Macau já atrai mais turistas ligados ao lazer e compras do que ao jogo
Pesquisa mostra que, embora Macau dependa de visitantes da China continental, o turismo de lazer e compras já supera o interesse exclusivo pelo jogo
247 – Um estudo conduzido por Zhonglu Zeng, do Instituto Politécnico de Macau, Catherine Prentice, da Universidade de Tecnologia de Swinburne (Austrália), e Brian Edward King, da Universidade de Vitória (Austrália), publicado pela John Wiley & Sons Ltd. no International Journal of Tourism Research, lança nova luz sobre o perfil e as motivações dos visitantes de Macau — tanto os provenientes da China continental quanto os de Hong Kong.
A pesquisa, intitulada “Apostar ou não apostar? Percepções sobre Macau entre visitantes da China continental e de Hong Kong”, identifica uma mudança importante no comportamento dos turistas chineses: o jogo, embora central à imagem de Macau, já não é a motivação predominante para a maioria dos visitantes.
O novo rosto do turismo em Macau
Com 35 cassinos ocupando uma área inferior a 30 km² e receitas que superam as de Las Vegas desde 2006, Macau consolidou-se como o principal centro de jogos do planeta. Mas, segundo o estudo, menos da metade dos turistas chineses apostam, e apenas 9% dos que jogam indicam o jogo como sua principal razão para visitar o território.
A maioria viaja por lazer, férias ou compras. A diferença é ainda mais nítida entre os visitantes de Hong Kong: apenas 27% apostam, e a motivação predominante é visitar amigos, desfrutar da culinária local ou fazer breves escapadas de fim de semana.
Esses dados sugerem que Macau, tradicionalmente vendida como a “Las Vegas da Ásia”, vem se transformando em um destino de lazer e entretenimento mais amplo, onde o jogo é apenas um dos componentes da experiência turística.
O papel da teoria da adaptação
Os autores recorrem à teoria da adaptação para explicar por que o entusiasmo inicial com os cassinos tende a diminuir com o tempo. Visitantes de regiões próximas, como Guangdong e Hong Kong, já teriam superado a fase de “novidade” e se mostrado menos propensos a jogar, enquanto os turistas das províncias mais distantes, em suas primeiras visitas, ainda demonstram maior curiosidade e envolvimento com o jogo.
Essa constatação tem implicações diretas para o marketing e o planejamento estratégico dos operadores de cassinos: é preciso diferenciar campanhas voltadas à aquisição de novos clientes — vindos de províncias distantes — das estratégias de retenção para mercados maduros como o de Hong Kong.
Turismo além do cassino
A pesquisa evidencia também duas forças paralelas moldando o futuro de Macau. De um lado, a atração contínua dos cassinos como símbolo de status e liberdade — especialmente entre turistas da China continental que, em seu país, enfrentam restrições severas ao jogo. De outro, a emergência de um público interessado em lazer, gastronomia, compras e experiências culturais, impulsionado pelo crescimento da classe média chinesa e pela diversificação econômica do território.
O estudo recomenda que as autoridades e os operadores locais ampliem o foco além do jogo, investindo em infraestrutura turística, eventos culturais e comércio de luxo. Essa diversificação seria essencial para garantir sustentabilidade em um mercado saturado e altamente competitivo, que inclui novos destinos de apostas na Coreia do Sul, Filipinas e Malásia.
Desafios e oportunidades
Entre as recomendações dos autores, destacam-se:
- Desenvolver estratégias distintas para públicos de Hong Kong e do continente, respeitando suas motivações e níveis de familiaridade com o destino;
- Apostar na segmentação demográfica e psicográfica, já que os jogadores tendem a ser homens, casados e autônomos, enquanto os não jogadores são, em sua maioria, mulheres com formação universitária;
- Aumentar o tempo médio de permanência dos visitantes, estimulando pernoites e experiências complementares ao jogo.
O estudo também ressalta limitações, como a ausência de dados sobre viajantes que utilizam o aeroporto e sobre os chamados whales — apostadores de altíssimo poder aquisitivo, que respondem por parte significativa das receitas dos cassinos.
Ao comparar visitantes da China continental e de Hong Kong, o estudo revela duas fases distintas da relação do público chinês com Macau: uma de fascínio inicial, associada à abertura e à novidade do jogo, e outra de adaptação, em que o lazer, as compras e a culinária passam a ser o principal atrativo.
Mais do que um retrato estatístico, a pesquisa aponta o caminho para uma nova identidade turística de Macau, em que o brilho dos cassinos convive com o desafio de reinventar o destino para além das apostas.





