ArcelorMittal antecipa parque eólico e solar na Bahia
Complexo Babilônia Centro e usina solar somam mais de 750 MW e garantem 40% da demanda elétrica da siderúrgica no Brasil até 2030
247 - A ArcelorMittal e a Casa dos Ventos anteciparam a entrada em operação de um complexo eólico e solar na Bahia, estruturado por meio de uma joint venture entre as duas empresas. O conjunto de usinas, que ultrapassa 750 megawatts (MW) de potência instalada e mobiliza cerca de R$ 5 bilhões em investimentos, reforça a estratégia de autoprodução de energia da siderúrgica e reduz sua exposição à volatilidade do mercado elétrico.
As informações constam de reportagem do serviço Broadcast, do jornal O Estado de S. Paulo, assinada por Luciana Collet e publicada na segunda-feira (24), em São Paulo. A matéria detalha o avanço do complexo eólico Babilônia Centro e da usina solar associada, além dos próximos passos de ArcelorMittal e Casa dos Ventos na expansão de projetos renováveis.
O complexo eólico Babilônia Centro, instalado na Bahia, tem 550 MW de capacidade e demandou R$ 4,2 bilhões em investimentos. A previsão inicial era iniciar a operação apenas no fim de 2025, mas as turbinas começaram a gerar energia ainda em meados deste ano. “Isso trouxe também um ganho econômico para nós este ano, em função dessa geração antecipada”, afirmou o presidente-executivo da ArcelorMittal Aços Longos América Latina, Everton Negresiolo, em entrevista ao Broadcast, sem abrir números.
No mesmo site do empreendimento, uma usina solar de 200 MW já entrou em fase de testes, com expectativa de estar totalmente operacional até dezembro, também antes do cronograma original. Segundo o diretor-executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, “a gente chega a mais de 310 megawatts médios (MWmed) de geração dedicados à ArcelorMittal”, o que, de acordo com ele, configura o maior contrato corporativo de compra e venda de energia da história do País.
Diferentemente do modelo predominante em projetos recentes de autoprodução — em que o gerador banca a usina e o consumidor passa a ser sócio ou arrendatário apenas após a entrada em operação, reduzindo riscos de construção —, ArcelorMittal e Casa dos Ventos dividiram o risco desde o início da obra. A siderúrgica detém 55% da joint venture, amparada por um contrato de 20 anos. Com a energia firme do complexo eólico e da usina solar, a ArcelorMittal assegura mais de 40% de suas necessidades de eletricidade para as unidades fabris no Brasil até 2030.
A energia elétrica representa entre 3% e 6% da estrutura de custos da companhia. Por isso, Negresiolo avalia que a aposta em autoprodução traz benefícios simultâneos para competitividade e sustentabilidade. Segundo ele, o projeto permite garantir energia a preços competitivos e, ao mesmo tempo, contribui para a agenda de descarbonização do aço. A empresa estima evitar a emissão de mais de 204 mil toneladas de CO₂ por ano com os novos empreendimentos, em linha com a meta de alcançar 100% de energia elétrica renovável até 2030 e de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Além da parceria com a Casa dos Ventos, a ArcelorMittal já firmou outro compromisso relevante de autoprodução com a Atlas Renewable Energy. Trata-se de uma usina solar em Minas Gerais, com 269 MW de potência e quase R$ 900 milhões em investimentos, que deverá acrescentar mais 74 MW médios ao portfólio da siderúrgica. A expectativa é que esse projeto entre em operação entre o fim deste ano e o início de 2026, ampliando a fatia de energia própria.
Com Babilônia Centro, a usina solar na Bahia e o projeto com a Atlas, Negresiolo calcula que a ArcelorMittal chegará a aproximadamente 65% de autoprodução em relação à demanda prevista de energia para 2030. A empresa também conta com geração hidráulica a partir de uma pequena central hidrelétrica em Minas Gerais e aproveita parte dos gases de alto-forno em suas unidades, reforçando a diversificação da matriz energética interna.
Apesar do avanço, novos investimentos além dos projetos em execução ainda não estão no radar da companhia. O executivo cita o ambiente de incerteza criado pelos crescentes cortes de geração renovável — os chamados curtailments — e pela possível mudança nas regras do setor elétrico com a Medida Provisória (MP) 1.304/2025, que altera pontos importantes do marco regulatório. “É um momento de esperar e entender como vai funcionar o sistema elétrico, principalmente relacionado à autoprodução, relacionado à divisão de custos do sistema, enfim, tudo que tá sendo discutido na MP”, afirmou Negresiolo.
No caso específico do complexo eólico Babilônia, ele admite que os cortes de geração têm sido superiores ao previsto no modelo econômico do projeto, o que reforça a postura de “estado de wait and see” da companhia em relação a novos aportes. Ainda assim, o executivo lembra que a usina possui outorga de 35 anos, horizonte considerado suficiente para aguardar ajustes regulatórios e operacionais no sistema elétrico brasileiro.
Do lado da Casa dos Ventos, a perspectiva é de acelerar o ritmo de crescimento. Com a entrega dos projetos em parceria com a ArcelorMittal, a empresa atinge cerca de 3 gigawatts (GW) em capacidade instalada e em operação comercial. Há ainda mais 1,2 GW em construção, com entrada em operação prevista para 2026, em diferentes complexos eólicos e solares.
A empresa se prepara para tomar, até o fim do ano, nova decisão de investimento para viabilizar mais 2,1 GW em novos projetos. “São complexos eólicos e solares que estamos avançando com PPAs [contratos de compra e venda de energia, na sigla em inglês], estamos avançando aqui dentro da governança para aprovar a execução desses projetos, que entram em operação em 2027”, destacou Araripe. Caso todo o plano se confirme, a Casa dos Ventos deve praticamente dobrar de tamanho, atingindo 6,5 GW de capacidade instalada ao longo dos próximos anos.



