Eventual venda da Amil para grupo financeiro pode esbarrar em órgãos reguladores
Preocupação do governo é a preservação da assistência médica de qualidade, o que pode contrariar a lógica de ganhos de curto prazo do setor financeiro, em especial da Bain Capital
247 – A venda da Amil, uma das principais empresas de planos de saúde e odontológicos do Brasil, está no centro de uma complexa negociação que envolve vários atores e desperta preocupações governamentais. O grupo norte-americano United Health Group (UHG), atual proprietário da Amil, está negociando sua venda, com um faturamento anual de cerca de R$ 27 bilhões. Entre os interessados na compra estão a família do fundador Edson Bueno, o empresário José Seripieri Júnior, o empresário Nelson Tanure, e fundos de investimento como Bain Capital, Advent e Coruja Capital.
O processo se encontra na reta final e esta operação vem sendo tratada como a maior disputa corporativa do Brasil em 2023. Nesta última semana, despertaram atenção especial os movimentos do fundo financeiro Bain Capital, que tem atuado em parceria com o executivo Irlau Machado Filho, que trabalhou no grupo Intermédica, adquirido pela Bain e depois vendido para a Hapvida. Irlau e a Bain estão sendo assessorados pelo banco Itaú, no Brasil, e nesta última semana, estiveram duas vezes com a executiva Aline Schellhas, CEO da Amil, discutindo detalhes do negócio. Na última terça-feira, um jantar reuniu Irlau, executivos da Bain e do Itaú.
O nome do vencedor da disputa deve ser anunciado nesta segunda-feira 18. Mas a eventual venda para um grupo financeiro preocupa o governo do presidente Lula. O motivo é o fato de uma grande empresa de saúde continuar nas mãos de estrangeiros, sendo gerida por uma lógica financista e de curto prazo. Um dos principais pontos de preocupação é a preservação da assistência médica de qualidade. O governo, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está atento ao processo, especialmente devido ao impacto significativo da Amil no mercado de saúde brasileiro. A Amil possui uma rede extensa, incluindo 31 hospitais e 28 clínicas, atendendo a 5,4 milhões de usuários, predominantemente da classe média.
A venda da Amil levanta questões sobre a continuidade da qualidade do serviço e o risco de uma abordagem mais voltada para o lucro, especialmente se o comprador for um fundo de investimento com uma lógica mais financeira do que médico-assistencial. O governo e os órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), acompanham o processo e estão particularmente preocupados com a experiência e o compromisso dos potenciais compradores com a saúde suplementar brasileira.
A ANS já demonstrou preocupação com transações semelhantes no passado, vetando a transferência do controle de operações de saúde para empresas com pouca experiência no setor (relembre em reportagem anterior sobre o caso). O caso da Amil está sendo monitorado de perto para garantir que a venda não apenas resolva questões financeiras, mas também preserve a qualidade da assistência médica e a acessibilidade dos serviços. Seja quem for o vencedor, a venda será será sujeita a um escrutínio rigoroso para assegurar que os interesses de saúde dos brasileiros sejam mantidos como prioridade.
