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Oásis

Me dizes do que não gostas que te digo que és um babaca

Uma geração que precisa odiar coisas para se afirmar tem futuro ético e moral duvidoso

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Quando eu era garoto – no limbo que aconteceu entre as décadas de 70 e 90 – lembro que as coisas que gostávamos representavam a imagem que as pessoas tinham de nós. Você conhecia uma gatinha e dizia logo que gostava de Raimundos e Metallica (selvagem e viril), de Legião Urbana (sensível e inteligente) e Mamonas Assassinas (descontraído e extrovertido), e pronto, você é um homem perfeito e ela já está no papo. E assim foi durante toda a minha adolescência, sendo definido através de bandas, livros, esportes e partes do corpo feminino que eu mais gostava. Mas as coisas mudaram.

Essa semana estourou o mais novo websuperuberhit da internet: a Banda mais bonita da cidade, com a música “oração”. A música é bonitinha. Bobinha, romantiquinha, mas bem bonitinha e diferente dessa onda de pseudo-intelectualismo que ronda a internet. E como a música é bacana, elogiei. Qual foi minha surpresa quando vi várias – leia-se DEZENAS – de pessoas me respondendo, falando que a música era chata, melosa, “hipster” etc. Longe de mim querer dizer o que as pessoas devem gostar ou não, mas o problema é que essas mensagens vinham com uma clara mensagem nas estrelinhas, como diria o poeta, e elas diziam “não sou chato”, “não sou meloso” ou “não sou hipster”.

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Hoje em dia, ao invés de se identificar através do que se gosta, a identificação é feita através do que se repudia. Então você não gosta de bandas que representam o que você não é – ou não quer parecer que é. Se você não é moderninho, diz que não gosta de Los Hermanos. Se é moderno e quer parecer descolado, fala mal de Beatles. Se não quer parecer gay, fala que não curte usar anel no polegar. Parece que é mais forte dizer o que não gosta do que dizer o que gosta. Gostar é fácil, tem gosto pra tudo. Mas pra não gostar tem que ter coragem. Falar que não gosta de Beatles é muito mais do que não gostar da maior banda de todos os tempos: é sinal de coragem, de originalidade (?), sinal de que você não se deixa influenciar. Apesar de, no fundo, você ser visto pelas pessoas só como mais um babaca que escolheu uma unanimidade pra falar mal só pra parecer descolado.

Mas o paradoxo é que, quando você tenta se auto-afirmar e se afirmar para a sociedade através de coisas que você não gosta de critica, só pra parecer independente e original, você está seguindo uma das maiores modas de hoje em dia, a moda de ser Hater, de não gostar das coisas sem motivo, e, assim, está sendo mais influenciável e menos original do que os Beatlemaníacos. É mais ou menos como querer ser afirmar heterossexual cantando “Dancing Queen” em karaokê. O grande problema é que geralmente quando gostamos de algo, não precisamos de justificativa. Você gosta de Pagode ou Los Hermanos porque você gosta, pronto. Tudo bem que gostar de Los Hermanos não tem justificativa, mas vocês entenderam o espírito da coisa. E quando você se afirma através de algo que você não gosta, você rotula. Não gosta disso porque é moderninho, daquilo porque é gay ou daquilo outro porque é Cult. Uma geração que precisa odiar coisas para se afirmar é uma geração, no mínimo, de futuro moral e ético duvidoso. E vocês nos achando ridículos porque usávamos mullets e bermudas jeans...

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