EUA e China marcam nova rodada de negociações em meio a tensões comerciais
Trump admite que tarifa extra de 100% é “insustentável” e pressiona por acordo com Pequim
247 - As duas maiores economias do planeta voltarão à mesa de negociações na próxima semana, em um esforço para reduzir as tensões comerciais que voltaram a se intensificar. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, confirmaram que se reunirão na Malásia para tentar avançar em um entendimento.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo, Bessent classificou como “francas e detalhadas” as conversas virtuais realizadas na noite de sexta-feira com He, e anunciou que um encontro presencial já está agendado. O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, também participou da videoconferência. “O vice-premiê He Lifeng e eu nos envolvemos em discussões francas e detalhadas sobre o comércio entre os Estados Unidos e a China. Nos encontraremos pessoalmente na próxima semana para dar continuidade às nossas discussões”, afirmou o secretário do Tesouro.
Pressão sobre tarifas e risco de nova escalada
O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia anunciado recentemente uma taxação adicional de 100% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro. No entanto, o próprio líder admitiu em entrevista à Fox Business que a medida não se sustentaria no longo prazo. “Não é sustentável. Mas esse é o número. Provavelmente não poderia continuar, mas eles me forçaram a fazer isso”, disse Trump, destacando a necessidade urgente de um acordo com Pequim.
A guerra comercial entre os dois países já passou por sucessivas tréguas de 90 dias, a mais recente com vencimento em 10 de novembro. No entanto, novas restrições tecnológicas impostas por Washington e medidas retaliatórias da China, como controles sobre exportação de terras-raras e tarifas sobre embarcações em portos americanos, reacenderam o risco de uma escalada.
Encontro com Xi Jinping e expectativa global
Trump confirmou que deve se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, durante a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), no final deste mês, na Malásia. “Vamos nos reunir em algumas semanas. Eu me dou muito bem com o presidente Xi Jinping”, disse o presidente americano, após ter cogitado cancelar o encontro quando anunciou as tarifas extras.
A movimentação é acompanhada de perto pelo mercado internacional, que teme os impactos de um colapso nas negociações. Uma guerra comercial de larga escala entre Washington e Pequim teria reflexos profundos sobre a economia global.
Carne brasileira no centro das tratativas
Paralelamente, Trump afirmou que está adotando medidas para conter a alta dos preços da carne nos EUA, que já subiram 14% neste ano. Ele sugeriu que um acordo está próximo e que poderia reduzir o custo do produto para os consumidores americanos. A fala ocorreu um dia após a reunião entre o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na Casa Branca.
O Brasil, maior exportador de carne do mundo, viu seus embarques para os EUA despencarem 58% em setembro após a imposição de uma tarifa de 50%. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico que há disposição de Washington em revisar a medida. “A pecuária americana está vivendo um momento difícil, com o menor rebanho dos últimos 75 anos. Tudo o que os EUA não deveriam ter feito era taxar um fornecedor seguro da carne como é o caso do Brasil. Estamos otimistas, mas sem euforia sobre esta perspectiva”, declarou Fávaro.
Associações americanas dos setores de carne e café também já pressionam a Casa Branca para retirar as barreiras contra o Brasil, maior fornecedor dos dois produtos. Além da carne, a soja é outro ponto sensível: há dois meses, a China suspendeu as compras do grão americano, substituindo-o principalmente pelo brasileiro.
Vulnerabilidade agrícola e pressão interna
Com os agricultores dos EUA sob forte pressão, Trump tem buscado alternativas para forçar a retomada das compras chinesas de soja, sem sucesso até o momento. A combinação de tarifas, retaliações e tensões diplomáticas colocou os americanos em uma posição mais vulnerável, em um cenário que exige avanços concretos nas negociações da próxima semana.



