EUA devem liberar venda de chips avançados para empresa de IA da Arábia Saudita
Acordo entre Washington e Riad envolve remessa de semicondutores e aproximação estratégica no setor de inteligência artificial
247 - Os Estados Unidos devem autorizar, ainda nesta semana, a primeira grande venda de chips avançados de inteligência artificial para a Humain, empresa saudita apoiada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. A informação foi revelada pela Bloomberg, que cita fontes com conhecimento direto das negociações.
De acordo com a agência, Washington prepara um amplo acordo de cooperação em IA com Riad, que inclui a aprovação de um volume significativo de exportações de semicondutores. A decisão ocorre em meio ao encontro, na terça-feira (18), entre Mohammed bin Salman e Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.
Durante a reunião na Casa Branca, Trump confirmou que as tratativas estão em curso. “Estamos trabalhando nisso”, afirmou o presidente no Salão Oval. Segundo ele, o acerto envolve “certos níveis de chips”, sem detalhar quantidades. Uma das fontes consultadas pela Bloomberg calcula que as autorizações podem alcançar “dezenas de milhares” de unidades.
A liberação representa uma vitória para fabricantes norte-americanas como Nvidia e AMD, que buscam expandir a presença no Oriente Médio. A Humain, criada há seis meses e presidida por Tareq Amin, planeja operar até 400 mil chips de IA até 2030. O executivo já havia informado à Bloomberg que aguardava permissões de exportação relacionadas a produtos da Nvidia, AMD, Qualcomm e da startup californiana Groq.
O Departamento de Comércio dos EUA não comentou o avanço das negociações, assim como a Humain. Ainda na terça-feira (18), o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, indicou que o acordo inclui parcerias com grandes empresas tecnológicas dos EUA. “Vamos conectá-los a algumas das maiores companhias de tecnologia do país”, declarou à Fox News, acrescentando que uma startup saudita — que não teve o nome divulgado — deverá receber um lote inicial de chips para desenvolvimento local.
O pacto é resultado de meses de conversas entre Washington e Riad. Desde 2023, a Arábia Saudita precisa de autorização formal dos EUA para importar semicondutores avançados, em razão de medidas que visam impedir que esses equipamentos acabem beneficiando a China. As restrições, impostas inicialmente em 2022 e ampliadas no ano seguinte, foram mantidas pelo governo Trump, apesar da busca por acordos estratégicos no Oriente Médio.
A Arábia Saudita tem procurado demonstrar alinhamento com Washington nessa área. No ano passado, o chefe do novo fundo saudita de investimentos em IA afirmou que o país poderia se desfazer de ativos ligados à China, caso fosse solicitado pelos EUA. O CEO da Humain, por sua vez, garantiu à Bloomberg que a empresa se comprometeu a não adquirir equipamentos da Huawei, gigante chinesa de tecnologia. A empresa chinesa vinha tentando estreitar laços comerciais no reino, movimento que gerou preocupação em setores do governo norte-americano.
A Humain, presidida por Mohammed bin Salman, é financiada pelo Fundo Público de Investimento saudita, que administra cerca de US$ 1 trilhão. Em outubro, a estatal petrolífera Saudi Aramco assinou um memorando para adquirir uma participação minoritária significativa na companhia. O valor total destinado pelo fundo soberano ao projeto, porém, ainda não foi informado.
Durante o encontro na Casa Branca, o príncipe herdeiro ressaltou a importância da inteligência artificial para a estratégia econômica saudita. “IA é crucial para nós”, declarou. Segundo ele, o reino enfrenta “uma enorme demanda por capacidade computacional única” e está disposto a investir pesado para atender ao crescimento do setor. “Vamos gastar, no curto prazo, cerca de US$ 50 bilhões” em semicondutores.
A Humain já lançou um chatbot em árabe, um sistema operacional próprio e outras ferramentas de IA. O principal trunfo apresentado ao mercado, contudo, é a energia barata do país, capaz de sustentar grandes centros de dados. A empresa promete instalar 6,6 gigawatts de capacidade computacional até 2034 — volume comparável ao do megaprojeto Stargate, desenvolvido nos EUA.



