Há 4 meses sem direção, Arquivo Público do Rio sofre com abandono
Memória da ditadura militar está ameaçada
Por Ricardo Porto*
A memória oficial do Estado do Rio está ameaçada pelo descaso do Governo Claudio Castro. Depois de uma reforma executada em 2023 no prédio do Arquivo Público, localizado na Praia de Botafogo, Zona Sul da capital, em que afirma ter gasto R$ 2,3 milhões, o governo estadual simplesmente vem deixando o arquivo acéfalo. O último diretor ficou cerca de 10 dias no cargo. Em janeiro, Victor Travancas convocou a imprensa, denunciou o péssimo estado do prédio e foi exonerado no dia seguinte. De lá para cá, os 40 funcionários comissionados atuam por sua conta e risco.
- Ele mandou a gente ficar em casa, não disse o motivo, chamou a imprensa, fez um escândalo e foi mandado embora. Não preparou nenhum documento. – diz um funcionário que pediu para não ser identificado por medo de represálias.
Na segunda-feira, 28/4, o Deputado Estadual Flavio Serafini (PSOL) fez uma diligência no prédio. Verificou rachadura num dos pilares do prédio anexo e trechos do novo piso de porcelanato já partidos e quebrados. A visita constatou que, na reforma, nada foi feito para climatizar os arquivos físicos, expostos à temperatura ambiente e à umidade que, perto do mar, pode chegar a 90% em alguns momentos. O uso de desumidificadores não é suficiente.
Serafini, o deputado Yuri Moura (PSOL) e a deputada Dani Balbi (PCdoB) estão liderando um movimento na Assembleia Legislativa do RJ para pressionar o Governo do Estado a não apenas indicar um novo diretor para o APERJ, mas também incluir no orçamento uma política pública que valorize e preserve a memória do arquivo que existe desde 1931 e contém documentos que vão da Era Vargas, passam pela ditadura militar e chegam ate os dias atuais.
Na mesma segunda, 28/4, em reunião pública na ALERJ, antigos diretores do APERJ, como Jessie Jane Vieira de Souza e Paulo Knauss, denunciaram o desmonte das políticas públicas referentes ao acervo público do Estado.
- O Arquivo Público nunca teve um prédio dele. Sempre foi deslocado para prédios já existentes. A gente tinha a ideia de levar o APERJ para a sede do antigo DOPS, na Rua da Relação, justamente por estar vazio e por ser um ser um local que teve um importante acervo gerado naquele espaço. – disse Jessie Jane.
Uma das preocupações das organizações civis e dos pesquisadores é justamente com as fichas policiais e prontuários vindos do arquivo policial do antigo DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social, que funcionava no Centro e foi o principal local de tortura de presos políticos durante a ditadura iniciada em 1964.
- Sem arquivo não é possível a gente construir uma sociedade mais justa e mais igualitária e que não tenha essa política de Estado praticada contra os mais vulneráveis. – é a opinião do historiador Felipe Lott, sobrinho do Marechal Lott, e líder do Coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça.
Yuri Moura vai encaminhar as sugestões desta primeira reunião para a Mesa da ALERJ de maneira a exigir a indicação imediata de um novo diretor para o APERJ e verbas para a preservação da memória pública do Estado.
- A preservação e recuperação do APERJ tem a ver com o direito à memória, com o acesso à informação e com a construção de políticas públicas em defesa da cidadania. – disse o deputado.
*Ricardo Porto é jornalista, Mestre em Ciência da Informação e produtor de conteúdo audiovisual no Canal 60&Blau, no YouTube.
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