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Oásis

Salve-se quem puder

Escritora e jornalista sueca, matriarca de toda uma famlia os Palmers - ligada mdia escrita, falada e televisiva, a autora escreveu ao 247 alguns comentrios sobre a crise na Europa atual

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por Anne Palmers

A família européia está aterrorizada por ter de cobrir os rombos produzidos por alguns dos seus parentes – os da ala considerada irresponsável em matéria de gastos domésticos. A formiga coletiva teme ser obrigada a saldar as contas da cigarra esbulhadora. Mas como sobram apenas três membros da Comunidade com as contas em ordem, Suécia, Bulgária e Estônia, parece impossível escapar-se à quebradeira geral.

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Grécia, Irlanda e Portugal são os países com o pior controle de suas finanças. Espanha, Bélgica e Inglaterra estão na fila logo atrás, em companhia dos estados membros do Leste. A Alemanha ainda desfruta de uma mesa farta, disposta segundo as regras.

Dinamarca e Finlândia respiram fundo. Sob condições normais costumavam ter economias estáveis. A Suécia, graças a um rigoroso controle das finanças estatais, está com sua burra cheia de coroas suecas. Mas sua economia depende em grande parte do mercado de exportações em euro e dólares, o que significa que nem sequer esses certinhos do Norte devem ignorar as evoluções da economia global.

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Os esbulhadores empenharam a família européia em mais de 10 bilhões de euros. Apesar disso, os gregos dizem que não aceitarão medidas austeras por parte de seu governo, e respondem com a desordem pública. Os irlandeses desafogam sua ira contra os ingleses, os portugueses se sentem humilhados, e sobre o continente dança um fantasma amedrontador: os novos fascistas, vestidos com seus conhecidos trajes típicos, oferecendo-se para por as coisas em ordem à sua maneira. Há um cheiro de 1930 no ar.

Todos estão preocupados com as filas de desempregados em Madri, as frustradas donas de casa em Atenas e as famílias nativas ou de imigrantes, todas desamparadas, que não encontram nenhum refúgio em Paris.

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Os comandantes oficiais das finanças européias estão igualmente frustrados. Até agora as propostas de créditos a longo prazo para reduzir as dívidas dos países mais vulneráveis não conseguiram por freio aos distúrbios. Os povos endividados não parecem dispostos a apertar o cinto. Acusam seus políticos de corrupção e de má gestão, mudam os governos e aos novos que chegam faltam igualmente os meios para que, como num desejado passe de mágica, consigam por ordem na casa.

A Europa está prisioneira da turbulência da economia global. Os múltiplos encontros do mais alto escalão em busca de uma solução rápida não deram frutos. Os países endividados não têm capacidade política para enfrentar e vencer os trinta e tantos anos de amortizações com incremento ininterrupto dos juros. Choramingam e pedem que seus compatriotas lhes ajudem em sinal de solidariedade. Mas a maioria se nega a pagar os impostos da ajuda.

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Como foi que o continente mais próspero e melhor preparado chegou a esse ponto?

A família européia constitui uma significativa força global no comércio internacional. Ela contribui com cerca de 70% da ajuda para o desenvolvimento mundial, e seus conceitos de política ambiental e econômica exercem importante influência. Seu longo e antigo histórico de parentesco cultural e político a levou a se unir depois da última guerra mundial – precisamente para escapar de conflitos sociais e econômicos e para, enfim, usar as palavras em lugar dos canhões para solucionar problemas comuns.

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A União Europeia nasceu no berço da União Pan-europeia criada pouco depois da assinatura do tratado de paz em 1945. O último príncipe imperial austríaco, Otto von Habsburg, foi eleito presidente. Até o seu último respiro, ele se comprometeu com a prosperidade da União Europeia. Morreu aos 95 anos, no começo deste mês de julho, e será para sempre lembrado na história da Europa como “aquele que derrubou os muros”.

O príncipe organizou a 19 de agosto de 1989 um grande piquenique, num local deliberadamente muito próximo da fronteira Áustria-Hungria. Os húngaros tinham concordado, a pedido do príncipe, em deixar as portas abertas durante algumas horas. E assim, os seguidores de uma Europa aberta e unida puderam passar algumas frutíferas horas junto a austríacos e alemães do Leste.

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Foi o estopim. Centenas de alemães encerrados no Leste aproveitaram a oportunidade para escapar. Pouco depois, o Muro de Berlim foi derrubado pelos povos de ambos os lados.

Desde a caída do muro entre o Ocidente liberal democrático e os países comunistas, a família européia prosperou de maneira sem igual na história. Até 2008, quando ocorreu o crash da bolsa nos Estados Unidos.

Logo em seguida, a revelação da influência insalubre exercida por vários institutos financeiros internacionais nos mercados financeiros domésticos abriu os olhos dos povos europeus. Percebeu-se claramente que havia falta de líderes de alta integridade e conhecimento capazes de governar sem se deixar guiar apenas pelos seus próprios interesses.

Alguns membros europeus quiseram voltar a ser reis em suas próprias casas e, para além das fronteiras do livre movimento, várias nações esperam para serem aceitas como suficientemente boas para fazer parte da família.

Ora, a China que pague a conta! Este é o último grito a ecoar nas ruas e praças mediterrâneas. Ninguém gosta que os chineses vendam suas mercadorias a preço não competitivo e não tenham intenção de ajustar sua divisa ao dólar.

Mas não é o caso de apontar os chineses com o dedo, nem nossos vizinhos que moram para além de nossas fronteiras. Várias importantes regiões da China têm empréstimos pendentes à espera de serem pagos, empréstimos de até 3 bilhões de euros, sem nenhuma condição de fazê-lo.

Nesta quinta-feira, 21 de julho, quando termino de redigir este artigo, os líderes europeus estão reunidos em Bruxelas para uma última revisão da política de austeridade que será imposta aos europeus intimidados. O presidente do grupo de ministros das Finanças da zona do euro, Jean-Claude Juncker, acaba de dizer que o segundo pacote de ajuda à Grécia, recém aprovado, é o "final" e que cabe às agências de rating avaliar se ele representa um "défault" seletivo da dívida. "Precisamos estar à frente da curva, e não atrás", disse Juncker.

A dívida pública da Grécia alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O país se encontrou, então, com níveis de dívida acima dos admitidos para permanecer como membro da zona do euro. O governo grego tinha duas escolhas: sair do grupo e voltar a adotar moeda local ou apertar o cinto e pleitear um empréstimo internacional. Optou pela segunda.

O Leste devorou o seu dinheiro, o Oeste investiu em infraestrutura, e o resto do mundo sofrerá as consequências da dura competição entre ambos. Nos próximos anos (meses?), poderemos assistir a um dominó de quebradeiras. Salve-se quem puder.

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