Ídolo do Galo, Reinaldo narra perseguição sob a ditadura: "fui aniquilado profissionalmente"
Ex-atacante relata, em entrevista à TV 247, repressão, censura e impacto psicológico por posicionamento político durante o regime militar
Em uma conversa emocionada com o “Denise Assis Convida”, que vai ao ar na TV 247 no domingo (14), às 12h, Reinaldo revela, por exemplo, que foi Telê Santana o responsável pela sua não ida à Copa da Espanha, quando o Brasil, com um time estelar, saiu derrotado “por ele mesmo, pela arrogância da equipe”, analisa. Segundo ele, “Telê era um conservador, reacionário”
Um dos maiores ídolos da história do Atlético Mineiro, o ex-jogador Reinaldo voltou a relatar publicamente os episódios de perseguição que sofreu durante a ditadura militar brasileira, período em que se destacou não apenas pelo talento dentro de campo, mas também por sua postura política. Em entrevista, ele descreveu o ambiente de repressão imposto pelo regime e os efeitos diretos que isso teve sobre sua carreira e sua vida pessoal.
As declarações foram dadas em entrevista à jornalista Denise Assis, na TV 247, na qual Reinaldo detalhou como o contexto autoritário ultrapassava a esfera política e atingia diretamente cidadãos comuns, artistas e atletas. “Aparelhagem existia para matar os próprios brasileiros”, afirmou, ao descrever o funcionamento do regime militar e seu projeto de repressão sistemática.
Segundo o ex-atacante, o gesto de comemorar gols com o punho erguido — que se tornaria uma de suas marcas — foi interpretado pelas autoridades como um ato de afronta. “Eu era artilheiro no campeonato brasileiro, e fazia esse gesto e dei essa entrevista, para que os militares voltassem aos quartéis”, disse. Ele ressaltou que não se tratava de militância orgânica: “Não era militante, era simplesmente um gesto”. Ainda assim, explicou o significado político atribuído a ele: “É um gesto socialista, progressista, que passei a sofrer tanta perseguição com isso”.
Reinaldo afirmou que passou a ter consciência clara da vigilância e das retaliações. “Eu já tinha certeza de que estava sendo perseguido”, relatou, mencionando episódios de intimidação direta. “As autoridades me pressionaram a não fazer o gesto se fizesse o gol”, contou, ao lembrar da tentativa de cerceamento de sua expressão nos gramados. Em um dos episódios mais simbólicos, revelou: “Um coronel uma vez não me deixou entrar em campo”.
A repressão, segundo ele, não se limitava a advertências. “O projeto da ditadura era eliminar qualquer um que pensava diferente”, afirmou. Reinaldo relatou que buscou provas documentais dessa perseguição anos depois: “Sofri uma perseguição severa, fui buscar os documentos graças à CNV [Comissão Nacional da Verdade]”. Ele também citou o contexto social e cultural da época, marcado por influências internacionais: “Sofríamos também a influência do movimento black, dos Panteras Negras, vindo do racismo”.
O impacto pessoal foi profundo. “Foi muito desgaste emocional, físico e psicológico”, disse o ex-jogador, ao descrever os efeitos da repressão contínua. As consequências atingiram também sua família. “As calúnias e desrespeitos machucam, mas eu resisti, vendo o sentimento da minha mãe foi muito doloroso dar essa tristeza para ela”, afirmou. Ao sintetizar o efeito sobre sua trajetória profissional, foi direto: “Profissionalmente fui aniquilado”.
Reinaldo também comentou sobre a Seleção Brasileira e a ausência na Copa do Mundo de 1982. Segundo ele, houve interferência política no processo. “O que culminou na minha não ida à Copa de 82 foi o Telê, havia uma grande ingerência, e se ele não obedecesse sofreria retaliações, e sempre teve um comportamento bastante reacionário”, declarou. Para o ex-atacante, o resultado esportivo daquele Mundial também refletiu esse ambiente: “Foi uma grande decepção, porque em 82 perdemos para nós mesmos”.
Ao relembrar o período, Reinaldo defendeu a preservação da memória histórica e fez um alerta sobre o autoritarismo. “Devemos de uma vez por todas afastar o fantasma da ditadura”, afirmou, reforçando a necessidade de que episódios como os que viveu não se repitam no país. O “Denise Assis Convida” vai ao ar na TV 247, no domingo (14), às 12h. Assista:

