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Análise de discurso: 'segurança' supera 'economia' na fala de Xi Jinping na abertura do 20º Congresso

Xi deixou claro que o desenvolvimento continua sendo a “prioridade máxima”, mas a questão da segurança nacional deve ocupar um lugar mais central nos próximos anos

Análise de discurso: 'segurança' supera 'economia' na fala de Xi Jinping na abertura do 20º Congresso (Foto: Reuters)

Leonardo Sobreira, de Pequim (247) - O presidente chinês, Xi Jinping, deixou claro na abertura do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China que o desenvolvimento econômico continua sendo a “prioridade máxima”. 

A meta, bem como o propósito de alcançar o "rejuvenescimento da nação chinesa", depende diretamente da segurança nacional, indicou o secretário-geral do PCCh. 

"A segurança nacional é a base do rejuvenescimento nacional, e a estabilidade social é um pré-requisito para construir uma China forte e próspera", disse Xi no discurso de domingo, 16.

Uma análise da agência Bloomberg mostra que menções a ‘segurança’ no rascunho do informe ultrapassaram menções a ‘economia’. ‘Segurança’, considerando variações da palavra, foi citada 91 vezes, ante 55 vezes no 19º Congresso Nacional, em 2017, e 36 vezes no 18º Congresso Nacional, em 2012. Nesta edição da reunião, ‘economia’ foi citada apenas 62 vezes, ante 70 vezes em 2017 e 104 vezes em 2012. 

Segundo o cientista político Diego Pautasso, o PCCh vem buscando combater graves ameaças à segurança nacional. “A temática da segurança nacional tem sido central nos últimos anos. Diz respeito a integridade territorial, ameaças americanas, o Mar do Sul da China, Taiwan e Hong Kong, bem como o fortalecimento das Forças Armadas”, disse o especialista. 

O think-tank alemão Merics complementa, referindo-se ao conceito de 'segurança nacional abrangente' (总体国家安全): “As percepções do PCCh sobre ameaças aumentaram, temendo que forças internas e externas possam subverter seu poder. O partido sente-se sitiado pelos EUA e países ocidentais, com a intenção de conter a China. No entanto, o Estado partidário também está cada vez mais confiante em suas habilidades organizacionais e institucionais domésticas e na capacidade de projetar poder globalmente --pontos fortes que acredita que o ajudarão a detectar, conter ou antecipar ameaças antes que causem danos substanciais”.

O conceito, introduzido em 2014, engloba 16 campos diferentes, incluindo política, economia, cultura, tecnologia e interesses no exterior.

Nesse sentido, altos oficiais do partido vêm destacando a necessidade de aprimorar a resiliência da economia chinesa frente às crescentes pressões de isolamento vindas, principalmente, dos Estados Unidos. No setor de tecnologia de ponta, por exemplo, o Departamento de Comércio dos EUA bloqueou, no final de agosto, a venda de chips avançados à China, golpeando temporariamente o setor de inteligência artificial do país asiático. Novas restrições foram aplicadas no início deste mês visando o setor de supercomputação da China.

A resposta de Xi veio discurso no Grande Salão do Povo. “Vamos nos concentrar nas necessidades estratégicas nacionais, reunir forças para realizar pesquisas científicas e tecnológicas de ponta aqui e vencer resolutamente a batalha nas principais tecnologias essenciais”, disse o presidente. 

Além disso, a necessidade de aprimorar a segurança alimentar, energética e de recursos, bem como das cadeias de suprimento, foi destacada por Zhao Chenxin, vice-diretor do Grupo Líder da Comissão de Desenvolvimento e Reforma do Partido Comunista da China, na segunda-feira, 17. 

O oficial assegurou que a complexidade da situação não gera alarde. "Estamos confiantes nas circunstâncias atuais", disse ele, observando que a China possui as "vantagens institucionais do socialismo com características chinesas" para sobressair diante das adversidades. 

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