Eles só pensam naquilo

Ogi Ogas e Sai Gaddam, dois pesquisadores no campo da computação aplicada às neurociências, da Universidade de Boston, há anos investigam as características do mercado pornográfico na rede. Eles obtiveram algumas interessantes descobertas sobre aquilo que os homens e mulheres gostam de fazer sob os lençóis – e não apenas.

O trabalho deles, publicado no livro A Billion Wicked Thouhgts (Um bilhão de pensamentos porcos), levou em consideração mais de 400 milhões de buscas a respeito da pornografia online. Os cientistas utilizaram os dados sobre buscas dos navegadores que lhes foram fornecidos, de forma anônima, pela American Online, um dos mais importantes motores de busca dentre os utilizados nos Estados Unidos.

Por que gostamos dos cornudos? Embora na Internet possa-se encontrar pornografia de todos os tipos, 80% do mercado se concentra apenas sobre umas vinte categorias. Primeira conclusão: os homens adoram histórias de cornos. Entre os gêneros mais buscados pelos machos sobressai o das “mulheres que traem”.

“Isso confirma uma teoria que os biólogos chamam de ‘corrida do esperma’, explica Ogas à revista Time. “Quando um animal macho vê um outro macho que transa, ele se excita e, se quiser competir com o outro na reprodução, deve produzir uma maior quantidade de esperma”.

Segundo Ogas e Gaddam, esse comportamento pode ser encontrado também nos homens: quando vêem um outro homem com uma mulher, inclusive quando se trata da sua própria mulher, eles se excitam, apesar da permanência de um sentimento difuso de ciúmes.

Ele gosta dos filmes, ela gosta dos livros. O estudo de Ogas e Gaddam revela que, enquanto os homens têm uma marcante predileção pelas imagens hard, as mulheres preferem os textos pornográficos. A explicação disso provavelmente se encontra nas maneiras diferentes que homens e mulheres manifestam em relação aos estímulos sexuais.

Enquanto os primeiros se excitam com um único estímulo erótico, por exemplo um seio nu, as segundas necessitam de vários estímulos contemporaneamente ou em rápida sucessão. “Além disso, nos homens, de modo diferente das mulheres, a excitação física e a psicológica caminham juntas: se existe ereção, o macho está excitado”, explicam os cientistas.

O cérebro das mulheres é projetado para ser mais cauto: se uma mulher produz filhos com o primeiro homem que encontra, podem ocorrer problemas no desenvolvimento da prole. Por esse motivo, a mulher é levada a escolher com cuidado o parceiro e a obter mais informações.

O gênero hard preferido das mulheres são os relatos românticos, as histórias longas até uma centena de páginas que contenham, aqui e ali, situações eróticas mais explícitas. Há algum tempo, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, está se difundindo na rede um gênero de conto erótico inteiramente novo, cujos personagens principais são celebridades importantes ou da moda, como esportistas ou cantores, bem como os protagonistas de filmes e de livros. Para surpresa geral, entre os preferidos das mulheres nesse gênero particular não são os vampiros sexy de Lua Nova, e sim... o bruxinho Harry Potter.

Eles só pensam naquilo... A pornografia, afinal, causa dependência? Muito pouco. Segundo os dados analisados por Ogas e Gaddam, apenas 2% dos que visitam sites hard o fazem em número de buscas consideravelmente mais elevado do que a média. Mesmo assim, diferentes da maioria que possui preferências de gênero bem definidas e constantes, estes últimos vêem um pouco de tudo. No geral, do estudo não transparecem evidências estatísticas que possam confirmar a existência de uma dependência do estímulo ciber-pornô. Talvez por essa razão, esse distúrbio psicológico não foi incluído na última revisão do “Manual diagnóstico e estatístico dos distúrbios mentais”, o guia de classificação das patologias mentais mais usado pelos médicos, psiquiatras e psicólogos.

CYBERPORNÔ EM NÚMEROS

. O volume de negócios anual da indústria pornográfica online é de cerca 10 bilhões de reais.

. 35% de todos os downloads efetuados na Internet é de material pornográfico.

. A cada segundo, 28 mil pessoas acessam um site pornográfico.