigação da Covaxin foge da jurisprudência da CPI, uma vez que ela teria sido montada originalmente para investigar omissões do governo federal em torno da pandemia. Covaxin, segundo um tweet, seria “o novo leite condensado”, se referindo à denúncia de superfaturamento do produto recebida por anteriormente Bolsonaro. A presença de bots é constante, com tweets idênticos repetidos em contas distintas.

5 - Análise do Campo da Direita Liberal/Punitivistas:

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O cluster rosa é composto por atores que fazem parte da direita liberal e que foram a tropa de frente do lavajatismo, assumindo a lógica punitivista nascida com o mensalão e posteriormente se fortalecendo com a crise da Petrobras. Esse grupamento é crítico ao governo Bolsonaro no que diz respeito tanto à crise sanitária quanto à institucional provocada por Bolsonaro na gestão do governo apontando em seus discursos para a forma irresponsável e politizadora na qual Bolsonaro mantém o alinhamento com os mais diversos setores das forças de segurança. O que diferencia esse grupamento dos demais discursos críticos encontrados nos campos progressistas-liberais e viral são os posicionamentos nessa ocasião desses atores, que se colocam como formadores de opinião dentro deste pequeno grupo e trazem um discurso mais reacionário como forma de superar a crise sanitária, política e institucional que o país atravessa. Esse campo político-ideológico é formado por parte da mídia liberal entusiasta do lavajatismo, que após os escândalos relativos à operação lava-jato e a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, buscam criar uma opção como terceira via para as próximas eleições nacionais. 

Entre os usuários mais retuitados do grupo temos perfis de jornalistas e formadores de opinião como @Villamarcovillas, @diogomainardi, @MBL e @oantagonista. Aparecem também com grande engajamento o perfil de políticos como @joaoamoedonov, @freire_roberto e @Sen_alessandro (Vieira). O que chama a atenção neste campo é a presença de perfis de apoio ao ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, como exemplo @PautasDoMoro, @VemPraRua_BR e @ApoiadoresdeSM.   

5.1 - Análise das métricas do Campo da Direita Liberal/Punitivistas:

Mais foram retuitados:

As contas mais retuitadas no campo liberal consistem de integrantes da centro-direita/direita mais institucional, que fazem oposição ao governo Bolsonaro e denunciam seus crimes durante a pandemia, mas em grande parte o apoiaram, assim como o Golpe de 2016 e o lavajatismo. Este grupo, apesar de oposição, não tem conforto algum com uma solução à esquerda. O veículo liberal O Antagonista aparece representado não apenas na sua página oficial, mas através dos colunistas Diogo Mainardi, Diego Amorim e Claudio Dantes; outros jornalistas são Felipe Moura (Band News), Guilherme Macalossi (Band, Gazeta do Povo), Josias de Sousa (UOL), Marco Antonio Villa (TV Cultura, Isto é), e o veículo Revista Crusoé.

Políticos também figuram: Alessandro Vieira (Senador, Cidadania), João Dória (Governador, PSDB), Roberto Freire (presidente do Cidadania), João Amoedo (candidato a presidente em 2018, NOVO), Arthur do Val, o “Mamãe falei” (Deputado Estadual e influencer), Heni Ozi Cukier (Deputado Estadual, NOVO). O MBL é representado pela sua página oficial e pela conta da liderança Kim Kataguiri; o movimento Vem Pra Rua também aparece.

Mais retweetaram:

Similar aos conservadores, as contas que mais retuitaram conteúdo liberal parecem ser fakes ou bots alinhados para uma atividade especificamente de retweets. As páginas tem identidade visual parecida, nomes genéricos e pouca ou nenhuma caracterização. Elas fazem oposição ao governo Bolsonaro, com denúncias frequentes ao tratamento da pandemia, mas também apontam que Lula é uma alternativa tão ruim quanto, pedindo uma terceira via. As páginas postam frequentemente links do site O Antagonista. Possivelmente residual de outro momento político, as páginas têm menções positivas a Sérgio Moro e à Lava Jato. 

@Ary_AntiPT é a página mais povoada, com 34 mil seguidores, mas todas as menores seguem a mesma linha: @FORCE59276187, @Fernand34183043, @MariaLCAb (conta com um link quebrado para o Facebook), @JSPendot (consta, curiosamente, também na lista dos mais retuitados), @pimenta_suzana, @profvalentimbr, @camposamd, @TrudaOceans, @Kamale1971, @claudiasrocca, @marialucialeite, @BentoLucilla (uma página com quase o mesmo nome, @BentoLucila, é idêntica aos fakes identificados acima na parte dos conservadores, sugeriram que fakes divergentes politicamente podem ter autoria do mesmo lugar), @Angela40637513, @esperancaetica, @Juliana93126917, @mlsermaria, @nerd1984, @RoGinez. As únicas páginas distintas na coleta são @incorporacaocrf, dedicada ao time de futebol do Flamengo, e @ThomasFreedomF1, que parece militar apenas contra o governo Bolsonaro, sem menções aparentes à esquerda.

5.2 - Principais discursos:

Legalismo e punitivismo, tudo junto e misturado: os tuítes presentes nesse grupo fazem referência a quebra democrática, a má gestão da crise institucional e as ilegalidades correntes por parte do governo federal em relação à condução das políticas sanitárias e econômicas praticadas pela equipe de Bolsonaro. Cobram legalidade nas ações por parte do governo, costumam em suas explanações igualar e polarizar o bolsonarismo com o Lulismo dentro de uma narrativa em que um é consequência do outro e que é preciso buscar outras saídas para o Brasil. 

Desmoralização das instituições: dentro do grupo rosa predominam discursos apontando para a corrupção, omissão e a insubordinação do governo Bolsonaro em relação aos valores constitucionais, apontando para a quebra institucional e ao perigo de uma reação golpista por parte do bolsonarismo, dessa forma destruindo o que para esse grupo, sobrou das instituições. Em seus tuítes reverberam imagens de políticos liberais que foram a base da construção do golpe de 2016, judicializando a política, e politizando o judiciário. 

Como esse grupamento está enxergando as denúncias de corrupção na compra de vacinas? Ainda sobre a Covaxin, o campo dá mais ênfase às irregularidades financeiras do escândalo do que ao fato de que a vacina não foi aprovada pela Anvisa. Com narrativas mais institucionais, recorrendo a grandes manchetes, dão urgência a desenvolvimentos como a ponte feita por Flávio Bolsonaro entre BNDES e a Precisa Medicamentos e buscam entender e antecipar quais estratégias o governo irá utilizar para proteger seus integrantes. Há destaque sobre a crescente possibilidade de impeachment, com alguns tweets empolgados que a “casa começou a cair” e acusações de que Bolsonaro tinha conhecimento das compras irregulares.

6 - Principais resultados encontrados no estudo:

  • Dentro do corpus discursivo de nossa pesquisa, onde se encontram os tuítes do período em que analisamos a CPI da Pandemia, notamos o predomínio de narrativas com forte cunho moral envolto na atmosfera política da comissão. Há uma forte instrumentalização no discurso relacionado à crise institucional que acomete o Brasil em todos os campos político-ideológicos presentes no estudo, exceto o campo de apoio ao governo Bolsonaro. Cada campo pauta o debate de forma específica, uns com tons mais de cobrança no campo político e outro no campo jurídico, porém o discurso crítico e de apontamento da má gestão das políticas públicas sanitárias é consenso entre os grupos contrários às políticas do governo .
  • Dentro do mapa das redes complexas do Twitter, temos no campo progressista uma forte participação dentro do engajamento de críticas ao governo federal e suas posições perante a crise sanitária. Atores ligados à esquerda e a centro-esquerda tem grande poder de comunicação no grupo progressista, sendo responsáveis por pautar de forma crítica e assertiva os argumentos em que se expõe a fragilidade técnica, política e institucional da presidência da república perante o caos social que se instalou no país. Perfis de políticos populares nas redes como Marcelo Freixo, Jandira Feghali, Guilherme Boulos e Lula, assim como perfis da mídia progressista como Brasil 247, Jornal GGN e DCM, fazem parte do grupo mais ativo. 
  • O debate em torno da CPI da Pandemia nos revela algumas conjunções interessantes no que diz respeito o ímpeto a crítica por parte dos setores que hoje fazem oposição ao governo Bolsonaro, principalmente no que diz respeito à crise sanitária e institucional. Dentro do campo progressista a presença de atores antes acostumados a dividir seus campos de disputa junto à direita liberal, hoje aparecem juntos de atores tradicionalmente ligados à esquerda e à centro-esquerda. Desta forma, dentro do campo progressista aparecem atores que não são alinhados ideologicamente com a esquerda e suas bandeiras sociais, compartilhando de forma fugas a crítica ao governo Bolsonaro e se apropriando do poder de circulação de informação que o campo progressista tem junto a sociedade. Atores como, Ricardo Noblat, O Globo e Folha, hoje compõem um campo crítico ao governo junto com setores da esquerda. 
  • A polarização política promovida pela direita neoliberal e punitivista a partir dos movimentos de 2013 e que teve seu auge com o impeachment da presidenta Dilma e posteriormente a prisão do ex-presidente Lula, deixou cicatrizes na concepção de Estado de Direito e hoje se reflete na atual conjuntura política, social e econômica do Brasil. Esse grupo que antes foi fundamental na eleição do Bolsonaro, hoje se coloca na oposição e busca construir uma tentativa de terceira via, não querem mais o Bolsonaro no poder, mas não aceitam a possibilidade do retorno do PT ao poder.  Dentro deste grupamento o desejo de se possibilitar uma terceira via que possa ter forças para vencer o Bolsonarismo e a esquerda na disputa para a campanha de 2022, para isso seus atores costumam colocar ambos como semelhantes no que diz respeito a um suposto aparelhamento ideológico da máquina pública. 
  • Os discursos em torno do campo conservador partem de uma percepção de que o Estado está desvirtuado, vitimado por práticas de corrupção e de aparelhamento ideológico por parte da esquerda e suas bandeiras que no ponto de vista dos setores reacionários são degenerados. Exaltam a imagem do Bolsonaro e outras personalidades de influência dentro do bolsonarismo, como militares, médicos que apoiam tratamento precoce e reverberam valores reacionários. Porém quando confrontados com suspeitas de corrupção e má práticas por parte do governo federal,  culpabilizam a mídia e demais setores críticos ao governo como golpistas que perseguem o governo através de mentiras intencionais.
  • Na última semana da análise o tema corrupção apareceu de forma avassaladora, expondo as práticas corruptas com que o Ministério da Saúde vem conduzindo a crise sanitária. O escândalo envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin desnudou os bastidores de um esquema que envolve bilhões de reais e coloca Bolsonaro no centro da crise. Acostumados a construir suas narrativas em torno de uma suposta honestidade e ausência de corrupção no governo federal, a base bolsonarista nas redes se viu diante de um dilema, optando pela prática do diversionismo e pela relativização das denúncias. 

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