Protestos em várias cidades da França exigem fim dos cortes orçamentários
Manifestantes se mobilizam em ações de bloqueio, enquanto confrontos com a polícia resultam em dezenas de detenções
247 - Nesta terça (9) e quarta-feira (10), milhares de manifestantes tomaram as ruas de diversas cidades francesas em uma demonstração de descontentamento contra os cortes orçamentários planejados pelo governo do presidente Emmanuel Macron, segundo a Reuters. O movimento, batizado de "Bloquons Tout" (Bloquear Tudo), teve como objetivo interromper o funcionamento do país, bloqueando estradas, incendiando lixeiras e promovendo confrontos com a polícia.
A polícia foi rapidamente mobilizada para dispersar os bloqueios, embora as manifestações tenham causado sérios transtornos no tráfego em várias regiões. De acordo com autoridades, quase 200 pessoas foram presas durante os protestos, que resultaram em algumas escaramuças. Em Paris, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar grupos de jovens que bloquearam a entrada de um colégio, enquanto os bombeiros retiravam objetos queimados de barricadas montadas pelos manifestantes.
O protesto se originou de um movimento nas redes sociais, inicialmente articulado por grupos de direita, mas que rapidamente foi apropriado pela esquerda e pela extrema-esquerda, segundo especialistas. Durante o protesto, Fred, representante do sindicato CGT, afirmou em Paris: "Não são os ministros, é Macron quem é o problema. Ele é quem precisa sair." Outros manifestantes também expressaram seu descontentamento com a política econômica do governo, incluindo o corte de investimentos em áreas essenciais como saúde e educação.
Em Nantes, no oeste da França, manifestantes bloquearam uma rodovia com pneus queimados e lixeiras, enquanto em Montpellier, no sul, confrontos entre a polícia e os manifestantes resultaram no uso de gás lacrimogêneo. No entanto, o movimento não foi restrito a Paris e Nantes. Cidades como Bordeaux, Toulouse e Lyon também registraram protestos, com alguns grupos tentando bloquear pontos-chave, como a estação Gare du Nord e vias expressas.
Em uma tentativa de reafirmar o compromisso com a luta, Amar Lagha, sindicalista e um dos organizadores do protesto, destacou: "Este dia é uma mensagem para todos os trabalhadores deste país. A luta não acabou e, se for preciso, vamos morrer de pé". Em Paris, a frustração também se voltou contra a recente remoção do primeiro-ministro François Bayrou, substituído por um aliado de Macron, o que gerou indignação entre os opositores políticos.
A ação, que remete aos protestos dos "coletes amarelos" de 2018, reflete o crescente descontentamento popular com a forma como o governo tem conduzido a economia e a política social. A pressão aumenta sobre Macron, que já enfrenta um governo instável após a derrota parlamentar recente, quando a oposição uniu forças para derrubar sua agenda.
Com a expectativa de que cerca de 100 mil pessoas participassem das manifestações, a mobilização se espalhou por todo o território francês. O ministro do Interior, Bruno Retailleau, alertou que, embora a maioria dos protestos tenha sido pacífica, existe o risco de grupos ultrarradicais se infiltrarem nos atos, o que poderia levar a um aumento da violência. Para conter os protestos, 80 mil agentes de segurança foram mobilizados em todo o país, incluindo 6 mil em Paris.
Os efeitos das manifestações sobre o governo ainda são incertos, mas o movimento "Bloquons Tout" parece ser um reflexo do descontentamento crescente com o que muitos consideram uma elite política desconectada das necessidades reais da população. A pressão sobre o governo francês só tende a aumentar nas próximas semanas, com novas mobilizações sendo previstas.



