Mais de 40 entidades defendem padre Júlio após decisão da Igreja em São Paulo
Organizações alertam para impacto social de restrições às atividades do religioso em São Paulo
247 - Mais de 40 organizações que atuam diretamente com a população em situação de rua em São Paulo se mobilizaram contra a decisão do cardeal arcebispo da capital paulista, dom Odilo Scherer, que determinou a suspensão das transmissões de missas e das atividades do padre Júlio Lancellotti nas redes sociais. A iniciativa foi formalizada por meio de uma carta enviada nesta terça-feira (16), na qual os coletivos pedem a revisão da medida e destacam seus efeitos sobre redes de solidariedade e ações de acolhimento aos mais pobres.
No documento, as entidades afirmam que a limitação da manifestação pública do padre compromete não apenas sua atuação individual, mas também o trabalho de voluntários e coletivos engajados no enfrentamento da pobreza extrema na cidade. Segundo o texto, a medida afeta diretamente a articulação de iniciativas sociais que dependem da visibilidade e do diálogo público promovidos pelo religioso.
As organizações ressaltam que a decisão pode ser interpretada como um obstáculo à livre circulação de vozes comprometidas com a defesa da população em situação de rua. O argumento central é que o impacto social da determinação ultrapassa o âmbito religioso, atingindo ações de assistência, mobilização comunitária e o debate público sobre exclusão social em São Paulo.
O cardeal dom Odilo Scherer ainda pode decidir pela retirada do padre Júlio Lancellotti da paróquia onde atua há cerca de 40 anos, no bairro da Mooca, ainda neste ano. Diante da orientação recebida, o religioso afirmou que encara o momento como um “tempo de recolhimento” e declarou que irá obedecer à decisão da arquidiocese.
A articulação em defesa do padre é liderada pelo Instituto GAS, organização não governamental que atua há dez anos no atendimento direto à população vulnerável em ruas e favelas da capital paulista. Parceiro histórico de padre Júlio, o instituto também é fundador dos movimentos Na Rua Somos Um e Solidariedade Não É Crime.
Na carta, os signatários afirmam que o apelo não questiona a autonomia da Igreja Católica, mas se concentra nas consequências sociais da decisão. As entidades pedem que princípios como diálogo, misericórdia e compaixão orientem uma eventual reavaliação da medida por parte da arquidiocese de São Paulo.
Além do envio do documento, os movimentos convocaram lideranças e voluntários das mais de 40 organizações para uma missa celebrada por padre Júlio no próximo domingo (21), às 10h. A celebração é descrita como uma demonstração pública de apoio ao religioso e à continuidade de sua atuação junto à população em situação de rua.
Segundo as entidades, padre Júlio Lancellotti é uma das figuras mais conhecidas na defesa dessa população em São Paulo, com reconhecimento que ultrapassa o campo religioso e alcança universidades, organizações civis e uma parcela expressiva da sociedade paulistana.
Entre as organizações que assinam a carta estão Instituto GAS, Aliados do Bem, Amigos da Rua e Seus Pets, Anjos da Cidade, Anjos da Leste, Banho de Amor, BibliAspa, Cuida SP, Da Rua Dando Sopa, Médicos do Mundo, SP Sem Fome, além de dezenas de outros coletivos e iniciativas sociais voltadas ao acolhimento e à proteção da população em situação de rua.



