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Oásis

Europa partida. Fosso cultural, histórico, político e econômico separa o Leste do Oeste

Hungria, Polônia, Eslováquia, etc. Os regimes da Europa do Leste não se reconhecem nos valores democráticos ocidentais e já não hesitam em afirmar, de viva voz, essa diferença fundamental. Mais pessimistas e materialistas – como os poloneses que optam cada vez mais pelo modelo chinês – as populações desses países continuam a manter vivos certos estigmas históricos. E os partidos populistas se aproveitam disso de formas bem evidentes e com bons resultados eleitorais. 28 anos depois da queda do muro de Berlim, há uma espécie de cortina de ferro que continua a dividir a Europa em dois lados.

Hungria, Polônia, Eslováquia, etc. Os regimes da Europa do Leste não se reconhecem nos valores democráticos ocidentais e já não hesitam em afirmar, de viva voz, essa diferença fundamental. Mais pessimistas e materialistas – como os poloneses que optam cada vez mais pelo modelo chinês – as populações desses países continuam a manter vivos certos estigmas históricos. E os partidos populistas se aproveitam disso de formas bem evidentes e com bons resultados eleitorais. 28 anos depois da queda do muro de Berlim, há uma espécie de cortina de ferro que continua a dividir a Europa em dois lados. (Foto: Luis Pellegrini)
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Por: Stawomir Sierakowski. Fonte: Jornal Gazeta Wyborcza, Polônia


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Por que motivo os populistas dominam no Leste europeu? Apenas nos países pós-comunistas da Europa os políticos populistas infligem frequentemente derrotas eleitorais aos partidos tradicionais. Atualmente, os partidos populistas estão no poder em sete dos 15 países da Europa do Leste. São membros da coligação governamental em dois e constituem a principal formação de oposição em três. E enquanto, em 2000, esses partidos conquistaram 20% dos votos em apenas dois países do Leste, hoje já são dez os países onde dispõem dessa margem. Na Polônia, em 2000, obtiveram apenas 0,1 % dos sufrágios, mas o Governo do partido Direito e Justiça (PIS) detém hoje a maioria parlamentar. Na Hungria, o Fidesz (União Cívica Húngara, da extrema direita), o partido do primeiro-ministro Viktor Orbán, chegou em alguns momentos a contar com um apoio de mais de 70% dos eleitores.

 

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Materialismo e pós-materialismo

Além dos números brutos, porém, é preciso considerar os fatores sociais e políticos subjacentes ao fato de o populismo estar agora muito mais forte na Europa do Leste. Em primeiro lugar, a tradição de equilíbrio de poderes, que durante muito tempo preservou a democracia ocidental, não existe nessa região. Ao contrário de Jaroslav Kaczynski, presidente do PiS e dirigente de fato da Polônia, Donald Trump não pode ignorar as decisões da Justiça nem mandar os serviços de segurança atacar a oposição.

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Outra diferença importante é que os europeus orientais têm tendência para se mostrar mais materialistas do que os ocidentais, que ultrapassaram as preocupações associadas ao bem-estar físico e abraçaram aquilo que o sociólogo Ronald Ingelhart designa por valores pós materialistas. Como resultado dessa situação, as sociedades europeias do Leste são mais vulneráveis aos ataques a instituições liberais, como a liberdade de expressão e a independência da Justiça.

Este fato não deveria surpreender pois afinal o liberalismo foi importado do Ocidente. Se excluirmos fenômenos como Trump e o Brexit, a cultura do liberalismo social e político encontra-se profundamente enraizada na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Na Europa do Leste, a sociedade civil não só é mais fraca como se centra sobretudo nos domínios da caridade, da religião e dos tempos livres, e não em questões políticas.

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O fato de a política polaca ou húngara serem mais próximas da política praticada na Rússia do que da praticada na França ou na Áustria quererá dizer que as fronteiras da UE foram demasiado alargadas? Será que o lugar da Polônia e da Hungria é ao lado da Rússia, e não da Europa Ocidental?

 

Além disso, na paisagem política dos Estados pós-comunistas da Europa, marcada por uma enorme diversidade, a esquerda é muito fraca ou está totalmente ausente da vida política. A linha de demarcação não se situa entre a esquerda e a direita, mas entre o bem e o mal. Assim, a Europa do Leste está muito mais próxima da dicotomia “amigo ou inimigo” desenvolvida pelo alemão Carl Schmitt, teórico antiliberal do direito e da política. Cada um dos campos vê-se a si mesmo como o único verdadeiro representante da Nação, pelo que toda a oposição, necessariamente ilegítima, deve ser não apenas vencida, mas privada do direito à palavra.

Trabalhadores e classe média apoiam os populistas

Há ainda outro aspeto que distingue os populistas de Leste dos seus pares ocidentais. Os primeiros podem contar com o apoio não só das classes trabalhadoras, mas também da classe média. Segundo uma análise realizada pelo Instituto de Estudos Avançados de Varsóvia, na Polônia, as atitudes políticas não são função de quem beneficiou ou não da transformação econômica pós comunista. As fileiras do eleitorado do partido no poder incluem muitas pessoas satisfeitas com a sua existência e que nada têm de desprotegidas.

 

 

Esses eleitores deixam-se seduzir pelo discurso populista, porque este lhes fornece um quadro descritivo no qual as suas experiências positivas e negativas se enquadram. Munidos de um objetivo, os eleitores sentem-se mais ligados ao partido. Em vez de formarem uma opinião própria a partir da sua experiência pessoal sobre os tribunais, os refugiados ou a oposição, dão ouvidos ao líder e adaptam as suas opiniões à sua escolha política. Portanto, não é a frustração econômica dos eleitores que explica o sucesso do PiS.

O principal motor da diferença

Para as classes trabalhadoras, o principal motor é o desejo de pertencer a uma comunidade. E, para os seus homólogos da classe média, é a satisfação decorrente não da riqueza material mas do ostracismo exercido contra aqueles que são considerados inferiores – quer se trate de refugiados, de elites depravadas ou de juízes que favorecem os interesses pouco claros de alguns grupos. Orbán e Kaczynski são mestres em explorar esse desejo.

Temos direito a perguntar se o populismo não acabará por ser aquilo que define as verdadeiras fronteiras culturais – e a seguir, também as fronteiras políticas – da União Europeia. O fato de a política polaca ou húngara serem mais próximas da política praticada na Rússia do que da praticada na França ou na Áustria quererá dizer que as fronteiras da UE foram demasiado alargadas? Será que o lugar da Polônia e da Hungria é ao lado da Rússia, e não da Europa Ocidental? A longo prazo, será impossível preservar as fronteiras da União Europeia? São questões delicadas a que só os europeus orientais podem dar resposta.

Croácia claramente voltada para o Leste

Desde a adesão da UE, a Croácia voltou a cair na demagogia nacionalista e está se afastando dos valores europeus, acusa o Novi List. Segundo este diário de Rijeka, os exemplos abundam. “Acabou a mentalidade submissa: somos donos de nós próprios, não temos de prestar contas a ninguém, não temos de nos justificar”, declarou recentemente Milijan Brkic, vice-presidente do HDZ, o partido conservador no poder. “No universo de Brkic a UE não existe, a comunidade internacional e as suas leis também não”, comenta aquele jornal. “O revisionismo histórico (sobre o papel do regime croata pró-nazi durante a Segunda Guerra Mundial) e a ofensiva dos fundamentalistas católicos sobre os valores seculares, designadamente nos domínios da política e da educação, deixam a Croácia mais alinhada com os países de Leste. Quatro anos depois da adesão, a Croácia faz o percurso inverso.”

 

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