Tailândia lança ataques aéreos e reacende disputa fronteiriça com o Camboja
Confrontos ao longo da fronteira elevaram tensões históricas e forçaram a evacuação de milhares de civis na região
247 - A Tailândia confirmou ter realizado ataques aéreos contra posições cambojanas nesta segunda-feira (8), após novos confrontos em áreas sensíveis da fronteira entre os dois países, informa a Reuters.
A escalada militar ocorre após troca de acusações sobre violações de um cessar-fogo mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A ofensiva tailandesa ocorreu ao amanhecer e resultou na morte de um soldado e no ferimento de outros oito militares. A operação incluiu pedidos de apoio aéreo para atingir alvos cambojanos, em meio a relatos de intensificação das hostilidades desde as primeiras horas da manhã. A Força Aérea da Tailândia afirmou que o Camboja reposicionou tropas, mobilizou armamento pesado e preparou unidades de apoio, o que teria levado Bangkok a empregar poder aéreo “para deter e reduzir as capacidades militares” do país vizinho.
O Ministério da Defesa do Camboja confirmou que tropas tailandesas lançaram ataques em dois pontos da fronteira após dias de “ações provocativas”, acrescentando que suas forças não retaliaram. A situação ganhou novo peso com a manifestação do ex-premiê Hun Sen, que classificou os militares tailandeses como “agressores” e pediu contenção às tropas cambojanas. “A linha vermelha para a resposta já foi definida”, afirmou ele no Facebook. “Exorto os comandantes em todos os níveis a instruírem todos os oficiais e soldados de acordo com isso.”
As autoridades cambojanas informaram que três civis ficaram gravemente feridos até agora. No lado tailandês, mais de 385 mil pessoas estão em processo de evacuação em quatro distritos fronteiriços, sendo que ao menos 35 mil já foram encaminhadas a abrigos temporários, segundo o exército local. Em Oddar Meanchey, província cambojana vizinha, mais de 1.100 famílias também foram deslocadas.
O recrudescimento ocorre meses depois de um conflito de cinco dias em julho, que deixou ao menos 48 mortos e deslocou cerca de 300 mil pessoas. Na ocasião, uma trégua emergencial foi articulada pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, e por Donald Trump. O acordo foi formalizado em outubro, em Kuala Lumpur, durante cerimônia que marcou a ampliação do pacto de paz entre os dois países.
Mesmo assim, as tensões voltaram a crescer a partir de maio, após a morte de um soldado cambojano em um rápido confronto armado. Desde então, a região registrou sucessivas disputas diplomáticas, escaramuças militares e um novo ponto de ruptura no mês passado, quando a Tailândia suspendeu a implementação da trégua após um de seus soldados ficar gravemente ferido por uma mina terrestre. Bangkok acusa Camboja de plantar novos explosivos na área disputada — alegação negada por Phnom Penh.
As populações que vivem próximas à fronteira relatam o impacto direto da violência. Em Ban Kruat, distrito tailandês adjacente ao território cambojano, o morador Phichet Pholkoet descreveu o clima de tensão desde o início da manhã. “It startled me. The explosions were very clear. Boom boom!”, afirmou por telefone. “I could hear everything clearly. Some are heavy artillery, some are small arms.”
Do lado cambojano, o opositor Meach Sovannara relatou temor semelhante na cidade de Samroang, onde operações de evacuação também foram reforçadas.
A disputa territorial entre Tailândia e Camboja tem mais de um século, marcada por divergências sobre trechos não demarcados da fronteira de 817 quilômetros, originalmente traçada pela França quando controlava o Camboja como colônia. Embora ambos os países tenham buscado soluções pacíficas ao longo das últimas décadas, confrontos esporádicos, como o registrado em 2011, com uma semana de bombardeios, seguem evidenciando a fragilidade da região.
A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) voltou a pedir moderação. Anwar Ibrahim alertou que os novos confrontos podem comprometer os esforços multilaterais empreendidos nos últimos meses. As operações militares continuam em andamento, com ambos os países monitorando a movimentação de tropas e o impacto humanitário nos territórios fronteiriços.



