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Oásis

Copo meio cheio

Reclamação é chatíssimo. Ninguém suporta. Pior ainda são as pessoas treinadas para ouvir e receber os reclamantes

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Estou precisando, emergencialmente, encontrar um curso de formação em otimismo. Um bom curso, sem cunho religioso, sem ser politicamente correto, sem abordagem neurolinguística, sem que haja um ministrador que seja um ícone literário, desses que ficam ricos vendendo best sellers (não há otimista que aguente esses tipos).

Procuro um curso que me ensine a enxergar o copo meio cheio e não meio vazio. Um curso que me ensine a ter disposição para encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho favorável, mesmo em situações muito difíceis, como define a wikipédia.

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Reclamação é chatíssimo. Ninguém suporta. Pior ainda são as pessoas treinadas para ouvir e receber os reclamantes, aqueles tipos sorridentes que servem de para-raios. Se eu tenho algo a reclamar e me encaminham para qualquer um desses profissionais que me recebem com um sorriso, tecem pequenos elogios e amenidades antes de me ouvir, já sei que minha reclamação cairá no anonimato, será extinta para sempre numa sofisticada quebra de átomos. Tenho certeza que essas pessoas fizeram especialização no curso de Formação em Otimismo.

Sem sombra de dúvidas, uma reclamante ambulante como eu, conhece um punhado desses profissionais. Eles estão em toda parte e são muito organizados. Devem ser uma categoria específica na CLT e fortemente sindicalizada porque crescem exponencialmente. Acho até que já há mais para-raios de reclamações que reclamações. Visto pelo copo meio cheio, eu poderia dizer que o número de reclamações atendidas hoje é muito maiores que antes. Embora "atendidas" seja um termo subjetivo.

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Mas vamos tentar ver o copo meio cheio. Tudo é uma questão de ponto de vista.

Na faculdade, eu poderia dizer que a democracia e a descontração são expressas no alto volume das conversas durante as aulas, no entra-e-sai da sala, no saquinho barulhento dos salgadinhos fedorentos e nos colegas que não fazem absolutamente nada nos trabalhos em grupo. Atualmente, a faculdade é lugar de prazer onde pode-se encontrar os amigos para conversar, desabafar todos os problemas, rir e por que não se divertir? Afinal, depois de um dia de responsabilidades e trabalho, se divertir é a melhor opção.

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A democracia está em tudo e a rigidez foi banida de tal forma que o professor se sente tão à vontade ao ponto de sempre chegar atrasado às aulas do sábado de manhã, mesmo em dias de prova. Ao que parece, ele não se considera um exemplo a ser seguido, ou num cargo acima do aprendiz, sem essa de hierarquia. Porém a diferença é que um paga para estar lá e outro recebe, mas não vamos falar em dinheiro agora.

Aquele aluno que, desde a sexta à noite foi dormir mais cedo para acordar mais cedo, para pegar o ônibus mais cedo, para poder chegar no horário, terá a surpresa de ter mais tempo livre para estar com seus outros colegas que fizeram a mesma coisa. Massa!

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A respeito das carteiras quebradas, pode-se dizer que os alunos hoje são completamente desapegados de bens materiais e o ato de construir o conhecimento não depende desses bens. O mesmo em relação aos livros riscados da biblioteca. Os rabiscos e anotações pessoais em livro público são sinais de que a criança foi respeitada na fase de riscar as paredes de casa, sem sofrer qualquer advertência ou repressão. Muito pelo contrário, esse artista e esta criança estão alí, vivos e atuantes.

Nos restaurantes, nada melhor que poder ouvir a conversa de todos. Silêncio e conversas fechadas são do tempo dos conventos, ou além, são do tempo da inquisição.

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Outro dia eu estava no café-restaurante delicioso da livraria Cultura com minhas filhas. Ambiente lindo, garçons educados e prestativos, comida ótima. O lugar é copo cheio total. Sem dúvida. Atrás da gente estavam dois homens grisalhos, um deles de terno apertado demais. Mas demais mesmo era o volume que ele usava ao tratar de assuntos de verba do governo destinada a certos cantores baianos, cujos nomes prefiro não mencionar. Liberdade, tudo bem, falta de elegância, jamais. Ele falava que a irmã de um pede tantos milhões para tal coisa, e que com o irmão o acordo era outros tantos milhões. E um outro tal cantor sempre foi tranquilo nos acordos. Frisou que acordo bom é quando ambas as partes saem ganhando. E as solicitações devem chegar lá em Brasília, com tudo definido. Ele ligava pra um, falava tudo de novo, convence de lá e de cá , finalmente pede um papel ofício timbrado para poder encaminhar. Não sei seu nome, nem o cargo, mas certamente era alguém tratando de eventos culturais.

Ele falava tão alto, que me senti constrangida. Mais uma vez resolvi ter a disposição para tentar ver as coisas pelo seu lado positivo, a regra do copo meio cheio. Continuamos ali saboreando as deliciosas saladas com a transparência de uma conversa paralela. Minha filha que quer ser cantora pôde conhecer um pouquinho como as coisas funcionam em certas esferas. E, que legal, num mesmo café enquanto uns se preocupam só com a sua salada, outros se preocupam com a salada de muita gente até o resto da vida.

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Se continuar assim, vou acabar sendo PHD em copo meio cheio e integrar o time das sorridentes elogiosas que servem de para-raios.

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