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Oásis

Rituais musicais secretos ao redor do mundo. Vincent Moon e Naná Vasconcelos no TED

Em outubro de 2014, Naná Vasconcelos fez uma das suas últimas apresentações no TED, encerrando uma palestra do musicólogo francês Vincent Moon. Um show que mostra a grandeza do talento do nosso maior percussionista, que faleceu no Recife no dia 9 deste mês de março.

Em outubro de 2014, Naná Vasconcelos fez uma das suas últimas apresentações no TED, encerrando uma palestra do musicólogo francês Vincent Moon. Um show que mostra a grandeza do talento do nosso maior percussionista, que faleceu no Recife no dia 9 deste mês de março. (Foto: Luis Pellegrini)
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Naná Vasconcelos em plena ação

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Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading

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Tradução: Maria Ferraz. Revisão: Gustavo Rocha

 

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Vincent Moon viaja pelo mundo apenas com uma mochila e uma câmera, filmando apresentações e rituais de música raramente vistos pelo grande público. Suas gravações incluem desde rituais sufi na Chechênia até cerimoniais da ayahuasca na Amazônia peruana. Ele espera que seus filmes possam ajudar as populações a valorizar e ver suas próprias culturas com outros olhos.

Ele convidou o percussionista brasileiro Naná Vasconcelos para fazer uma apresentação ao final da palestra. Naná, que faleceu há poucas semanas no Recife, deu um show hipnótico e inesquecível. Poderemos vê-lo e ouvi-lo na segunda parte deste vídeo.

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Vídeo: Hidden music rituals around the world

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Tradução integral da palestra de Vincent Moon:

Como podemos usar computadores, câmeras, microfones, para representar o mundo de um jeito alternativo, o máximo possível? Como, talvez, é possível usar a Internet para criar uma nova forma de cinema? Por que a gente grava?

Bom, é com essas perguntas simples em mente que eu comecei a fazer filmes 10 anos atrás, primeiro com um amigo, Cristophe Abric. Ele tinha um site, La Blogothèque, dedicado à música independente. Nós éramos loucos por música. Nós queríamos representar a música de um jeito diferente, filmar a música que nós amamos, os músicos que admirávamos, e o máximo possível longe da indústria da música e longes dos clichês associados a ela. Nós começamos a publicar todas as semanas sessões na Internet. Nós vamos ver alguns trechos agora.

De Grizzly Bear no chuveiro a Sigur Ros tocando em um café parisiense. De Phoenix tocando ao redor da Torre Eiffel a Tom Jones em seu quarto de hotel em Nova Iorque. Do Arcade Fire em um elevador na região das Olympiades em Beirute, descendo uma escada no Brooklyn. Do R.E.M em um carro ao The National em volta de uma mesa à noite no sul da França. Do Bon Iver tocando com alguns amigos em um apartamento em Montmartre ao Yeasayer tendo uma noite longa, e muito, muito, muito mais bandas desconhecidas ou muito famosas.

 

Vincent Moon

 

Nós publicamos todos esses filmes de graça na Internet, e nós queríamos compartilhar todos esses filmes e representar a música de um forma diferente. Nós queríamos criar um outro tipo de intimidade usando todas essas novas tecnologias. Naquela época, 10 anos atrás na verdade, não havia projetos assim na Internet, e eu acho que foi por isso que o nosso projeto, os Take Away Shows, teve bastante sucesso, alcançando milhões de visualizações.

Depois de um tempo, eu fiquei um pouco - Eu queria ir a algum outro lugar. Eu senti a necessidade de viajar e descobrir alguma outra música, de explorar o mundo, indo a outros lugares, e na verdade era também essa ideia de cinema nômade, mais ou menos, que eu tinha em mente. Como o uso das novas tecnologias e a estrada poderiam se encaixar? Como eu poderia editar os meu filmes em um ônibus atravessando os Andes? Então eu viajei por cinco anos ao redor do mundo. Eu comecei naquela época na coleção de filmes digitais e músicas da marca Petites Planètes, que também era uma homenagem ao cineasta francês Chris Marker. Nós vamos assistir a mais alguns trechos daqueles filmes.

Da diva tecnobrega do norte do Brasil, Gaby Amarantos a um grupo feminino na Chechênia. De música eletrônica experimental em Singapura com o One Man Nation ao ícone brasileiro Tom Zé cantando em seu telhado em São Paulo. Do Bambir, a grande banda de rock da Armênia a algumas músicas tradicionais em um restaurante em Tbilisi, na Geórgia. Do White Shoes, uma grande banda de retro pop de Jacarta, Indonésia, ao DakhaBrakha, a banda revolucionária de Kiev, Ucrânia. Do Tomi Lebrero e a sua banda e seus amigos em Buenos Aires, Argentina, a muitos outros lugares e músicos ao redor do mundo.

O meu desejo era fazer como uma trilha. Fazer todos esses filmes teria sido impossível com uma grande empresa comigo, com uma estrutura ou qualquer coisa. Eu estava viajando sozinho com uma mochila, computador, câmera e microfones nela. Sozinho, na verdade, mas só com pessoas locais, conhecendo o meu time, que com certeza não eram profissionais, lá na hora, indo de um lugar ao outro e fazendo cinema como uma trilha. Eu realmente acreditava que o cinema poderia ser essa coisa muito simples: Eu quero fazer um filme e você vai me dar um lugar para passar a noite. Eu te dou um momento de cinema e você me oferece uma caipirinha. Bom, ou outras bebidas. Dependendo de onde você estiver.

 

 

No Peru, eles tomam pisco sour. Quando eu cheguei ao Peru, eu não fazia ideia do que faria lá. Eu só tinha um telefone, na verdade, de uma pessoa. Três meses depois, depois de viajar pelo país inteiro, eu havia gravado 33 filmes, só com a ajuda das pessoas locais, só com a ajuda de pessoas a quem eu fazia o tempo todo a mesma pergunta: O que é importante gravar aqui hoje? Vivendo dessa maneira, e trabalhando sem estrutura nenhuma, eu conseguia reagir ao momento e decidir, oh, isto é importante fazer agora. É importante gravar aquela pessoa inteira. É importante criar essa troca. Quando eu fui a Chechênia, a primeira pessoa que eu conheci olhou para mim e perguntou, "O quê você está fazendo aqui? Você é jornalista? ONG? Política? Que tipo de problemas você vai estudar?" Bom, eu estava lá para pesquisar sobre os rituais sufi na Chechênia, na verdade a incrível cultura do sufismo na Chechênia, que é completamente desconhecida fora da região. e assim que as pessoas entenderam que eu lhes daria aqueles filmes e os publicaria online de graça sob uma licença Creative Commons, mas eu também os daria às pessoas e que eu deixaria fazerem o que quisessem. Só quero apresentá-los de uma bela perspectiva. Eu só quero retratá-los de uma forma que seus netos vão olhar para o seus avôs e eles vão dizer: "Nossa, o meu avô é tão legal quanto a Beyoncé." Isso é o importante.

É muito importante porque é dessa forma que as pessoas vão enxergar de maneira diferente a sua própria cultura, a sua própria terra. Vão pensar sobre ela de um jeito diferente. pode ser uma forma de manter uma certa diversidade. 

Por que você vai gravar?  Existe uma frase muito boa do pensador americano Hakim Bey que diz: “Cada gravação é a lápide de uma performance ao vivo”. É uma ótima frase para se ter em mente hoje em dia, em uma era saturada de imagens. Qual é o sentido disso? Onde queremos chegar com isso? Eu estava pesquisando. Eu ainda mantinha essa ideia em mente: Qual é o sentido? Eu estava pesquisando sobre música, tentando puxar, tentar chegar perto de uma certa origem dela. De onde vem tudo isso? Eu sou francês. Eu não fazia ideia do que eu iria descobrir, que é uma coisa muito simples: Tudo era sagrado, no início, e a música era uma cura espiritual. Como eu iria usar a minha câmera, a minha pequena ferramenta, para chegar mais perto e talvez não apenas capturar o transe mas achar um equivalente, um cine-transe, talvez, algo em completa harmonia com as pessoas?

 

 

Essa é agora a nova pesquisa que estou fazendo sobre espiritualidade, sobre novas espiritualidades ao redor do mundo. Talvez mais alguns trechos agora. Do ritual de funeral Tana Toraja na Indonésia a uma cerimônia de Páscoa no norte da Etiópia. Do jathilan, um ritual de transe popular na ilha de Java, à umbanda no norte do Brasil. Os rituais sufi da Chechênia a uma missa na igreja mais sagrada da Armênia. Algumas canções sufi em Harar, a cidade sagrada da Etiópia, a uma cerimônia ayahuasca no meio da Amazônia do Peru com os Chipibo. E então, para o meu novo projeto, o que eu estou fazendo agora aqui no Brasil, chamado "Híbridos". Eu o estou fazendo com a Priscilla Telmon. É uma pesquisa sobre as novas espiritualidades em todo o país Essa é a minha busca, a minha própria busca do que eu chamo de etnografia experimental tentando mesclar todos os diferentes gêneros tentando ganhar de volta uma certa complexidade.

Por que nós gravamos? Eu ainda estava lá. Eu realmente acredito que o cinema nos ensina a enxergar. O jeito como mostramos o mundo vai mudar a maneira como nós vemos este mundo, E nós vivemos em um momento em que a mídia em massa faz um trabalho terrível, terrível em representar o mundo: violência, extremistas, somente eventos espetaculares, somente simplificações da vida cotidiana Eu acho que nós estamos gravando para recuperar uma certa complexidade. De reinventar a vida hoje, nós temos de fazer novas formas de imagens. E é muito simples.

Muito obrigado.

 

 

Bruno Giussani: Vincent, Vincent, Vincent, merci. Nós temos que nos preparar para a performance seguinte, E eu tenho uma pergunta para você, e a pergunta é essa: Você aparece em lugares como os que você acaba de nos mostrar, e você está carregando uma câmera, e eu suponho que você seja bem-vindo mas você não é sempre inteiramente bem-vindo. Você entra em rituais sagrados, momentos particulares de um vilarejo, uma pequena cidade, um grupo de pessoas. Como você quebra a barreira quando você aparece com uma lente?

VM: Eu acho que você a quebra com o seu corpo, mais que com o seu conhecimento. Foi isso que eu aprendi ao viajar, a confiar na memória do corpo mais que a memória do cérebro. O respeito é dar um passo à frente, não um passo para trás, e eu realmente acho que integrando o seu corpo ao momento, na cerimônia, nos lugares, as pessoas o acolhem e entendem a sua energia.

BG: Você me disse que a maioria dos vídeos que você fez são na verdade apenas um take. Você não faz muita edição. Quer dizer, você editou aqueles para nós no início das sessões por conta da duração, etc. Caso contrário, você só vai e captura o que quer que aconteça perante seus olhos sem muito planejamento, então é esse o caso? Está correto?

A minha ideia é que eu acho que contanto que não cortemos, de certa forma, contanto que nós deixemos que o espectador assista, mais e mais espectadores se sentirão mais próximos, estarão mais próximos do momento, naquele momento e naquele lugar. Eu realmente acho que, em termos de respeitar o espectador, não cortar o tempo todo de um lugar ao outro, de apenas deixar o tempo passar.

 

O percussionista brasileiro Naná Vasconcelos

 

BG: Me fale um pouco sobre o seu novo projeto, "Híbridos", aqui no Brasil. Logo antes de vir ao TED Global, você estava viajando pelo país para isso. Conte-nos algumas coisas.

VM: "Híbridos" é... Realmente acredito que o Brasil, longe dos clichês, é o maior país religioso do mundo, o maior país em termos de espiritualidade e em experimentos com espiritualidades. E é um grande projeto que estou fazendo ao longo deste ano, que é pesquisar sobre as diversas religiões do Brasil, em formas de culto muito diferentes, e tentar entender como as pessoas vivem juntas com a espiritualidade hoje em dia.

BG: O homem que virá ao palco momentaneamente, e o Vincent irá apresentá-lo, é um dos participantes de um de seus vídeos passados. Quando você filmou um vídeo com ele?

VM: Eu acho que quatro anos atrás, na minha primeira viagem.

BG: Então foi uma das suas primeiras ao Brasil. 

VM: Foi numa das minhas primeiras no Brasil, sim. Eu filmei-o em Recife, no lugar de onde ele vem.

BG: Vamos apresentá-lo. Quem estamos esperando?

VM: Eu vou falar só um pouco. É uma grande honra para mim receber no palco um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos. Por favor, recebam Naná Vasconcelos.

Naná Vasconcelos: Vamos à selva!

 

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