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Indicação ao Prêmio iBest incomodou Dom Odilo com a visibilidade de Lancellotti e teria sido o estopim para o veto às lives

Coluna aponta que restrições impostas ao sacerdote teriam relação com disputa por protagonismo e visibilidade na Igreja

"Twitteiro", dom Odilo pode ser 1º papa latino-americano (Foto: STEFANO RELLANDINI)

247 - A decisão do cardeal Dom Odilo Pedro Scherer de restringir a atuação pública do padre Júlio Lancellotti, incluindo a proibição de transmissões de missas ao vivo e a suspensão de atividades nas redes sociais, gerou forte repercussão nos bastidores da Igreja Católica. Embora apresentada oficialmente como uma medida de caráter institucional, a iniciativa tem sido interpretada por integrantes do clero como parte de um conflito interno envolvendo visibilidade, poder simbólico e projeção pública.

As informações foram divulgadas pelo colunista Alessandro Lo-Bianco, do portal iG. que ouviu fontes da cúpula eclesiástica contrárias à decisão. Segundo a apuração, o contexto da medida coincide com o crescimento da projeção nacional de padre Júlio, especialmente após sua indicação ao Prêmio iBest 2025, na categoria de Influenciador de Solidariedade, na qual figura entre os três mais votados.

De acordo com religiosos ouvidos pela coluna, a insatisfação de Dom Odilo não estaria relacionada a questões pastorais ou disciplinares, mas ao receio de que Lancellotti se tornasse um símbolo público da Igreja brasileira com alcance maior do que o da própria liderança arquidiocesana. Fontes relataram que o cardeal estaria incomodado com a visibilidade do sacerdote, sobretudo após menções positivas às suas ações sociais em instâncias próximas ao Vaticano, repercutidas por veículos da imprensa nacional.

“O cerne dessa movimentação não é a pastoral, mas sim a tentativa de frear a projeção midiática de Lancellotti antes que ele se tornasse um símbolo maior do que a própria liderança de Dom Odilo”, afirmaram fontes citadas por Lo-Bianco. Segundo esses relatos, o reconhecimento externo — especialmente a indicação ao iBest — teria intensificado conversas internas sobre a necessidade de “recalibrar” a exposição pública do padre.

A votação popular do Prêmio iBest teve início em 24 de novembro de 2025 e segue até 9 de janeiro de 2026, com a cerimônia de premiação prevista para março. Nesse período, a presença de padre Júlio entre os nomes mais votados da categoria teria ampliado o desconforto na hierarquia local, segundo a coluna.

Ainda conforme a apuração, pessoas próximas ao cardeal relataram que Dom Odilo teria manifestado preocupação com a possibilidade de outra figura se tornar o principal rosto público da Igreja. Entre as falas atribuídas ao cardeal, estaria a avaliação de que “não podia permitir que outra figura se tornasse o rosto público da Igreja, com direito a premiação de influenciador sem permissão e direcionamento da Igreja”. As mesmas fontes interpretam a postura como um temor de perda de protagonismo perante a opinião pública.

Religiosos ouvidos avaliam que a medida, classificada oficialmente como um “recolhimento”, tem caráter de retaliação e controle de narrativa, mais do que de proteção institucional. Para esses interlocutores, a tentativa de limitar a atuação pública de Lancellotti ocorre justamente no momento em que ele alcança reconhecimento nacional por mais de quatro décadas de trabalho junto à população em situação de rua.

Apesar das restrições, integrantes do clero afirmam que a trajetória do sacerdote dificilmente será interrompida. Segundo a avaliação interna relatada à coluna, a ordem “pode até temporariamente calar o microfone de Júlio Lancellotti nas redes, mas não é isso que vai interromper sua trajetória”.

A controvérsia evidencia, segundo a análise de Alessandro Lo-Bianco, uma disputa crescente por relevância midiática dentro da Igreja Católica brasileira, em um cenário no qual a atuação pastoral se cruza cada vez mais com engajamento digital, premiações públicas e reconhecimento fora dos limites tradicionais do púlpito.

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