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Crimeia: É alarme mundial. Península é pivô de perigosa crise internacional

Onde fica a Crimeia? Por que ela é agora centro da atenção mundial? E o que tem a ver com isso a gigante Gazprom – maior empresa russa petrolífera e de extração de gás - com uma das mais graves crises internacionais desde o final da Guerra Fria?

Onde fica a Crimeia? Por que ela é agora centro da atenção mundial? E o que tem a ver com isso a gigante Gazprom – maior empresa russa petrolífera e de extração de gás - com uma das mais graves crises internacionais desde o final da Guerra Fria? (Foto: Gisele Federicce)
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Em Simferopol, populares se manifestam a favor da união da Crimeia com a Rússia


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Por: Equipe Oásis

Dois novos governos alçados ao poder na Ucrânia e na Crimeia no giro de poucos dias. A Rússia envia dezenas de milhares de soldados ao território de um país soberano. Como pano de fundo, uma conta de gás de 1,5 bilhão de dólares que nunca foram pagos. São apenas parte da confusa e perigosa situação reinante nesses países.

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 Os acontecimentos se sucedem sobretudo na Crimeia, assinalando uma escalada de violência política e militar capaz de por seriamente em risco a paz naquela região da Europa centro oriental. No último dia 8 o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse em telefonema ao chanceler russo, Sergei Lavrov, que qualquer passo da Rússia para anexar a região ucraniana da Crimeia fecharia as portas para a diplomacia.

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Tropas russas bloqueiam a entrada da força naval ucraniana no porto de Sebastopol, na Crimeia

 

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"Ele deixou claro que a continuidade da intensificação militar e da provocação na Crimeia ou em qualquer outra parte da Ucrânia, junto com passos para anexar a Crimeia à Rússia, fecharia qualquer espaço disponível para a diplomacia, e ele apelou pela máxima moderação", disse a autoridade.

Ao mesmo tempo, forças russas tomaram o controle da Crimeia na semana passada. Separatistas pró-Moscou declararam a região parte da Rússia e marcaram um referendo para o dia 16 de março para confirmar a adesão.

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O governo russo afirma que não enviou tropas para a Crimeia além das que já possui normalmente na frota do mar Negro, uma declaração ridicularizada pelos governos ocidentais, já que existe total evidência de que a chegada de novos efetivos russos realmente está acontecendo. Putin, no entanto, nem precisaria de maiores contingentes  para reforçar o já existente e quase total controle russo da região. Controle que a Rússia considera necessário, já que, como veremos abaixo, a península concentra enormes interesses russos. Que está acontecendo, afinal, às margens do Mar Negro? Este é um mini-guia para entendermos os acontecimentos.

No mapa, a localização da Ucrânia e da Crimeia

1. Onde fica a Crimeia?
A Crimeia é uma península situada na costa norte do Mar Negro e o separa do Mar de Azov. Isso é sabido por qualquer pessoa que possua conhecimentos básicos de geografia. Menos sabido, no entanto, é que a Crimeia é pouco menor que o Estado de Alagoas (ela tem uma superfície de 26.200 quilômetros quadrados) e é habitada por dois milhões de pessoas. Grande parte do seu território faz parte da República Autônoma da Crimeia.

Populares de origem russa erguem bandeiras russas durante manifestação a favor da união da península com a Rússia

2. Quem governa a Crimeia? 
Anexada à força pela República Socialista Soviética da Ucrânia em 1954, durante o governo de Nikita Kruschev, a Crimeia proclamou sua própria independência em maio de 1992, dois anos e meio após a queda do Bloco Soviético.

O governo autônomo decidiu, no entanto, permanecer coligado à Ucrânia, porém com o status de República Autônoma, com um governo e parlamento próprios, com sede na cidade de Simferopol.

A 27 de fevereiro último, no bojo dos eventos que na Ucrânia levaram à destituição do Presidente Vicktor Yanukovich, um grupo de homens armados tomou posse do Parlamento em Simferopol e substituiu o governo legalmente eleito por um outro guiado por Sergiy Aksyonov, um político filorusso. Este novo governo e as forças que o sustentam são contrários à política europeísta dos revolucionários ucranianos. 

Em Sebastopol, manifestações maciças da população de ascendência russa

3. Quem habita a Crimeia?
57% da população da Crimeia é composta de russos e apenas 27% de ucranianos. Os primeiros nunca viram com bons olhos a anexação do seu país pela Ucrânia em 1954, e muito menos a decisão de permanecer sob o controle de Kiev na época pós-soviética, nem mesmo na condição de República Autônoma.

Nos últimos dias, o Parlamento de Simferopol, sob a pressão do povo nas ruas, foi obrigado e instituir um referendum para o próximo dia 16 de março a respeito da extensão da autonomia da Crimeia. A população da península será chamada a votar a respeito da separação da Ucrânia e a adesão a uma política filo Rússia.

A minoria tártara da Crimeia é hostil à Rússia e não deseja a união do seu país com essa potência

4. Quem são os tártaros? 
Os tártaros constituem a etnia muçulmana da Crimeia e hoje representam 12% da população da República Autônoma. Moradores da península desde o século 15, durante a Segunda Guerra Mundial colaboraram com os alemães e por isso foram deportados em massa por Stalin. Conseguiram retornar à sua terra ao final do conflito, mas tiveram de esperar por Gorbachev e a Perestroica para obter novamente o direito de votar e os demais direitos civis.

Hoje, junto à minoria ucraniana, apoiam o governo filo europeísta de Kiev, não têm a menor intenção de se tornarem russos e são abertamente hostis a Putin e à política de Moscou.

O cruzador russo Moskva, portador de mísseis teleguiados, aguarda no porto de Sebastopol

5. Por que a Crimeia é importante do ponto de vista estratégico? 
A cidade de Sebastopol, na zona sul ocidental da península da Crimeia, é sede de uma das quatro frotas da marinha militar russa e abriga cerca de 11 mil funcionários militares e civis e cerca de 60 navios. Apesar de a cidade e o porto se encontrarem em pleno território da República Autônoma da Crimeia são, de fato, inteiramente controlados pela Rússia. 

Em 2010 o parlamento russo e o ucraniano ratificaram um acordo que estende até 2042 a permanência da frota russa em Sebastopol, em troca de um desconto de 30% no fornecimento de gás russo à cidade de Kiev.

O controle do porto de Sebastopol permite à frota russa manter um importante presídio no litoral do Mar Negro e garante à marinha de Putin uma saída para o Mar de Mármara e, a partir dele, para o Mediterrâneo. Assim sendo, a perda da Crimeia implicaria para os russos numa significativa redução do poder e do raio de alcance da sua armada de guerra.

Comboio de caminhões militares russos transportando tropas percorre estrada do interior da Crimeia

6. Qual é a implicação da empresa Gazprom com aquilo que está acontecendo na Crimeia e na Ucrânia? 
Gazprom é a maior empresa russa no setor extrativo, especializada em gás natural e petróleo. As nações que dependem da Gazprom para o seu abastecimento energético são muitas. Entre elas a Bósnia-Erzegovina, Estônia, Letônia, Lituânia, Macedônia, Eslováquia, Bulgária, Hungria, República Checa e Ucrânia. Muitos países ocidentais, entre eles a Áustria, Alemanha, França e Itália confiaram à gigante russa boa parte do seu fornecimento de gás.

Com a recente queda do presidente ucraniano filo russo Viktor Yanukovic e a subida ao poder do governo de união nacional, a Gazprom  informou que a Ucrânia tem uma dívida atrasada com a empresa de cerca 1,50 bilhão de dólares.

Se a conta não for saldada o mais rapidamente possível, Gazprom será obrigada a cortar pela metade o fornecimento de gás ao país e aumentar as tarifas.

A situação é muito delicada, pois os principais gasodutos da Gazprom atravessam o território da Ucrânia. Eles transportam o combustível das jazidas siberianas para toda a Europa. Se esses gasodutos fossem bloqueados – e a Gazprom poderia fazê-lo, já que dispõe de gasodutos alternativos que não passam pelo território ucraniano – o país seria obrigado a declarar default no giro de poucos dias. As tarifas pagas pela Gazprom ao governo de Kiev constituem, com efeito, a principal fonte de entrada de divisas para o país.

Em Kiev, manifestantes exibem cartazes que demonizam Putin, comparando-o a Hitler

 

7. Quais as reações dos vários países e das organizações internacionais? 
Há poucos dias, o novo premiê da Crimeia Sergiy Aksyonov pediu ajuda a Moscou para retomar a ordem na península. Em poucas horas, o Parlamento russo aceitou o pedido e enviou à Crimeia tropas terrestres. Ao mesmo tempo, no porto de Sebastopol acham-se perfiladas algumas naves de guerra e dois submarinos russos.

A Ucrânia, por seu lado, não reconhece nenhuma autoridade ao novo executivo da Crimeia e ameaça interromper todas as relações com Moscou. O presidente norte-americano Obama, no decurso de um, longo telefonema, convidou Putin a retirar suas tropas da Crimeia, enquanto o governo de Kiev, por sua vez, pede a intervenção do Estados Unidos, da OTAN e da União Europeia.

Até hoje, os países da União Europeia se limitaram a condenar a ocupação russa da Crimeia e a jogar as cartas da diplomacia, mas nada disso parece dar os frutos esperados. Putin foi bem claro ao dizer diretamente a Obama que a Rússia “fará de tudo para proteger seus próprios interesses”. Ao mesmo tempo, o governante russo solicitou aos militares de Sebastopol e de Simferopol, concentrados no interior das casernas, que entreguem as armas e se rendam ao exército russo.

Um padre ortodoxo em manifestação a favor da Ucrânia, em Simferopol

8. Quais serão as consequências?
Ainda é difícil prever o que acontecerá nos próximos dias. A anexação da Crimeia pela Rússia conduzirá certamente a condenações e sanções por parte da comunidade internacional, que afetarão a já combalida economia russa. Esse gesto poderia, além disso, apressar a adesão da Geórgia à OTAN, tornando dessa forma ainda mais precária a segurança russa ao longo das suas fronteiras. 

Os analistas são unânimes ao firmar que a minoria tártara não se submeterá facilmente a um eventual governo russo da península, lançando assim as bases para um novo conflito étnico que apresentaria inquietantes semelhanças com a guerra na Chechênia.

Tártaro muçulmano da Crimeia reza em praça pública para que a península mantenha a sua independência

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