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"Santuário do crime": domínio do Comando Vermelho atrai criminosos de outras regiões

Alianças entre criminosos dificultam as ações policiais. Leia também um pouco sobre a história e o poderio econômico da facção que surgiu no Rio

Muro pixado na Zona Norte do Rio com alusão ao Comando Vermelho (Foto: Reprodução)

247 - A ação policial que resultou na morte de mais 130 pessoas, sendo a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, é consequência de fatores como a “alianças” que se formando entre a facção Comando Vermelho (CV) e criminosos de outros estados. A operação com mais de 2,5 mil agentes de segurança ocorreu nos Complexo da Penha e do Alemão, zona norte da cidade do Rio.

De acordo com o secretário da Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, a aliança de criminosos do estado com a facção do Rio criou um novo obstáculo para o combate ao crime organizado.

“As principais lideranças se deslocam da Bahia, e hoje estão homiziadas nas comunidades do Rio de Janeiro, barricada, dificuldade de acesso, Penha, Rochinha. Ali acaba tendo um bunker de dificuldade de atuação”, disse Werner ao Metrópoles.

“Na Bahia, esse movimento de aliança foi intensificado em 2022. A partir daí o modus operandi das facções cariocas surge com mais força na Bahia, trazendo essa beligerância, a demonstração de força, traz a questão da crueldade em relação a outra facção. A gente começa a identificar imagens, simbologia, a tentativa de colocar barricada, a gente começa a ver a extorsão de comerciantes. Replicando tudo o que já acontece de forma consolidada no Rio de Janeiro”.

Estatísticas

Dos mais de 130 mortos, moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levaram nesta quarta (29) pelo menos 74 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Ruca.

De acordo com pesquisa divulgada no ano passado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado, o Comando Vermelho foi a única facção criminosa a expandir seu controle territorial de 2022 para 2023, na Região Metropolitana do Rio.

Com o aumento de 8,4%, o CV ultrapassou as milícias e passou a representar 51,9% das áreas controladas por criminosos na região. A facção retomou a liderança de 242 quilômetros quadrados (km²) que tinham sido perdidos para as milícias em 2021. Naquele ano, 46,5% das regiões sob controle criminoso pertenciam às milícias e 42,9% ao Comando Vermelho.

Comando Vermelho: história

Nascido nos anos 70 no Rio, o Comando Vermelho é a principal facção criminosa do Brasil, ao lado do Primeiro Comando da Capital (PCC), criado em 1993 no estado de São Paulo. O CV tem ramificações em mais de 20 estados brasileiros.

Inicialmente, o Comando Vermelho foi criado com o nome de “Falange Vermelha”, por William da Silva Lima, conhecido como “professor”. A ideia era era fundar uma organização para combater a tortura e os maus tratos nos presídios.

A facção aumentou a rede varejista de drogas nas favelas do Rio entre 1981 e 1986. Um dos motivos para a ampliação do CV no comércios foi uma medida anunciada pelo governo do Rio, em 1983, quando foram suspensas as ações policiais nas favelas do estado. Em 1985, o CV detinha 70% de todos os pontos de venda em um grande e lucrativo mercado. Em 1994, ocorreu o que, segundo criminosos, teria sido uma das maiores tradições no mundo do tráfico.

Conhecido como Uê, Ernaldo Pinto de Medeiros assassinou Orlando Jogador, líder do CV no Complexo do Alemão. O motivo foram divergências sobre como operar o tráfico.

Após o homicídio, Uê criou os Amigos dos Amigos (ADA) no Morro do Adeus, vizinho do Alemão, e começou uma batalha que vai durar até setembro de 2002. A violência entre o CV e a ADA foi revista depois que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) se instalaram nos morros do Rio de Janeiro.

Os antigos inimigos se uniram após a queda no movimento de drogas. O Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro, para onde fugiu grande parte dos traficantes expulsos, são considerados quartel-general do CV.

Poderio econômico

A pesquisa Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil apontou que as facções como CV e PCC movimentaram R$ 146,8 bilhões em 2022 com a comercialização de combustível, ouro, cigarros e bebida.

A movimentação financeira do tráfico de cocaína no mesmo período foi estimada em R$ 15 bilhões. As estatísticas foi divulgada no jornal O Estado de S.Paulo. Assim como o CV, o PCC tem atuação em mais de 20 estados brasileiros.

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