Jeremy Corbyn lança o Your Party, nova sigla socialista do Reino Unido
“Cabe a nós construir um partido socialista de massas que possa oferecer às pessoas algo muito especial: esperança”, afirmou o político britânico
Tatiana Carlotti, Opera Mundi - A conferência inaugural do Your Party, nova legenda socialista do Reino Unido, terminou neste domingo (30/11), com avanços institucionais e o debate sobre os próximos passos, não isento de polêmicas. A nova sigla foi fundada pelos deputados Zarah Sultana e Jeremy Corbyn, que se desligaram do Partido Trabalhista britânico.
Nas redes sociais, Corbyn postou seu discurso no lançamento do Your Party. “Cabe a nós construir um partido socialista de massas que possa oferecer às pessoas algo muito especial: esperança”.
“Esta é a nossa oportunidade e o nosso momento. Vamos agarrá-la com unhas e dentes, construir esse partido, construir essa sociedade e lutar para sempre pelo verdadeiro socialismo e pela verdadeira justiça social”, acrescentou.
O ex-líder trabalhista também mencionou a total solidariedade da nova legenda ao povo palestino. “Não é guerra, é genocídio que estamos testemunhando… e o nosso governo é cúmplice. Não descansaremos até que haja justiça”, afirmou.
Em abril deste ano, o ex-líder trabalhista abriu inquérito independente para apurar venda de armas e fornecimento de inteligência britânicos no genocídio em Gaza, ao lado de 37 parlamentares que endossaram iniciativa.
Your Party
O nome Your Party (Seu Partido) ficou consolidado “após meses de indecisão”, destaca o britânico Independent. O anúncio coube a Corbyn, que recomendou aos militantes socialistas: “quando alguém perguntar ‘quem são vocês?’, vocês podem responder: o Seu Partido”.
Sultana criticou o fato de sua proposta de nome — Partido da Esquerda (Left Party) — não ter sido incluída entre as opções. No entanto, ela conseguiu emplacar uma proposta de liderança coletiva ante o modelo de liderança única, defendido por Corbyn.
Em votação, 51,6% dos delegados optaram pela constituição de um comitê de membros e 48,6% por um líder individual, informa The Guardian. “Alguns dirão que a decisão de adotar o modelo de liderança coletiva é uma vitória para mim. Não é. É a sua vitória. São vocês, os membros, que venceram”, afirmou a deputada.
O estatuto do partido também foi aprovado por 90% dos votos, e sua declaração política com 93% de adesões. Agora, uma nova direção executiva — composta por um presidente, um vice-presidente e um porta-voz — ficará responsável pelas decisões estratégicas e liderança pública da legenda.
Outra novidade foi a permissão de dupla filiação partidária para membros alinhados aos valores do partido. Mais uma vitória de Sultana, que chegou a boicotar o primeiro dia da conferência, após o vereador de Kingston, James Giles, ter sua entrada negada; bem como outros militantes de dupla filiação ligados ao Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP, em inglês).
Polêmica
Outra polêmica deveu-se à saída da recém-fundada legenda de dois parlamentares mulçumanos, Adnan Hussain e Iqbal Mohamed. Eles reagiram às declarações anteriores de Sultana de que pessoas socialmente conservadoras não teriam lugar na legenda. Os deputados acusaram faccionalismo, ambiente excludente e até “preconceito velado” contra homens muçulmanos.
Neste sábado (29/11), em entrevista ao Middle East Eye, Sultana recuou e afirmou que suas declarações foram mal compreendidas. “Há pessoas socialmente conservadoras em todas as partes da sociedade, e buscamos refletir o país inteiro e buscar seu voto, então, obviamente, até mesmo nossa militância refletirá essa base ampla. Eu não nego isso”, afirmou.
Em entrevista ao 5Pillars, Corbyn classificou a fala da parlamentar como uma “escolha infeliz de palavras” e disse ser necessário “trazer as pessoas para dentro e fazer com que elas concordem […] O objetivo de um partido político é unir as pessoas, e é isso que estamos fazendo”.
O veículo lembra que durante as eleições gerais de 2024, Sultana concorreu pelo Partido Trabalhista, no momento em que os muçulmanos abandonavam a legenda, apelando para que ela também deixasse oa sigla.
Em seu discurso neste domingo (30/11), informa o Independent, ela pediu desculpas pelos percalços na fundação da legenda. “Vocês podem ter notado que o processo de criar este partido teve alguns tropeços. Parte disso é culpa minha, e por isso eu sinto muito. Mas quero que saibam que meu objetivo desde o início foi garantir que este partido seja liderado por vocês, os membros, e não por deputados”, afirmou.

